09 - FARDO

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Sábado.

A Hong Kong ainda está em movimento.

As trombetas do apocalipse ressoam novamente, mas de alguma forma, parecem mais o ruído de um telefone orelhão esperando a chamada.

Cho estava fumando dentro da cabine, que seguia bombardeada pelas chuvas dos centros urbanos das regiões mais movimentadas e menos saturadas de toda a cidade. Colarinho branco e azul caminhando como iguais, ainda que como totalmente não iguais. Preto, cinza e um pouco de azul corroído pelas cores mais borradas que a chuva gerava nos poros de Cho e mais ainda nos vidros da cabine.

Havia tomado sete estimulantes que havia escondido no carro do Hughie há alguns dias.
Nunca sabia exatamente quando iria precisar deles, por isso os usava sempre, o tempo todo, mesmo antes de dormir, já que não conseguia os parar de usar, escondia em todo lugar.

Seus olhos estavam um pouco abertos demais, ao ponto de lacrimejarem só dela sorrir, suas íris estavam esticadas e suas pupilas dilatadas, não conseguia sentir direito a língua, então acabou misturando uma porção de dialetos enquanto fingia falar no telefone, para Hughie pensar que ela estava falando com outra pessoa, enquanto o número que discou não atendia.

Um monte de hologramas de um comercial interativo de adoção de animais estavam ressoando pelas ruas. Ironicamente, iluminando um abrigo improvisado cheio de gatos no beco logo ao lado, tantos gatos, fazendo ser difícil contar quantos eram ao todo.

Estava distraída e instável, apoiando seus dedos com o cigarro no vidro gelado da cabine, achava a sensação gelada nos dedos "gostosinha", foi o que um turista americano a chamou passando perto dela e lançando beijos nojentos. Estava tão alta e focada que não teve energia para correr atrás dele e bater sua cabeça numa caixa de correio, mas tirou o máximo de fôlego e gritou o "FUCK YOU!" mais "FUCK YOU!" do que todos os "FUCK YOU!" podem imaginar, e ainda cuspiu na cabine na direção dele.

O telefone finalmente atendeu.

Estranho: - Alô? -

Cho: - Malik? Tá aí? -

Yukay: - Não. É o Yukay. Tá procurando ele também? -

- Porra, velho... se tô. Viu ele? -

- Mandei uma mensagem importante pra ele há umas dez horas, o maluco não me respondeu. Isso não é do feitio dele. Ele sabe que eu estripo cada cuzão do caralho que me dá perdido, valeu. -

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