CAPÍTULO 50

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Somos feitos de ondas do mar &
poeira de estrelas.

Faith Marshall 

San Francisco, Califórnia 

 Acordei pela manhã me sentindo tão bem como quando fui dormir, o clima lá fora não havia mudado mas mesmo assim eu via como se o sol estivesse mais brilhante. Resolvi me dar o direito de tomar café da manhã fora de casa e sair pra tomar um ar para aproveitar pelo menos um pouco do dia.

 Havia mandado uma mensagem para Ayla, a chamando para que ela tomasse café da manhã comigo em alguma cafeteria. Fiquei feliz por ela ter aceitado e, para minha surpresa, ela também parecia animada e -possivelmente- curiosa sobre o que aconteceu ontem.

 Tinha tomado banho quando acordei, então apenas troquei o pijama que estava usando por uma roupa mais casual e arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo mais altinho, deixando duas madeixas ruivas caírem por meu rosto.

 Mandei uma mensagem para Ayla avisando que estava saindo de casa e peguei um táxi até o local que combinamos. Eu tinha sugerido uma cafeteria, mas no final combinamos de ir na praça de alimentação do shopping e depois eu iria ajudá-la a comprar algumas coisas que ela pretendia.

 Paguei o taxista e saí do carro. Dei uma rápida olhada no lado externo do shopping. Assim que entrei, suspirei aliviada ao perceber que não estava tão cheio quanto o de costume, apesar de ser um domingo de manhã.

 Usei a escada rolante para chegar no segundo andar e então comecei a caminhar até a praça de alimentação, meu olhar estava focado no chão que não percebi que havia alguém atrás de mim.

Dei um pulo de susto ao sentir mãos segurarem meus ombros pelas costas, quase gritei por socorro achando que estava sendo assaltada ou algo assim, mas escutei a gargalhada de Ayla e me acalmei um pouco. 

— Caralho, você quer me matar de susto? — Resmungo pondo a mão sobre o peito, me viro de frente pra ela que está com uma cara de diversão.

— Desculpa, eu não resisti. — Ela falou quase sem ar de tanto rir, me fazendo revirar os olhos. 

— Vamos comer logo. — Resmunguei, começando a andar em sua frente. Ayla secou as lágrimas do canto dos olhos e deu uma corridinha para me alcançar.

— Comer nada, eu quero saber como foi o encontro com meu irmão. — Ela trocou sua bolsa de mãos enquanto nos sentávamos em uma mesa livre na praça de alimentação. — Vocês se beijaram?? 

Senti minhas bochechas aquecerem levemente e desviei o olhar. — Não foi exatamente um encontro, Ayla. Acho que ele só me chamou porque estava curioso pra saber sobre "a bêbada da praia". — Ela deu uma risada e olhou pra mim.

— Você tá brincando, não é? Meu irmão é apaixonado por você desde o ensino médio. — Arregalei os olhos, podia sentir meu coração palpitar mais rápido. Do que ela estava falando?

— Quê? Eu não… eu nunca tinha visto ele antes. Nos conhecemos na praia. — Ela negou com a cabeça e me olhou de sobrancelha erguida.

— Vocês dois são tontos. Ele era da turma do 2° ano enquanto você era do 1° ano, ele sempre te olhava mas nunca teve coragem de falar com você e você também nunca falou com ele, nem demonstrou nenhum interesse. — Franzo a testa confusa, não conseguia me lembrar do meu ensino médio ser nada além de um monte de atividades e intervalos solitários. 

— Eu teria notado se tivesse alguém me olhando na escola e isso também não faz sentido, eu nunca vi o rosto dele nem ouvi seu nome antes. — Minha cabeça estava girando em torno de lembranças do ensino médio. Comecei a pensar sobre seu rosto em uma versão mais jovem e tímida, tentando encontrar alguém parecido em minhas memórias.

— É normal você não se lembrar, faz muito tempo desde o ensino médio. Petter também não se lembrava, mas eu percebi assim que te vi na cafeteria e resolvi dar uma de cupido. — Ela riu e eu fiquei parada a olhando, ainda em choque com as informações desconhecidas por mim. — Na verdade foi mais fácil do que eu pensava, vocês já haviam se encontrado na praia por um incrível acaso do destino, então eu só precisei de um empurrãozinho.

— Não consigo acreditar, meu deus isso é tão… sabe? — Murmurei olhando para um ponto fixo, estava começando a ter vagas memórias de um garoto mais jovem que me olhava às vezes durante os intervalos, mas nunca imaginei que esse garoto fosse Petter. Como que não me toquei disso antes? 

 Ayla deu uma risada. — Agora que você já sabe sobre o passado, fala logo sobre o encontro de vocês dois. Você não respondeu minha pergunta, vocês se beijaram?

 Balancei a cabeça para despertar um pouco dos devaneios e acenei negativamente. — Nós só fomos numa sorveteria, mas eu o chamei para ver o pôr do sol na praia, já que era bem pertinho de onde estávamos. Praticamente só foi isso, conversamos bastante e até que nos aproximamos um pouco, mas nada de beijo. — Seus ombros caíram em desânimo.

— Mas você gosta dele? Você sabe… como algo além de amizade. — Dou um sorriso involuntário, sem conseguir controlar minha expressão ao pensar nele dessa forma. Dei um sobressalto de susto ao ouvir o impacto de sua mão contra a mesa. — EU SABIA! Meu instinto nunca falha. Não só você mas Petter também tem esse mesmo brilho no olhar só de eu mencionar sobre o assunto. 

 Minha bochecha aquece novamente e eu balanço meus pés sob a mesa. — Que brilho? — Meu coração estava pulsando fortemente no peito só de pensar que ela estivesse certa. Eu não tenho palavras pra dizer o quanto me sinto feliz e esperançosa agora. 

— Você sabe muito bem. Esse brilho de paixão que ilumina os olhos quando vocês pensam um no outro.

Mordi o lábio inferior em nervosismo e olhei em seu rosto. — Mas como ele poderia estar apaixonado por mim? Foi como você disse, faz muito tempo desde o ensino médio e ele talvez não sinta mais nada. — Ela negou e deu uma risada fraca. 

— Você não sabe de nada, Faith. A paixão começa no desconhecido, mas para amar é preciso conhecer. — Meu rosto se iluminou, comecei a perceber onde ela queria chegar. —Você causou uma certa intriga no meu irmão, que se misturou com aquele sentimento nostálgico e atrativo do passado. É óbvio que ele ainda está apaixonado por você, mas talvez esteja negando para si mesmo. Mas não é nada que vários outros encontros futuros não possam resolver.

 Minha esperança aumentava a cada palavra que saia da boca de Ayla, eu comecei a pensar em tudo que ela falou e realmente fazia total sentido. Talvez eu estivesse pulando de alegria agora, mas a ficha ainda não havia caído completamente. 

 É tão…incrível pensar no que ela falou. Petter e eu sempre estivemos tão pertos um do outro e eu nunca saberia disso se ela não tivesse me contado. Na verdade, provavelmente eu nem saberia de absolutamente nada disso se não tivesse ido à praia naquela noite.

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