"𝐹𝑎ç𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑡𝑜𝑚𝑏𝑜 𝑢𝑚 𝑛𝑜𝑣𝑜 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑎𝑛ç𝑎."
𝑩𝒓𝒊𝒔𝒂 𝑺𝒂𝒏𝒕𝒊𝒂𝒈𝒐
O balé é uma arte e devemos apreciar ela de uma boa maneira e eu escolhi apreciar praticando. Eu me sinto feliz ao dançar e incorporar esse estilo, apesar dos milhares de hematomas que aparecem em meu corpo, ela me faz sentir viva.
Toda essa paixão apareceu no auge dos meus 4 anos, onde eu via minha mãe rodopiando pela casa e me inspirei nela para entrar no mundo da dança. No começo foi difícil, até porque nada é fácil de primeira, mas com o tempo eu fui pegando o jeito e hoje sou profissional na área de balé, dando aulas para crianças que querem viver essa magia.
— Bri, pode abaixar essa música e parar de pular no chão, por favor? — pediu tia Samantha entrando no quarto — Eu estou tentando meditar lá embaixo, mas com o barulho de seus pezinhos eu não consigo.
Eu me empolgo às vezes, gosto de colocar na minha cabeça que eu estou em uma apresentação super importante e que todos estão encantados por mim na plateia.
Abaixei o som na minha caixinha rosa-claro e peguei uma toalhinha para secar o suor que escorria no meu rosto.
— Me desculpa, parei. — respondi indo até ela — Preciso de sapatilhas novas, não tem como eu dançar na abertura com essas todas surradas.
No meu armário havia mais de 20 sapatilhas, mas todas desgastadas e com memórias incríveis para mim. A sapatilha dourada na segunda prateleira foi a que usei na minha primeira apresentação na minha escola de balé com 10 anos. A sapatilha azul-escuro na primeira prateleira foi a que usei na abertura de uma peça teatral aos 15 anos, foi onde eu conheci milhares de bailarinas famosas. Uma sapatilha preta com a azul na primeira prateleira foi a que usei na minha apresentação do lago dos cisnes, e muitas outras sapatilhas que possuem histórias incríveis para mim.
Eu trabalhava em uma loja de roupas e comprava as sapatilhas com o dinheiro que ganhava, mas fui demitida e não consegui arrumar nenhum outro emprego. Até hoje eu entrego currículos na esperança de ser aceita em algum lugar.
— Depois olhamos isso, sapatilhas estão caras. — falou fazendo sinal de dinheiro com a mão — O balé é caro, Brisa.
Uma sapatilha comum em uma loja de balé do lado da minha casa está quase 300 reais. Minha tia não ganha muito bem como professora de jazz e acompanhante de meditação, já eu nem ganho dando aula. O máximo de dinheiro que eu ganho é com as apresentações, muitas equipes de balé que me contratam me dão uma certa quantia como pagamento.
— Pode voltar a meditar, já terminei a dança. - falei abrindo um sorriso meio desanimado.
Samantha me deu um beijo na testa e voltou para o andar de baixo. Fechei a porta e troquei de roupa, colocando uma blusa branca tomara que caia e um short jeans claro, eu queria sair um pouco e logo depois eu teria uma reunião com os jurados de ontem, iríamos ver a roupa e mais algumas coisas.
♡
Na rua não havia muita coisa, somente um cara fazendo mágica com um cachorro, confesso que foi bem interessante.
Eu havia finalmente chegado no auditório e estava sentada nas primeiras fileiras, com as outras 2 bailarinas convocadas.
— Parabéns pela vaga. — Parabenizou Miranda, olhando para a gente com um sorriso no rosto.
— Digo o mesmo. — falei, dando um sorriso tímido.
As meninas são super legais e o assunto sobre balé flui bem, acho que vou me dar bem com elas. As outras garotas com quem eu dançava eram todas metidas e nem na minha cara olhavam.
Olga, Vivilaine, Adrian, Felipe e Marcelo chegaram no auditório e subiram no palco. Adrian hoje estava diferente, ele usava uma blusa preta com um símbolo no canto, uma calça jeans preta escura e parecia mais sério do que ontem.
— Boa tarde, que bom que vieram. — disse Adrian no microfone — Hoje nós iremos resolver a questão da roupa, as outras bailarinas já têm as suas, mas queremos ser diferentes. Vocês são especiais e terão um papel maior na dança de abertura que irá acontecer daqui a alguns meses. Olhamos algumas opções e iremos mostrar a vocês, aí depois decidiremos e passaremos um orçamento.
Já estava imaginando o orçamento, as roupas sempre ficam caras e na maioria das vezes minha tia tem que pedir um salário adiantado no trabalho dela e aí pagamos. Não gosto que tia Samantha pague minhas coisas, me sinto ruim de fazer ela usar seu dinheiro comigo.
Algumas fotos foram passadas em um telão no alto do palco e todas as roupas são maravilhosas. Havia uma roupa branca com dourado e sua sapatilha era toda composta com pontinhos dourados.
— Agora queremos saber as opiniões de vocês. — Adrian disse apontando para o telão. — Brisa.
Levantei os olhos para Adrian, que estava com um sorriso no rosto olhando para mim.
— Achei bonita a branca com dourado. — falei e ele concordou com a cabeça.
As outras duas meninas também escolheram a branca, então seria aquela a roupa escolhida
Adrian passou o microfone para Olga, que deu um sorriso largo antes de começar a falar:
— Olhamos o orçamento com a nossa costureira e a roupa, composta com a sapatilha e tiara, ficará por 3.600 reais.
Para disfarçar o meu choque, tossi algumas vezes e menti falando que estava bom. A roupa mais cara que eu já tinha feito foi 500 reais, nunca uma roupa mais de 3.000.
A reunião acabou e eu acabei demorando para pegar minhas coisas, por isso fui a última a sair do auditório.
— Algum problema com a roupa? — perguntou Adrian, aparecendo na minha frente. — Percebi que você ficou um pouco desanimada ao falarmos que ela seria a escolhida.
— Não tem nenhum problema com a roupa. Ela é perfeita. — respondi entre um sorriso — Só fiquei assustada com o preço, não acho que eu tenho condições. Se eu não conseguir, tem como você chamar outra pessoa?
Adrian pareceu não ter respostas, pois somente assentiu com a cabeça e engoliu em seco. Me despedi e saí do auditório, lá estava um ar quente.
Parecia que um sonho meu falharia, às vezes eu penso que essas coisas só acontecem por um motivo, então se não foi possível, não tem problema, vai ter outras oportunidades.
VOCÊ ESTÁ LENDO
No mesmo ritmo
RomanceBrisa, uma garota cujo destino parecia traçado desde o nascimento, nasceu com sapatilhas nos pés e a paixão pela dança pulsando em seu coração. Cada movimento, cada pirueta, era uma expressão de sua alma em harmonia com a música. Adrian, por outro l...