Onze

5 1 0
                                    


No dia que o Círculo chegou, eu senti fisicamente.

Estava estudando com Timothy na cozinha da mansão, com copos de milkshake de morango para cada um, revisando novamente o conceito de dominante e recessivo. Minhas notas melhoraram, mas ainda teria uma prova na semana seguinte ao meu aniversário. Bem, isso se conseguíssemos parar a Noite sem Fim.

Ele disse que eu tinha evoluído muito e que estava feliz com o resultado, já que isso garantia sua bolsa pelo fim do ano. Acompanhei-o em sua alegria, já que poderia manter o diretor bem longe de mim.

Então um Impulso passou por mim. E por ele. Não sei como os dele se manifestam - ele é Filho do Mar - mas o meu passou pelo coração. E doeu. Como doía antes da Ascensão. Nós dois nos encolhemos, e talvez até meus irmãos tenham sentido.

— O que aconteceu? — perguntei em meio a um resmungo.

— O Círculo. Estão tramando algo.

— E você não sabe de nada?

Timothy me encarou, bem fundo nos olhos. Parecia chateado, ou decepcionado.

— Sabe por que sou dois anos mais velho que você e mesmo assim, um Filho? — neguei — Syhrea não respeitou o tempo dos cinco anos.

— Está dizendo...

— Que também não sou só um Filho. Fala sério, você tem Impulsos desde os treze anos. Eu tinha acabado de Ascender quando te conheci. Eu sabia que tinha algo em você que era como eu. Algo... diferente.

— Ser um Filho já é algo diferente.

— Eu sei. Enfim, eu não faço parte do Círculo porque quero. Se parar para pensar, eu sou um erro. Eu sou uma violação.

Como eu, pensei. Dois Setedys, poderes além do permitido. Mordi o lábio.

— Você não é um erro, Tim. Violação talvez, mas não um erro.

— Obrigado.

— O Círculo te obrigou a agir com eles?

— Sim. Disseram que me denunciariam para o Conselho, que é basicamente a reunião dos Setedys a cada cinco anos. Qualquer Filho pode pedir a reunião do Conselho a qualquer momento caso seja um caso sério como o meu. Então cedi. Voltei para a casa do meu pai poucos meses depois de vocês fugirem, juro que não sabia que iriam acabar logo nessa cidade.

— Você nos denunciou?

— Não! Eu juro que não porque quis. Tinha algum outro membro por aqui, e eles... eles te encontraram. Aí tive que relatar, ou eu estaria morto.

— Bem, agora eu vou estar morta.

— Não necessariamente — Tim ajeitou o cabelo — Ainda dá tempo de fugir.

— Não posso. Eu tenho uma casa, amigos, meus irmãos estão felizes. Como posso ir embora agora? Mesmo que fosse sozinha, olhe quantas pessoas estaria abandonando, magoando.

— Stela, por favor...

— Não. Eu vou ficar. Sabe o que vão fazer?

Ele balançou a cabeça negativamente. Fosse qual fosse o plano do Círculo, eu tinha que ficar de olhos abertos.

Tate apareceu na cozinha, assobiando alto demais. Só veio averiguar nossa sessão de estudos, eu sabia. Conhecia os olhares de lado, o passo afetado, o tom do assobio. Atirei uma caneta nele.

— Ei!

— Pega água pra mim?

— Boba. Já terminaram? Aliás, vocês sentiram?

IMPULSOSOnde histórias criam vida. Descubra agora