•◇Sentidos confusos◇•

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Sorrateiro, Jungkook adentra a biblioteca. Para na porta, se escorando na moldura e se pondo a observar seu pequeno namorado divertindo-se. Cheio de culpa, interrompe a brincadeira, dando dois toques na madeira da estante.

— Olha, Hyung. Já tenho 8 títulos de posse! — Agita as mãos, alegre e elétrico.

— Que legal, patinho. Em que rodada estão? — Pousa as palmas nos ombros de Jimin.

— Na segunda. O Minnie é muito bom! — Comenta a garota, contando algumas notas coloridas.

— Temos que ir para casa, meu bem!  — Park entristece, largando os dados sobre o tabuleiro.

— Mas... mas eu queria continuar jogando. — Arranha a pele dos braços, não compreendendo o sentimento esquisito que se alastra em seu peito.

— Outro dia, pequeno. Temos que ir!

— Professor, nos deixe só contar as notas e ver quem ganhou. Por favoooor! — O garoto maior puxa a camisa de Jeon, implorando.

— Tudo bem. Mas é só para contar as notas! — Escuta alguém lhe chamar. — Ah, Sr. Jung! - Fecha a porta atrás de si.

— Estou com o novo laudo do Jimin, a permissão para a emissão do cartão de identificação e a receita do remédio que ele passará a tomar! — Em uma pasta, o entrega os documentos. — Oh, também tem isso! — De uma sacola de papel, retira o que parece ser a caixa de um sapato. Ao abrí-la, revela um tênis preto, decorado com pinturas de planetas e estrelas. — Sistema solar e espaço são os hiperfocos mais vivos nele. Então pensei que seria um bom presente!

— Uau. Ele vai amar! — Recebe em mãos a caixa.

— Eu pintei os desenhos. Espero muito que ele goste! — Jungkook vê o sorriso de coração do psiquiatra tomar forma.

— Com certeza, ele vai adorar! — Suspira, dedilhando o papelão da caixa.

— Qual o problema, Jeon?

— O fato dele não reconhecer as próprias emoções me entristece profundamente. Ele está jogando com alguns pacientes desde cedo. É hora de ir embora, então tive que interromper a brincadeira. Deu para perceber que ele ficou frustrado com isso.

— Acho que ele ficou frustrado com o fato de você ter interrompido a linha de raciocínio dele, e não o jogo. Alguns autistas se irritam ao terem atividades atrapalhadas! — Jungkook somente acena com a cabeça. — Você lida com autistas todos os dias. Por favor, tenha paciência com o Jimin. Ele está recomeçando o tratamento!

— Sempre terei paciência com ele, Sr. Jung! — Hoseok lhe dá tapinhas nas costas.

— Já sabe, né? Só interrompa as esteriotipias dele se elas o machucarem. Caso contrário, o permita!

— Sei disso. Ele está em ótimas mãos! — O terapeuta lhe lança um olhar intimidador. — E-eu preciso chamá-lo. Obrigado pelo presente e pelo novo laudo! — Se curva, entrando na biblioteca com pressa. — Ei, vocês voltaram a jogar?

— Você estava demorando! - Explica a garota.

— Patinho, temos que ir para casa. É quase hora do jantar e precisamos alimentar o Bam! — De carinha fechada, Jimin levanta da cadeira, apertando a pequena mantinha. — Tchau, garotada! — Acena, se retirando com o baixinho. — Não fique assim, Mimi. Vocês podem jogar outro dia! - Ao notar os olhinhos se fechando em indignação, busca mudar o assunto. — Quem ganhou?

— Eu ganhei a segunda e o Do-Sik a primeira! — Se escora em Jungkook ao que entram no elevador.

— Você tem algo para me dizer, príncipe? — Nervoso, Jimin acena, passeando o dedinho nas tatuagens do outro.

— Sr. Jung disse que, de fato, sou autista. — Solta um suspiro tenso.

— E está tudo bem, meu pequenino. Não há problema algum em ser autista! — O abraça devagarinho pela cintura. — Você é único!

