Deviam ser duas da madrugada quando chegamos ao nosso destino. A primeira coisa que notei foram os portões. Eu estava ansiosa demais para dormir, embora Tate e Louis estivessem prestes a babar.
Era uma mansão. A casa que abria os portões de ferro para nós era enorme. Só a recepção deveria ser maior que minha antiga casa inteira. Boquiaberta, admirei as pequenas luzes amarelas que decoravam o caminho do portão até a entrada da casa.
A casa quase inteira estava escura, já que era meio da noite, e eu, com meus Impulsos, quase era capaz de iluminar nosso caminho. Mal sentia a dor de tanta curiosidade.
Drik estacionou e acordou Louis com cuidado. Eu não tive a mesma paciência e chacoalhei Tate que soltou um Impulso para o teto com o susto.
— Para, Stela — ele virou e quase voltou a dormir. Passou os olhos pela janela e logo estava totalmente desperto — Oh, chegamos?
— Sim, desçam e me ajudem com as malas — pediu Drik — Auri, você vem comigo.
Desci e esperei meu irmão. Os três trocaram algumas palavras ainda dentro do carro, que não pude ouvir porque fecharam as portas e janelas do veículo. Franzi a testa e balancei a cabeça. Os Impulsos não paravam.
Por fim, o mais velho desceu e abriu um sorriso triste. Apertei ainda mais as sobrancelhas no meio da testa, sem entender.
Fomos nós dois primeiro, e bati à porta. Louis e Tate se aproximaram pouco depois.
Um senhor de cabelos quase brancos e um terno impecável abriu a porta. Ele sorriu para nós.
— Devem ser a família Kiran. Entrem.
O mordomo nos guiou até uma sala onde não tinha nada além de uma lareira acesa com beirada ornamentada, considerando o frio que fazia nessa região. Estranhei. Lá dentro, um casal esperava. A moça tinha olhos verdes como esmeralda, e o homem tinha cabelo ruivo.
— Auri, esses são Ana e Nero Alles. Eles vão cuidar de você.
— É um prazer, Auri — disse Ana, dando um passo à frente.
Algo em mim se revirou. Senti vontade de vomitar e recuei o passo que Ana avançou. Drik se ajoelhou na minha frente e segurou meus ombros.
— O que quer dizer com "cuidar de mim"?
— Eles... eles querem te adotar, Auri.
— Não.
— Vai ser melhor pra você — havia certa urgência na voz de Drik, mas na minha respiração também — Eles podem cuidar mais de você do que eu.
— Não. Eu não quero.
— Não precisa ter medo, Auristela — Nero estendeu o braço, talvez tentando me alcançar, e afastei-me mais ainda.
— Auri, por favor — Louis pediu, atrás de mim — Não torne mais difícil.
Lágrimas quentes brotaram em meus olhos. Meus Impulsos acompanhavam os de Drik, pelo rosto, braços e peito, e doíam tanto que eu queria gritar. Minha visão ficou turva, eu não conseguia respirar. Olhei em volta, para meus irmãos que se aproximavam de mim enquanto o mais velho me segurava com firmeza.
— Nós vamos te visitar sempre que pudermos, é... eles vão te tratar bem e te dar o que precisa.
— Eu disse NÃO!
Foi então que aconteceu. Um Impulso tão forte que senti meu corpo todo vibrar. Raios azuis e verdes se espalharam pela sala, explodindo a lâmpada, de algum modo atiçando o fogo da lareira. Uma vela que decorava o local foi atingida, e caiu em cima do braço de Tate. A manga de sua blusa pegou fogo, e levou um tempo para ele conseguir se livrar da vestimenta. O antebraço estava em carne viva, com bolhas, uma textura asquerosa.
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IMPULSOS
Fantasy. Impulsos. Ecos da natureza. Cores carregadas por todos que são filhos de Setedys. Mas para Auristela, ser filha de um Setedys só significa sentir dores - e ter seus raios coloridos aparecendo em horas inapropriadas. Ela lida como pode, mesmo que i...