23 | Nosso Lugar

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"E, garota, você se apaixona de novo

Você me diz que está tudo acontecendo de novo

Estamos correndo ao luar

Você poderia me mostrar o caminho de novo?" Chase Atlantic – Moonlight

Você poderia me mostrar o caminho de novo?" Chase Atlantic – Moonlight

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Capítulo 23

Nosso lugar. Antes esse lugar pertencia a mim e a Maisa, e agora pertence a mim e a Mia. Sei que Maisa gostaria que Mia frequentasse a rua abandonada. Era o nosso lugar de conforto, onde sempre poderíamos deixar as nossas frustrações de lado, e acho que Mia precisa desse lugar tanto quanto eu.

Ela acha que eu não percebo o jeito que ela fica quando eu toco nela, mas percebo. Algo aconteceu com ela, mas sei que na hora certa ela vai querer compartilhar comigo. Até lá, esse vai ser o nosso lugar, para que ela possa sentir algum conforto e ficar bem.

Hoje já é sábado, são duas da tarde e eu estou esperando-a sentado no único balanço que continua funcionando. O vento bagunça meus cabelos e mesmo sozinho, esse lugar ainda me traz paz. Olho para o balanço vazio ao meu lado e imediatamente minha mente me transporta para um momento com a minha irmã...

Maisa e eu viemos ao nosso lugar, não sei bem por que ela insistiu que eu viesse junto. Poxa, eu estava jogando videogame! Maisa se senta em um dos balanços abandonados e eu me sento no outro, ao seu lado. Minha irmã mais velha anda meio diferente esses últimos dias, distante é um dos fatores.

Ela se balança delicadamente e seus cabelos castanhos voam conforme balança. O silêncio que se instala é desconfortável. Normalmente o silêncio que fica entre nós é reconfortante, mas esse não, e eu sei que tem algo de errado.

— Maisa, o que houve? – pergunto. Além dela estar distante, sua aparência não é uma das melhores. Olheiras profundas, cabelos sempre em um rabo de cavalo, o que ela odeia, e agora deu para usar suas roupas velhas. Maisa é sempre toda cuidadosa, estilosa, não sei o que está havendo.

— Nada – ela responde depois de um tempo, mas sei que está mentindo.

— Você pode me contar – afirmo, esperando que ela me diga logo o que tanto a incomoda.

— Eu sei que posso, mas não quero – ela resmunga, encarando os próprios pés afundarem na areia do parque.

— Seja lá o que estiver passando, podemos tentar resolver juntos – insisto, porque quero que ela se abra para mim.

Finalmente seus olhos castanhos encontram os meus e ela abre um sorriso. Mas é um sorriso triste.

— Eu estou bem – outra mentira. Desisto de tentar conversar com ela e me levanto do balanço, saindo dali para que ela fique em paz e sozinha. Quando ela voltar para casa, estará melhor.

Eu só não sabia que aquela seria a nossa última vez nesse parque abandonado. Sinto meus olhos molhados e passo a manga da blusa no rosto, limpando as lágrimas que acabaram caindo. Segundos depois, vejo a silhueta de Mia se aproximar.

Ela se senta no balanço que estragou no dia anterior e dessa vez, não se balança, apenas fica sentada. Apesar de estar quebrado, ela consegue ficar sentada de um jeito desengonçado.

— Está tudo bem? – ela me pergunta. De imediato, decido negar, mas antes que eu faça isso, penso melhor e decido contar para ela o que anda me incomodando. Talvez assim ela se abra comigo também.

— Eu estava pensando na minha falecida irmã – digo num suspiro. – A última vez que vim aqui com ela, ela estava muito mal, mas não queria me dizer o porquê. – explico.

— Sinto muito... – ela diz, sendo sincera.

— Eu tenho esse defeito de sempre achar que posso ajudar todos a minha volta, quando na verdade, não consigo ajudar nem a mim mesmo – confesso. Mia estica se braço e coloca sua mão sobre a minha, acariciando a mesma.

— Não se pode salvar quem não quer ser salvo – suas palavras são profundas e sinto que ela quer dizer algo a mais, mas não me diz mais nada.

— Está dizendo que a minha irmã não queria ser salva? – questiono, sendo educado.

— Agora nunca saberemos – Mia diz, suspirando pesado.

Ela tem razão. Talvez minha irmã não quisesse ser salva ou achasse que não precisava ser salva. Mas se ela tivesse vindo até mim, eu faria de tudo para ajudá-la.

— Sabe do que eu tenho medo? – questiono para Mia e ela levanta as sobrancelhas.

— Do que? – ela me pergunta.

— De não conseguir parar de beber álcool – admito, pela primeira vez em voz alta. A verdade é essa, e sinto que posso dizer qualquer coisa para Mia, porque ela me deixa confortável.

Sua feição muda de triste, para surpresa em questão de segundos.

— Não sabia que você bebia tanto assim – ela admite, olhando em meus olhos.

— Foi como eu consegui fazer para continuar de pé depois que a minha irmã morreu, mas agora quero parar. Eu tento, na verdade, faz algumas horas que não bebo – digo, pela primeira vez me sentindo confortável com esse assunto.

— Há quantas horas? – ela pergunta.

— Desde que saímos ontem eu não bebi um gole de álcool – afirmo. Mia se levanta abruptamente e me encara, cruzando os braços acima do peito.

— Você tem que parar de beber por você mesmo – sua voz é gentil.

— Eu sei, estou tentando – digo, suspirando pesado.

— É sério, Jonathan! – Mia me incentiva e eu me levanto do balanço, ficando quase cara a cara com ela.

— Eu estou tentando – repito. – Por que está preocupada comigo? – pergunto, já sentindo meu coração se acelerar.

— Porque você é o meu amigo – ela diz e desvia os olhos dos meus, claramente desconfortável.

— E você é a minha, então, se tiver algo que eu possa fazer por você, fico satisfeito – digo sorrindo.

Mia fica em silêncio e volta a se sentar no balanço. Faço o mesmo, deixando que o vente leve os meus pensamentos ruins para longe. O sol está impecável como sempre em StarMoon, o vento que bate em nossos rostos é agradável e o céu está azul como os olhos de Mia.

O silêncio que permeia o ar é agradável e quando olho para Mia, vejo que sua mente está divagando. Observo seus lábios rosados, suas sobrancelhas grossas, seus olhos azuis e seu nariz levemente empinado. Se ela soubesse o quanto acho ela bonita...

Ela abaixa a cabeça e fica mexendo em seus próprios dedos. Passo os olhos lentamente pelo seu corpo. Mia está usando uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camiseta da cor roxa, mas que acentua bem os seus peitos. Deus, ela realmente é muito linda, ela sabe disso?

— Você é muito linda, loirinha. Espero que saiba disso – digo, com uma necessidade estranha de dizer isso para ela. Mia levanta sua cabeça, encarando os meus olhos.

— Por que está dizendo isso? – ela me pergunta, com a voz levemente rouca.

— Porque é a verdade – dou de ombros. Ela abre um sorriso de canto, mas não diz mais nada.

Queria que ela tivesse os meus olhos para enxergar o quanto ela é bonita, do jeito que eu a vejo.

Depois Dela: Livro 2 De 2Onde histórias criam vida. Descubra agora