— Mas eu faço coisas estranhas para me... me...

— Regular?

— Isso. Regular!

— Não são coisas estranhas, patinho. São esteriotipias. As acho muito bonitinhas! — Park sente dedos lhe acariciarem a bochecha. — Eu amo você assim, desse jeitinho. E não quero que mude. Jamais! — Beija o local que alisava antes. Saem do elevador, e se dirigem ao estacionamento.

[...]

Em casa, Jimin admira seus novos tênis e os mostra a Bam, extremamente feliz. Arrumando a mesa, Jungkook o olha de soslaio vez ou outra, imaginando como Park reagiria a uma ida ao planetário da cidade.

— ...E esse aqui é Netuno. O oitavo planeta do sistema solar. Ele é um dos gigantes gasosos e equivale a 17 massas terrestres. Planetas são realmente incríveis, né? — Jeon jura ver Bam acenar com a cabeça, concordando. Pensando estar vendo coisas, sacode a cabeça e retoma a montagem da mesa de jantar. — Hyung, quero voltar ao meu trabalho amanhã!

— Tudo bem, meu querido! — Alinha quase perfeitamente os alimentos postos no prato de Jimin.

— Posso usar meu tênis novo? — Os pressiona contra o peitoral, esperançoso.

— Claro, patinho. Eles são seus. Pode usá-los quando quiser. Agora, venha jantar! — O menino ajeita os tênis na caixa e caminha apressado até a mesa.

[...]

Usando seu pijaminha estampados com estrelas, o baixinho assiste a um documentário no quarto de Jungkook sobre o espaço, balançando-se para frente e para trás, revelando seu sono. O professor, avaliando provas na escrivaninha, pede a terceira vez para ele deitar. E, novamente, recebe a mesma resposta negativa e objetiva.

— Patinho, você vai se desregular ao passar do seu horário de dormir. Amanhã, você assiste mais! — Dessa vez, agacha à frente do pequeno namorado, que prossegue remexendo o corpo na cama. — Eu sei que esse é seu hiperfoco, mas você precisa dormir! — Gentilmente, toma o controle das mãozinhas alheias e desliga a TV. Jimin para de se balançar e passa a hiperventilar. Seu rostinho se avermelha e os olhos miúdos transbordam lágrimas amarguradas.

Sem proferir palavras, Jeon o toma nos braços e o arruma no colo. Se acomoda na ponta do colchão e o mantém sentado em suas pernas. O coraçãozinho dele está bastante agitado e sua respiração cortada.

Jungkook se estica para pegar a pequena manta sobre o travesseiro. O pano felpudo é posicionado na lateral da face raivosinha. Sentindo a textura que lhe tranquiliza, Jimin põe os pensamentos em ordem. De pouco em pouco, vai amolecendo a estrutura, se permitindo descansar.

— Tudo bem, anjinho? — Alisa os fios espetadinhos para cima da cabeleira do namorado.

— Melhor... — Afunda o rosto na clavícula do maior, apreciando a quentura natural da pele dele.

— Vamos dormir? — Recebendo uma confirmação não verbal, se prontifica em ajeitar os travesseiros e deitar Park em uma espécie de casulinho. — Quando você estiver com os sentimentos bagunçados, me peça para montar esse abrigo. Garanto que o quentinho e a proteção dele fará você se regular novamente! — Termina de embrulhá-lo com um lençol. E a mantinha é dada para ele abraçar.

— Obrigado, Hyung! — Agradece, dentre um bocejo e outro.

— Durma com os anjos, meu bolinho. Estou aqui, caso precise! — Deposita um selinho na testa do baixinho antes dele se render ao sono.

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Vale ressaltar uma coisa: Em nenhum momento, Jimin estava sendo mimado, mesquinho ou fazendo birra. Ele apenas não sabe lidar com as próprias emoções. Em algum momento, com a ajuda das sessões de terapia, ele irá aprender a controlar e a demonstrar com menos intensidade. Ok? :)

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