03 - APOSENTADORIA

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2070

Sexta-feira

A madrugada estava mais turbulenta.
O quarto escurecido e morno devido ao sistema de ar quebrado.
Roupas atiradas pela cama, e uma sensação úmida nojenta.
Uma garrafa de rum na mão e uma mão no botão do ventilador.
A noite estava difícil de ser dormida.

Sons altos pela casa. Ele não conseguia entender.
Ecoavam pela casa através dos corredores estreitos.
Perturbavam sua cabeça já tomada por rugas e por álcool potente.
Os braços já não respondiam tão bem como na época que serviu em Marte.
Caiu da cama afofado devido à altura baixa e seu grande volume.

Não gostava de ouvir dos outros que era gordo.
Ele já sabia disso, não precisava que o reafirmassem.
Se manteve de pé enquanto a bebida mexia com sua cabeça.
Vestiu uma calça qualquer, não falou nada. Sua gota d'água.
Não aguentava mais aquilo retumbando sua cabeça.
Tanto os barulhos da casa, quanto sua filha amaldiçoada aos seus olhos, pegou de sua gaveta seu revólver .357 antigo de cano grosso e furtivamente, ainda que bêbado, foi deslizando pela casa até encontrar...

Encontrar o filho da puta que estava usando sua casa de motel e sua filha de...
A cozinha estava bagunçada, viu pela abertura da porta, mas assim que virou o olhar, viu dois homens armados levando nas costas diversas bolsas com cabos escorregando pelos lados, um estava de guarda segurando uma submetralhadora MP5 e outro estava levando as bolsas.

Ele pensou que seria uma boa coisa, afinal, eles estavam levando o equipamento ilícito de sua filha e seu grupo de sacripantas.
Mas logo lembrou que se não houvesse mais coisas ali, sua filha iria aplicar sua chantagem, e ele seria preso. O que fazer nessas situações?

Yang Maomey não conseguia ter certeza do que discernir para essa situação.
Mas logo, uma fúria interna correu por seu corpo, lembrando-se dos campos explosivos.
Um fervor ensurdecedor, uma necessidade de matar, algo enterrado desde que largou tudo para dirigir essa lanchonete falida.

Não gostava dos assaltantes, sua infância expressa por desgostos de seus pais, lembrava o que eles diziam sobre os seus colegas do Brooklin, um gatilho de morte e destruição. Uma herança maligna que cresceu em sua mente e sua consciência como um câncer que não havia mais cura, e agora, com aquela arma em mãos, entraria no estágio terminal.
Ambos os ladrões eram negros.

Ladrão 1: - Cara, podemos acelerar isso? Tô cansadão. -

Ladrão 2: - Relaxa, cara. Só mais e a gente se manda... -

Ambos falavam um inglês próximo. O segundo ladrão, com um sotaque britânico desceu para o porão, estava armado com nada aparentemente, usava uma jaqueta de couro por cima de um moletom azul escuro.
O primeiro ladrão, com um sotaque americano ficou de guarda ainda, fumando um cigarro, usando um colete vermelho por cima de uma camiseta branca, nenhum estava com proteção ou máscaras.

Yang se aproximou lentamente, não deviam ser demonicistas, se não, já o teriam notado se aproximar naquele corredor estreito, ele estava de costas, devia estar com sono.
Calmamente empunhou o revólver pesado, com sua mão trêmula, o pulso pouco firme, mas o dedo no lugar certo. A arma estava quase tocando sua cabeça com um cabelo raspado.

Ladrão 1: - Hum? -

O ladrão se virou e a arma bateu em sua bochecha, paralisado, com os olhos bem abertos

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