Treze

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No dia antes do meu aniversário, que seria quinta, Thales me chamou para sair.

Eu conferia as minhas anotações de biologia com Timothy, que ergueu os olhos para a sombra que se avolumou sobre nós e fez careta.

À essa altura, já éramos amigos. Ele ia na minha casa quase todos os dias, se davam bem com Tate, e por vezes pagava meu almoço. Com dinheiro que eu pagava pelas aulas, já que era justo. Tim não era de família pobre, mas chegou a um acordo com Ana. Ele inclusive me ajudava com outras matérias, então era justo.

— Não, espera aí! — Timothy apontou para mim com um lápis — Você tá a fim DELA? Fala sério, Thales.

O garoto riu, o cabelo escuro caindo na testa. Fiquei vermelha e dei um soco em Timothy.

— Que foi, Bárbara é muito legal. Os olhos dela são lindos.

— Não seja tão impulsivo.

É claro. Eu tinha olhos cor de gelo por causa do papai. De vez em quando, brilhavam em rosa, azul, vermelho por causa dos raios. Quando começou, mesmo que doesse, eu ficava horas na frente do espelho vendo as cores mudarem.

Com um muchocho, Timothy nos deixou a sós. Thales sorriu.

— Quer sair hoje? Tipo um encontro. Eu a chamaria no seu aniversário mas você tem três irmãos mais velhos.

— Um bom momento para conhecê-los, não acha?

— Ainda não tô preparado. Te busco em casa às 19h, ok?

Assenti, animada. Avisei Tate por mensagem. Embora explosivo, era quem mais se controlaria sobre o assunto. Ele disse que estando em casa antes das 23h, não tinha problemas. Thales deu a volta na arquibancada para ir até a quadra jogar vôlei, no único dia em que os times se misturaram e jogaram um jogo único. Estava bem equilibrado e divertido.

Nero apareceu depois da aula em seu carro, e acenou para Timothy que esperava ao meu lado. Virei-me para ele, um pouco aflita. Eu gostava dele, gostava mesmo. Mas se o Círculo descobrisse que ele já não ligava mais para sua posição ou condição no grupo, certamente o matariam.

— Se tudo der errado na Noite sem Fim — falei — Quero que saiba que não te odeio. Quase gosto de você.

Timothy riu. Seus olhos percorreram todo o meu rosto, e por fim estendeu a mão. Apertei.

— Foi interessante estudar do seu lado. Acho que se fôssemos normais, seria uma bela amizade.

Com um sorriso triste, ele se afastou um passo, dando um último aperto em meus dedos. Nero buzinou, então desci as escadas do hall da escola e entrei no carro. Tim iria embora a pé, como sempre. Suspirei e fechei a porta do veículo.

Não há necessidade de comentar sobre o dia seguinte, as vinte e quatro horas que separavam minha vida atual da Noite sem Fim. Meymir continuava sem falar comigo mesmo sendo a pessoa que dividia a mesa comigo. Seu corpo exalava frio, como a noite deveria ser. Quase me afastei, já que todas as minhas tentativas de puxar assunto eram ignoradas, mas não tinha para onde mudar minha cadeira.

Voltei para casa, e me deparei com um vestido preto e vermelho na cama. Decote discreto, saia até os joelhos, e combinava com meus tênis. Coisa da Ana, certamente, então Tate comentou com ela. E talvez com todos. Clarisse apareceu, sorrindo.

— É lindo, não é? Ana disse que combinaria com você. Gostaria de ajuda com o cabelo?

— Mais tarde, pode ser? Ainda preciso pensar no assunto.

Clarisse meneou a cabeça e saiu. Me acomodei no banco perto da janela, abrindo as cortinas ao máximo. O dia estava bonito e quente, e um arrepio passava por minha coluna. Não ia ficar assim, eu conseguia sentir.

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