Capítulo 38

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  — Sério? — questionei, temendo ter ouvido errado, mal conseguindo conter o sorriso que abria lentamente — não precisa se forçar se não quiser realmente.

  — Mas eu quero — garantiu Lena segurando em meu rosto, enquanto sorria — tenho até algumas ideias sobre o segundo andar, se você quiser ouvir.

  — Quero — disse rapidamente, lhe segurando as mãos, concordando com a cabeça de forma frenética.

  — Primeiro me explica o que quer fazer aqui para eu saber se encaixa com o conceito — disse me soltando — aposto que pensou mais do que me contou.

  — Eu faço encaixar — disse de forma firme.

  — É sério Kara — disse Lena recebendo um pouco os olhos, um tanto impaciente.

  — Eu estou falando sério — disse recebendo um olhar incisivo — ok, parei, a minha ideia é fazer uma volta ao mundo, tanto pelo paladar quanto pelo ambiente, criando um choque cultural, ainda não sei se faço por mês ou semana, mas pretendo mudar não só o cardápio, mas os uniformes também, tudo retratando o país e região em questão, o que me pega são os funcionários da cozinha, devido as receitas, por sorte tenho alguns amigos que toparam me ajudar na abertura, mesmo não ganhando muito por isso, as coisas vão pegar mesmo depois, não sei nem como vou pagar esse pessoal.

  Com isso acabo mergulhando em minhas ideias, explicando tudo, detalhe por detalhe, me perdendo um pouco em algumas divagações que foram rapidamente interrompidas por Lena que fazia que eu voltasse a minha linha de raciocínio inicial.

  Enquanto fazia isso a guiava pelo lugar, chegando por fim no segundo andar, que convenhamos estava ainda mais abandonado que o primeiro e tivera ainda menos tempo para limpar tudo, então ainda tinha algumas caixas e entulhos pelo andar.

  — Desculpa, ainda não tive tempo de arrumar as coisas por aqui — disse cochando o meu pescoço.

  — Kara, eu sou arquiteta, já vi muita ária demolida em meu trabalho — tranquilizou Lena tocando em meu ombro — esse aqui nem de longe é o pior, acredite.

  Aquela fala me deixou mais tranquila, mas não menos envergonhada, eu realmente queria lhe mostrar algo melhor, porém me limito a aceitar o fato que não seria assim, contenho meu desagrado por isso.

  Mas não significa que não pudesse usar aquele para outra coisa, que sendo bastante sincera já pensava em fazer a algum tempo.

  Havíamos pulado algumas etapas, se não muitas, nesse nosso, por assim dizer, relacionamento, nada era mais justo do que colocar um pingo naquele I e faria isso, só não hoje.

  Não demora muito para Lena me explicasse o que queria fazer naquele andar, causando um sorriso em meu rosto que aumentava a cada nova ideia, comigo fazendo o mesmo logo em seguida. — Mas não estou muito segura sobre pedi um empréstimo pro banco. — Confessei, suspirando cansada de volta ao primeiro andar ou tanto eu quanto a Lena nos encontrávamos sentadas no chão, já que não havia móveis no lugar. Mesmo que estive passando os últimos 5 á 6 anos juntando dinheiro com esse objetivo em mente, a quantia que conseguira era na melhor hipóteses, um pouco mais da metade. — O meu sobrenome não é muito bem visto nos bancos, vão pensar que estou fazendo um caixa dois. — O que estava o mais longe da verdade possível, mas não é como se fossem notar isso.

  Em parte só me restava esperar os problemas da minha irmã acabar, o que significava logo depois que assumisse a liderança, para que enfim pudesse mudar meu sobrenome no cartório e por fim me livrar de uma vez do estigma que havia carregado por tantos anos, sem falar na herança de minha mãe que até então não havia reivindicado por medo de ser encontrada.

  — Poderíamos usar o meu nome — sugeriu Lena de forma calma.

  — Não, eles já sabem que moramos juntas — respondi, suspirando chateada — se brincar eles devem até saber o dia dos nossos cios.

