CAPÍTULO 11

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Ariella
20 anos

— ROYAL ELITE UNIVERSITY —

Pela sexta vez no dia eu tocava piano e deixava a melodia me levar enquanto eu expressava meus sentimentos. Algo que me foi recomendado a fazer anos atrás pela minha psicóloga.

Hoje eu estava me sentindo melancólica, um pouco vazia, não sei como explicar. Eu estou apenas calma.

Já faz um pouco mais de dois anos que eu vim para a faculdade para cursar ciências econômicas. Já faz mais de dois anos desde a última vez que falei com Remington frente a frente. Eu ainda o provocava de vez em quando, mas eu simplesmente diminuí o ritmo – quase parando totalmente. Mas tanto ele, quanto eu e todo o restante dos nossos amigos e familiares sabiam que eu não iria parar. Eu nunca desistia de nada, mas hoje, nesse fim de tarde tocando uma melodia calma e respirando fundo, eu simplesmente quis desistir dele.

Minha terapeuta fala que eu estou me esforçando demais por ele e pouco por mim. Nós ainda estamos trabalhando meu trauma que depois de tanto tempo eu consegui falar para ela.

Me lembro que naquele dia eu chorei muito contando tudo o que aconteceu e felizmente eu não recebi dela um olhar de pena, ela sabia que eu não precisava daquilo. Eu ainda tenho muita dificuldade de me olhar no espelho e às vezes quando tiro alguma foto nunca olho para o meu rosto, só confio na minha amiga, Alicia, para me dizer se está ou não bonita.

A melodia melancólica passou a ser triste com a lembrança de que eu ainda não conseguia me encarar.

Remington por outro lado nunca pareceu mudar em nenhum quesito. Ele ainda vai às mesmas festas, fica com garotas diferentes a cada semana, continua fumando sua maconha e saindo com seus primos e amigos.

Que bom para ele.

Eu não me importava mais. Eu não queria me importar mais.

Depois que eu terminei o ensino médio só continuei tendo contato com Alicia. Ela sempre foi a única que eu me importava e continua assim com nós duas dividindo o mesmo apartamento já que ela também veio para REU.

Eu ainda não tinha contado para ninguém sobre o que aconteceu a cinco anos atrás. Somente Eli e agora Mary sabiam. Eu queria poder contar pra eles, eu sentia que já tinha passado do tempo para contar para minha família o que tinha acontecido mas eu simplesmente não conseguia.

Já tentei quatro vezes desabafar tudo isso para meus pais, até mesmo para minha irmã, Ava, e para Alicia, mas na hora eu simplesmente era silenciada. Minha garganta fechava e minha voz não saia. Eles sabiam que algo tinha acontecido e eu poderia pedir para Eli contar o que aconteceu, a voz dele não falharia, só que eu ainda não tinha coragem para isso.

Eu era uma maldita covarde.

A tristeza passou para revolta e o som do piano foi mudando conforme meus pensamentos e sentimentos. Eu não gostava de ser covarde. Mary, minha terapeuta, dizia que eu não era, e que a minha “falta de voz” na hora de desabafar era porque minha ferida ainda não tinha sido cicatrizada e que poderia levar tempo.

Felizmente fui interrompida por Alicia que chegou em nosso apartamento com muitas sacolas de roupas e sapatos e sorrindo abertamente. O sorriso dela morreu quando ela olhou para mim.

Lice jogou as sacolas no chão sem se importar se tinha algo quebrável ali e correu em minha direção. — O que aconteceu? Por que você está chorando?

Eu estava chorando? Não tinha notado.

Dei um pequeno sorriso para ela. — Está tudo bem, eu só me entreguei demais à música.

GOD OF OBSESSION - DEUS DA OBSESSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora