Um

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Na primeira vez, avise.

Na segunda, reforce.

Na terceira, acerte.

Foi o que meu irmão mais velho me ensinou quando eu tinha 11 anos. Só não esperava precisar do conselho.

Hesitei antes de apertar o botão de confirmar no telefone da escola. Embora tivesse um celular, o diretor insistiu que eu ligasse ali, na sala dele, com o telefone dele. Levantei os olhos para o homem, senhor Rig, que indicou que andasse logo com isso.

— Alô?

— Drik.

— Ah, oi, Auri. O que foi?

— Você... vai precisar comparecer à escola hoje. Vem me buscar.

— O que houve?

— Não... posso explicar agora. Mas você precisa vir. Por favor.

Eu odiava atrapalhar o mais velho. Dos meus três irmãos, era quem mais se esforçava para manter nossa família em ordem já que tudo o que os gêmeos sabiam fazer era brigar. Trabalhava pro conta própria, e era quem colocava comida na mesa. Eu sabia de um projeto grande que precisava entregar até o dia seguinte, e fazê-lo sair só para me tirar de uma enrascada fazia minha pele suar.

Um espasmo passou por minhas costas, como uma ferroada em todos os meus músculos ao mesmo tempo. Impulsos.

— Auri? — chamou Drik — Ouvi você. Foi um Impulso, não?

— Foi. Você pode vir? Ou Louis?

— Já estou a caminho.

Desliguei. Sr. Rig suspirou, ainda de braços cruzados, tentando parecer intimidador. Outro espasmo passou, dessa vez por meus braços, e graças às mangas do meu casaco, ele não viu os raios. As marcas do Impulso. Poderes da natureza, que herdei do meu pai. Ao menos, é o que meus irmãos dizem.

— Seu irmão vai ficar decepcionado, Auristela — comentou o diretor. Não respondi, não sabendo que não estava errada nessa história — Se bem que ele já foi preso, não?

— Não. Ele não.

— Mas um de vocês foi, certo?

— Isso importa realmente?

Rig sorriu, indicando que era apenas curiosidade. Ele não era uma pessoa ruim, mas tinha tendência a menosprezar minha família por sermos só três adolescentes e um jovem adulto que mal saiu da faculdade.

Depois de vinte minutos, Drik apareceu, com cara de cansado. Ele usava manga comprida também, tendo os mesmo Impulsos que eu. Ele sorriu, beijou o topo da minha cabeça e cumprimento sr. Rig com um aperto de mãos. Foi então que senti minhas próprias suarem, e limpei na calça jeans. Não tinha uniforme na escola pública.

— Bem, temo que Auristela venha causando problemas, senhor Kiran. Agredindo colegas, fugindo de algumas aulas.

— Não fugi de aula nenhuma — não contive a resposta que escapou de meus lábios.

— Cale-se, Auristela — reclamou o diretor — Sabe, a colega de turma dela me contou que essa garota a agrediu.

— Senhor, primeiramente peço que não mande minha irmã ficar quieta, ainda mais de forma injusta. O único dia letivo que ela faltou foi culpa da nevasca que a impediu de chegar na escola. E garanto que houve um motivo para a agressão ter ocorrido. Sempre instruí Stela a não ser a primeira a agredir.

— Aparentemente ela transgrediu suas orientações. Quer contar o que aconteceu, senhorita Kiran?

— Ashley Rig puxou meu cabelo. Eu avisei duas vezes, como você disse. Ela não parou, disse que uma garota... que não tinha mãe não tinha direito de exigir nada.

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