Meu filhote tinha apenas um ano e dois meses quando o arrancaram dos meus braços. Eu, aos 25 anos, perdi tudo, absolutamente tudo. Minha força, meu motivo de respirar, tudo se foi. Eu me sentia vulnerável, à deriva, sem razão aparente para continuar. Talvez devesse desistir, talvez devesse permitir que o vazio dentro de mim me consumisse. Mas eu não conseguia. Não tinha a coragem de abandonar aquele pequeno ser que tinha crescido dentro de mim, mesmo que isso significasse enfrentar a crueldade de um mundo em colapso.A segurança dele era minha prioridade, então me vi vagando por lugares próximos, nunca me afastando muito do acampamento para não me perder, nem colocar em risco a segurança do Leon. A natureza se mostrou impiedosa. Cada lugar que eu vasculhava em busca do meu tesouro perdido deixava meu corpo já frágil mais ferido. Isso se repetiu por mais de 145 dias, uma jornada sem fim, até que um dia.
Eu me encontrava no coração da mata, sob a luz plena da lua que desenhava sombras inquietantes sobre a vegetação que parecia devorar a própria essência da natureza. Os galhos se emaranhavam nas árvores, e a flora selvagem se entregava ao solo. Eu avançava, buscando qualquer vestígio de vida naquela noite, ansiando por sinais do meu pequeno. Naquelas circunstâncias, até o menor indício seria motivo para agradecer.O medo que antes tinha de tudo já não me habitava, no entanto, eu continuava em silêncio, consciente da presença de animais ferozes ao meu redor. Navegava entre destroços que outrora compuseram uma reluzente Ferrari, agora consumida pelo tempo e pelos estragos do apocalipse. Com a luz da minha lanterna, destaquei, entre fuselagens e sujeira, uma mochila intacta! Alguém, sem dúvida, a abandonara às pressas, deixando para trás um rastro de urgência. Aquela mochila, repleta de suprimentos, poderia ser a chave para nossa sobrevivência, mesmo que contivesse algo tão insignificante.Com extremo cuidado, abri a porta do carro lentamente, evitando qualquer ruído desnecessário. Os assentos estavam cobertos de poeira, e sem usar máscara, comecei a tossir descontroladamente. A cada segundo ali exposta, mais poeira me envolvia. Instintivamente, cobri minha boca e nariz com o braço, enquanto com a outra mão alcançava a mochila.Pronta para sair, percebi que a porta pela qual entrei estava fechada. Não era um problema inicialmente, pois tentei abri-la por dentro, mas sem sucesso. Foi então que decidi abrir por fora. Sufocando-me com a poeira, apressei-me, retirando a mão da tentativa infrutífera de abrir pelo interior. No instante em que buscava a maçaneta do lado de fora, como em uma cena de um filme de terror, fui surpreendida por algo passando rapidamente sobre meu braço. Assustada, recuei, sentindo uma sensação aguda de dor enquanto meu braço começava a verter sangue.Numa reviravolta digna de ficção, meu braço começou a sangrar inexplicavelmente, formando garras com três unhas afiadas que dilaceravam a carne. Meu cérebro mal conseguia processar o que estava acontecendo. Era surreal, como se a realidade estivesse se desfazendo diante dos meus olhos. A dor, aguda e desconcertante, se misturava com o medo crescente que se apoderava de mim.Desesperada, decidi espiar para fora do carro, tentando entender a origem daquela carnificina inexplicável. No momento em que a ponta da minha cabeça emergiu do vidro, algo poderoso mordeu meu lado com voracidade. Um arrepio de terror percorreu minha espinha enquanto eu recuava instintivamente. No meio da escuridão, um lobo gigante apareceu, sua cabeça monstruosa tentando me devorar com fome voraz.Feroz e colossal, o lobo tinha mais de dois metros de altura e parecia faminto, seus olhos brilhando com uma intensidade selvagem. Retrocedi lentamente, horrorizada, enquanto o lobo continuava avançando, desejoso de saciar sua fome após dias sem uma refeição decente. A escuridão ao meu redor parecia amplificar o terror, transformando aquela situação em um pesadelo surreal do qual eu não sabia se conseguiria acordar.
Fraca e impotente, comecei a gritar por ajuda, qualquer auxílio que pudesse interromper esse pesadelo, pois o medo tomava conta de mim. O animal feroz, de uma força avassaladora, empurrava o carro enquanto tentava morder, uma força sobrenatural que parecia desafiar todas as leis da natureza.
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O Apocalipse
RandomNum mundo pós-apocalíptico, onde a civilização foi reduzida a escombros por um catastrófico impacto de um asteroide. A terra é um cenário desolado, repleto de destroços e silêncio sepulcral. As cidades Europeias outrora prósperas são apenas sombras...