Aos quinze anos, Cristian Nantes podia contar nos dedos quantas vezes havia chorado. Mas naquela tarde, as gotas da chuva misturavam-se com as lágrimas que ele havia segurado por dias. Abaixou-se e sentou na lateral do taboado de madeira, que se estendia por alguns metros dentro do lago. Colocou os pés na água gelada enquanto encarava a casa antiga da família, que há cinco anos, estava abandonada. Assim como ele, pensou amargamente.
Desde que a mãe morreu e o pai abandonou a família para se aventurar na capital, ele e a avó não deram conta de manter as coisas alinhadas o suficiente para cuidar de uma casa tão grande e da produção na fazenda ao mesmo tempo. Isso aliado ao fato de que cada lembrança daquele lugar doía, tanto nele quanto em Eleonora. Era difícil mesmo agora olhar o enorme gramado onde corria com sua mãe e seu pai, ou o curral com os cavalos - que agora, estava vazio, já que eles venderam os animais e permaneceram apenas com o cultivo -, e, principalmente, a casa e seus cômodos aconchegante, que se tornaram ecos de passos no vazio, até que decidiram que era hora de se mudar para a cidade.
No começo, ele detestou a ideia. No primeiro ano na vila, fugia para a casa abandonada todo dia. Eleonora já não sabia o que fazer com o neto. Mas então alguém começou a persegui-lo onde quer que fosse e se recusar a deixá-lo sozinho mesmo após a escola. Um amigo que, de começo, era indesejado. Uma companhia que em pouco tempo, ele não vivia mais sem. Bufou, pensando que era irônico que cinco anos depois, essa mesma pessoa era a causa dele estar ali novamente.
- O que eu faço? - Perguntou, como se alguém pudesse lhe responder.
A única resposta vinha do eco da chuva se misturava com a água do lago, formando ondulações que agitavam e causavam um barulho ensurdecedor. O vento bateu contra seu corpo, intensificando os arrepios, e em pouco tempo, o queixo batia e os ossos das pernas doíam com o frio dentro da água e seus pés.
Era desconfortável e, ao mesmo tempo, reconfortante, que algo doesse mais do que seu peito. Do que a droga do desespero que estava sentindo. Balançou a cabeça, tentando livrar-se das imagens que insistiam em vir na sua mente.
Aquele idiota o perseguia, o fez acreditar que era seu amigo.
Fechou os olhos com força. Sentia-se fraco, certo de que nada mais importaria depois do que aconteceu naquela semana. Mas teria que encará-lo, os dois. E ouvir o que tinham a dizer. Fingir que não o machucaram, quando sabiam que o tinham feito. Fingir que era forte, quando estava em frangalhos. Fingir não se importar. Mas isso ele aprendeu a fazer isso, fingir. Aprendeu isso há muitos anos, quando seu mundo se despedaçou pela primeira vez.
Mas desta vez, havia algo de diferente. E então, um sentimento que acompanhava tudo aquilo.
Não era abandono, ou saudades da mãe que partiu e do pai que sumiu no mundo.
Desta vez, era o ódio por tudo o que aconteceu.
E principalmente, ódio por seu melhor amigo.
Ódio por Daniel.

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Não se despeça
عاطفيةTudo o que Raquel desejava era se adaptar à sua nova vida na pequena cidade do interior após deixar São Paulo. Mas seus planos falham quando ela conhece Cristian, um jovem com um passado misterioso e uma rivalidade feroz com Daniel, um rapaz doce e...