Capítulo III: Cappuccino

2 1 0
                                    

Sábado

O sol atravessava a porta da varanda e aquecia os meus pés naquele dia de chuva. Eu acabava de acordar abraçada com a Luna e tentei me soltar dela sem a acordar. Com sucesso consegui me levantar e ir até a porta da varanda, que por sinal era coberta, e a abri devagar para não fazer muito barulho, pude escutar agora com a janela aberta, a chuva que caía na varanda e escorria pelo chão, dessa vez não estava mais abafada. Decidi voltar e pegar meu celular que estava no chão da sala e me sentar na varanda, onde sempre deixava um conjunto de mesa e cadeira branco que sempre usava para estudar e/ou escrever. Passei para o lado da varanda e fechei a porta para não acordar a Luna, logo depois me sentei na cadeira, encima de uma das minhas pernas e fui olhar que horas da manhã já eram.

08:30

Eram 08:30, mas pareciam 5 da manhã, o céu estava tão nublado e chovia tanto que parecia que ainda iria amanhecer.

Se tinha uma coisa que eu quase nunca fazia era olhar a galeria do meu celular, sabe, eu nunca liguei tanto para o celular, aliás usava ele muito raramente, tanto que nunca senti necessidade de trocar eles diversas vezes como os adolescentes e adultos modernos e com boa condição monetária, em sua maioria, fazem. Mas eu realmente queria ver o que eu tinha de lembranças nesse celular, o que realmente me fazia sentir pertencente à algum lugar ou coisa, talvez achasse o que eu tanto procurava nos últimos meses, ou quem sabe fossem minhas últimas esperanças, mas a única coisa que queria naquele momento era saber o que não me deixava me perder por completo ainda.

Era a galeria mais bagunçada de todas, nem uma criança deixaria tantas coisas diferentes em uma pasta só sem um título, mas aqui estava a Ester! Sempre desse jeito, meia desorganizada com coisas que outras pessoas se importariam tanto. 

Sabe, é como você viajar para um país estrangeiro sem saber falar a língua, estava perdida entre fotos da tela do celular, fotos de coisa que achava na rua e de animais que passeavam na praça perto da universidade, era como se nada se encaixasse e nem fizesse questão de tal, eu nunca entendi o quanto eu conseguia ser tão comprometida com algumas coisas e com outras nem me importava. Passando pelas mais de 6 mil imagens que tinham no meu celular, pude achar algumas fotos antigas, fotos do meu pai, fotos do meu aniversário de 12 anos, fotos do meu peixinho no aquário, o dia que fui pra praia quando era pequenininha, fotos com o meu irmão Luca, e por fim... uma foto da minha mãe e uma foto do medalhão que ela me deu de aniversário de 20 anos, e isso só faz três meses... Em contraste vi fotos minhas com a Luna, fotos de um concerto que nós fomos quando tínhamos 18 anos, foi uma orquestra que fez uma apresentação aqui na cidade e que podemos ir, sempre tivemos essa curiosidade, e foi espetacular! Foi um dia muito legal, e seria um dos dias que queria reviver de novo algum dia, a sensação eufórica de estar num espaço cheio e onde todos apreciam a música em sua forma mais organizada e orquestrada, igual uma dança, é simplesmente uma das melhores sensações que já senti.

Eu talvez não devesse me prender tanto em motivos e razões de estar, mas sim focar no que eu sou e pra onde eu vou, sem olhar tanto para trás, mas me pego sempre na mesma questão: Como não viver de passado se é ele que constitui o meu futuro? É uma pergunta que nunca consigo responder para mim mesma, mas tento a todo custo encontrar as respostas que satisfaçam o peso da minha consciência e pesem menos na minha cabeça.

Cerca de meia-hora depois a Luna acordou e me procurou pela casa até chegar na varanda.

Coffee DropsOnde histórias criam vida. Descubra agora