08 - BORBOLETA DE TITÂNIO

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Sábado.

Faltam exatamente quatorze horas para começar o serviço proposto pelo insano Yukay.
O esconderijo estava poluído, o que seria dele agora? Não importava mais.
A escuridão estava no mesmo lugar. Havia um banheiro provisório no lugar com uma banheira.
A encheu, a água estava limpa, pouca iluminação, não importava mais.
Tomando banho nessa banheira, com a cabeça para cima e os olhos fechados, estava Hughie.

Hughie, a figura de estranheza moldada em sete espaços vazios da consciência e seis dentes moles aos poucos enrijecendo, fumando um baseado que achou escondido no travesseiro da cama improvisada de Cho. Ela saiu para não se sabe o quê, mas ele já sabia do que se tratava, ela só sumia sem avisar, quando precisava transar, ou ao menos, queria. Não considerava isso uma redução da personalidade ou da dignidade dela, ela mesma avisou sobre isso quando estava bêbada.
Ironias e mais ironias.

A fumaça que ele soltava pela boca era forte, batia nas luzes do banheiro num reflexo estranho.
Seu braço estava doendo um pouco, ainda não havia removido alguns implantes de seu corpo.
Conseguiu ter o corpo que sempre quis desde o nascimento, nesse exato momento, ainda que sem toda a vontade, estava tirando proveito de seu corpo quisto ereto e cheio de sangue.
Mas ironicamente, seu corpo ainda estava repleto de lixo cibernético.

O telefone estava tocando. Havia um telefone com design de fixo, era igual qualquer telefone moderno, inclusive, conectado a um modem de sinal pirata com um VPN ilegal.
Hughie se levantou da banheira, a água morna e repleta de química de sabão colorido de má qualidade. Deixando a pele ruborizada e cheia de espaços alaranjados.
Costas rígidas, repletas de peças cibernéticas para fora, pequenos círculos e peças arruelais que se interligam no formato exato dos pontos de impulso do seu corpo.

Pontos nas escápulas, e descendo as vértebras até a lombar, dois pontos, um em cada lado da espinha dorsal. Um mecanismo cibernético exposto projetando uma pareidolia em formato de asas, mais precisamente em formato de... borboleta.

Ele caminha nu pelo esconderijo. Não haviam janelas, ninguém para o espionar com seu amigo de fora, um corpo curvado e com poucos pontos planos, um corpo rígido mas leve, algumas cicatriz no corpo, fundas, visíveis, escuras. Com um bom ouvido, ainda era possível ouvir os implantes cibernéticos das costas rangendo e fazendo aquele ruído longo de metal sendo esticado e estalando os ossos.

Dezoito pontos plugados pelas peças prendendo duas mil e quinhentas nanofibras de irídio envoltas por microcabiamentos biomecânicos de titânio conectados nas principais linhas musculares e nas principais marcas nervosas do corpo, enviando estímulos elétricos com 300.000 atualizações por minuto, dez mil vezes mais rápido do que a taxa de atualização elétrica dos sistemas de energia da cidade.
Porquê ter esse tipo de coisa plugado nas costas?

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