Maridinho

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E novamente estou esparramado em cima da cama por aqueles lençóis brancos a observando, tão bonita, a mesma esta ofegante e com um sorriso cansado no rosto.

— Maridinho!

Sorrio pra mesma.

– Não,  você e uma esposinha muito malvada, o seu Maridinho está cansado, você quase me matou.

A mesma solta um risada e rola até mim e beija meu rosto e logo depois meus lábios.

–Já estou ansiosa para irmos para a fazenda, como a Iza esta? Ela cresceu e está tão linda, como ela é?

Eu sorrio para a mesma e faço carinho em seu rosto.

–Incrível,  ela é incrível,  continua a mesma, apenas cresceu, continua aventureira e ama a cachoeira, só que é muito teimosa, já é a segunda vez que ela quase morre lá, e continua indo.

–Ela já está namorando?
O mesmo me olha e arqueia a sobrancelha.

–Nunca, ela nunca vai namorar, enquanto Tadeu fica de guarda com a espingarda, eu fico de tocaia com a pistola, não vou deixar nenhum pilantra safado se aproxima da minha garotinha.

Veja seus labios se contraírem em um belo sorriso.

–Um pilantra safado conseguiu me conquistar em uma balada...

–E diferente, a Iza vai ser freira, você não, você e minha.

O beijo novamente, eu nunca enjoou.

–Ainda bem que ela tem uma tia pra ajuda-la.
Reviro os olhos.

–Ela sempre perguntava sobre você.

–E o que dizia?

–Que precisava de um tempo.

–Me desculpe!

–Tudo bem amor, aconteceu, o que importa e que estamos juntos agora. Amor?

–O que?

–Vamos.

A mesma pula em cima de mim feliz.

–Não esquece que temos que passar para pegar a Julie... acho que finalmente ela e o Tadeu vão se entender.

–Graças a Deus, não aguento mas ele solteiro.

–Nem você é nem a Iza.

Rimos.

IZA

Maio 2020

–Tia Ester?

–Sim?

–Posso te perguntar uma coisa?

–Claro!
–Como se sentiu, quando foi embora de casa?

–Bem.... acho que me senti bem, por incrivel que pareça, era como se estivesse tirando um peso de minhas costas, um fardo... A minha mãe, nunca foi boa ou talvez eu não fui boa com ela, ela sempre foi gentil com todos, ela sabia fingir muito bem, na frente de todos eu era a sua princesa, por trás eu era, digamos que nada...

–Você a ama? Ou a amava?

–Amar, amar e uma palavra muito forte querida... eu gostava dela, mas não a amava ou gostava o suficiente,  para dar minha vida a ela. Ela era falsa , ardilosa, duas caras, ingrata, maldosa, mas ninguém nunca viu isso, nunca tinham percebido isso, e eu gritava, aliás,  tentava, mas nunca gritei o suficiente ao ponto que ouvissem, e quem ouviu apenas disse, e só fase, então eu comecei a gritar só que  em silêncio, injusta, tão injusta, eu já cheguei a pensar que a odeio, mas eu me obriguei , me obriguei a pelo menos gostar dela, ou sentir algo por ela mesmo que fosse soo um misero sentimento... A frase que mais odeio da Bíblia é aquela que faz parte do 10 mandamentos, onde diz “respeitar seus pais acima de tudo”... eu sempre me perguntei e se eles não te respeitam, são injustos, nunca vejam o que você faz por eles, sempre tem os olhos focados em outra pessoa, e todos dizem ser ciúmes, mas não é, é algo que não sei identificar,  e eu nunca desejei o apresso dela , nunca desejei a te-lá todo tempo no meu pé, olhando e dizendo estar bom o que eu faço, eu nunca quis isso , a única coisa que eu queria é que fosse justa, só queria que visse que eu também existo, e que eu não fosse errada, por que só os filhos são culpados, eu sempre desejo não ter filhos para eles não odiarem esta frase como eu odeio. Tudo que eu desejava era fazer parte, mas percebi que se eu tentasse me encaixar forçadamente ali, no meio daquelas pessoas que eram minha família, mas ao mesmo tempo eram estranhos para mim, não iria ser bom, nem pra mim , nem pra eles, eu seria um estorvo, e não queria dar mais motivos para ela me odiar, então eu fui embora, e me senti em casa,  me senti bem em casa comigo mesma, sozinha, mas um tanto vazia, até seu tio chegar e o preenchê-lo. Mas mesmo assim digo, as vezes o segredo de tudo, é ser sozinha.

–Já sentiu vontade de morrer por isso?

A olho e sorrio de leve.

–Não,  aliás, sim , na verdade eu não sei... as vezes eu sentia vontade de nunca ter nascido, por que assim eu não desejaria a morte, tudo que eu queria era viver em paz, e bem comigo mesma, mas a cada dia que passou a dor só aumentava e nunca passava e as vezes eu me perguntava, “Será que sentiriam minha falta se eu partisse?” “Será que doeria na alma deles?” Eu me perguntei isso durante anos, e as vezes tenho está dúvida, nunca senti vontade de me machucar e nem de me jogar de um prédio, e nem de me enforcar , só sentia vontade de poder voltar a viver, e voltar a respirar sem ter um nol em minha garganta.

–Ainda se sente assim?

–Não, concerteza não.

Sorrio para minha tia a minha frente. 

–Obrigado, obrigado por ter sido sincera comigo, por não poupar a verdade.

Ela sorri genuinamente,  minha tia e linda, como o meu tio sempre disse, a mulher mais bela de todas.

–Mas e você Iza, já sentiu vontade de morrer?

–Não, eu gosto daqui,  vocês me deixam viver, eu tenho um pai que me ama, um tio pai, é uma tia mãe.

Abraço a mesma e descanso em seu abraço, eu amo tudo aqui, e eu sempre soube que Ester voltaria, ela sempre foi casa, casa para mim, casa para meu tio, e em todos a sua volta, e é isso o que eu mais gosto nela, cheirinho de casa e aconchego , cheirinho de mãe.

–E você gostou da Julie?

–Muito, ela é engraçada,  e gente boa, assim como você, o papai adora ela.

Sorrio.

–Acho até que ele está apaixonado por ela.

–Meu Deus que coisa boa.

Rimos juntas.

Me traga de volta a vida?Onde histórias criam vida. Descubra agora