Dois

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Minutos depois terminei de arrumar a mala, guardando meus poucos quadrinhos e cadernos na mochila da escola. Estava deitada na cama, encarando o teto, com Tate ao meu lado enquanto Louis não chegava. Iríamos viajar de noite, já que por algum motivo Drik não queria esperar até a manhã seguinte.

— Prontos? — Drik apareceu, depois de colocar todas as malas no carro — Vou buscar Louis na lanchonete e vamos.

Alguém bateu à porta. Com força. Força demais.

Tate se levantou na hora. Drik e ele seguiram para a sala. Permaneci no quarto, de joelhos sobre a cama, com medo. Eu ouvia meu próprio coração bater, além da conversa que vinha da sala, poucos metros à frente.

— Oh, que bom que cheguei a tempo. Indo a algum lugar, filho de Tysde?

— Saiam da minha casa.

— Por favor, não seja rude. Só queremos conhecer a última prole da tempestade. E não diga que ela não está aqui, posso sentir o cheiro.

Um espasmo doloroso atravessou minha perna, me fazendo cair de cara no colchão.

— Stela. Vem aqui.

Hesitei. Puxei meus cabelos para trás, encarando a porta.

— Está tudo bem, pode vir.

Fiz o que Drik pediu, me encaminhando devagar para a sala. Fiquei logo atrás do meu irmão, meio escondida por seu corpo. Tate estava ao lado, de braços cruzados, tentando parecer maior do que era. Os braços de nós três se iluminou com o Impulso, mas só eu silvei de dor.

— Tão pequena — O homem à frente se aproximou, e meus irmãos fecharam mais o espaço entre nós — Qual seu nome, querida?

O Círculo. Eles eram o Círculo. Um grupo de seis pessoas, três homens, duas mulheres e um garoto mais ou menos da minha idade. Ele, ao contrário dos outros, carregava um colar com o símbolo do Círculo, um - obviamente - círculo cruzado por três raios. Ao menos era o que parecia. Os demais tinham a marca tatuada pelo corpo, braços, pescoço, peito. O que supus ser o líder usava um paletó sem camisa por baixo, e podia ver a tatuagem subindo por seu peito. Me encolhi.

— Já a conheceu — disse Tate — Vão embora.

— Ela não me respondeu.

— Stela — murmurei — Meu nome é Stela.

O homem sorriu, a cabeça torta. Seus olhos eram castanhos, mas um castanho quente, quase vermelho. Os outros tinham íris dos mais variados tons e cores. Sinais de Impulso.

— Se não querem mais nada, saiam — a voz de Drik parecia um trovão. Um Impulso passou por seu rosto. Senti um eco dele queimar em mim.

— Ela ainda sente. É tão jovem... muito bem. Espero que se preparem, filhos de Tysde. A Noite sem Fim está próxima.

Tate se jogou sobre mim quando uma explosão tomou conta da casa. Gritei, mas mal me ouvi. Segundos depois, tudo estava normal. O Círculo tinha sumido, nada parecia queimado. Agarrei a camisa de Tate, assustada. Ele me abraçou.

— Shh, tá tudo bem. Você tá bem, Drik?

— Sim.

Soltei um grito tardio, abafado pelas roupas de Tate ao meu redor, e então o empurrei.

— O que foi isso? — bati o pé — Quem são eles? Quem é Tysde? Por que vocês nunca me contam nada?!

Os dois pareciam envergonhados. E no fundo, eu tinha razão. Era só terem me contado. Nada disso precisava estar acontecendo. Engasguei com um soluço, caindo de joelhos no chão quando um espasmo, mais forte que o normal atravessou minhas costas. Chorei, muito, a ponto de ficar sem ar. Drik se aproximou e passou as mãos pelas minhas costas, o rosto bem próximo ao meu.

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