  — Você deve está brincando. — Gostaria muito de está, pelo menos a respeito dos fiscais do banco sim, porém já os mediadores... eram outra história, eles devem está de olho para ver se teríamos algum filhote em breve, já que aquilo poderia dificultar um pouco na luta por liderança na família, mas não queria preocupá-la com algo tão longe de acontecer, sem querer respondê-la me limito a sorrir, querendo lhe passar confiança. — É brincadeira, né?

  — É claro — disse com a voz falhando, por causa de seu olhar desconfiado — ok, é um pouco verdade, mas não se estressa com isso, não vai durar muito, eu garanto, eles tem mais o que fazer.

  — Eu vou precisar de um tempo pra processar mais essa informação — disse Lena respirando fundo, apertando os dedos entre os olhos — ok, segue em frente, tô pronta.

  — Isso foi rápido — disse surpresa, começando a me levantar, limpando o short e estendendo a mão — vamos, tá ficando tarde e eu tenho muitos planos pra amanhã.

  —Eu faço parte deles? — perguntou aceitando minha ajuda para se levantar, enquanto sorria travessa.

  — Talvez — respondi também sorrindo — mas é a tarde, não de manhã, tenho planos para esse horário, não dar para cancelar.

  Com isso nós duas voltamos para casa decidindo terminar o dia assistindo alguns episódios de uma série, deitadas no sofá com meu queixo tocando levemente o topo de sua cabeça, tendo um de meus braços sob minha cabeça enquanto a outra repousava tranquilamente sobre a cintura de Lena que parecia perdida em seus próprios pensamentos.

  Aquilo me deixara um tanto quanto preocupada, porém preferir esperar que ela me contasse por si mesma o que lhe perturbava a mente, para que não conseguisse prestar atenção na série que tanto queria ver.

  — Kara — por fim Lena chamou parecendo meio receosa.

  — Hum...? — questionei sem tirar os olhos da tela da tv, não por não está prestando atenção e sim para deixá-la confortável para falar, as vezes era mais fácil falar com alguém que não lhe olhasse nos olhos ou pelo menos era o que a minha experiencia dizia.

  — Por favor, não ache que a estou pressionando... — disse se virando para me encarrar nos olhos, soando tímida.

  — Não acho — disse rapidamente de forma firme.

  — Mas pode soar assim.

  — Eu que vou decidi isso — disse mantendo o tom, do que servia esse maldito titulo de alfa se não pudesse ao menos deixar a minha ômega tranquila? Notando que poderia ter soado um pouco dura, rapidamente abri um sorriso leve mudando um pouco o tom — Lena não se preocupe só fale, eu lhe garanto que no momento que me senti pressionada vou falar.

  Apesar do que eu dissera Lena ainda demorara um pouco para falar algo, evitando o meu olhar encostando sua testa em meu peito enquanto resmungava palavras inteligíveis por um bom tempo até que enfim parece ter se decidido, erguendo sua cabeça me encarrando firmemente.

  — Kara!

  — Sim?

  — Bem... quando você acha que estará pronta para... você sabe? — perguntou corando profundamente, mas conseguindo manter seu olhar em mim.

  — Ou... — disse um pouco surpresa, incapaz de falar algo mais inteligente no momento.

  — Quer saber? Esquece eu falei demais — disse Lena começando a se levantar, porém a puxo de volta.

  — Calma, você nem me deu tempo de processar a pergunta — disse lhe segurando o braço com delicadeza o mantendo sobre meu peito — Lena eu não sei bem quando vou ficar confortável com isso, mas admiro que não é uma situação sustentável pra nenhuma de nós, não dar pra ficar para sempre usando os supressores e eu sei disso, mas... talvez eu possa usar algo que a minha psicóloga disse.

  — O quê? — perguntou num fio de voz.

  — Ressignificar uma experiencia — respondi dando um leve beijo em sua mão — podemos testar os limites e de passo em passo me deixar mais confortável.

Continua...

A inofensiva (Supercorp)Onde histórias criam vida. Descubra agora