Sete

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Já tinha dado tempo para alguns filhos de Setedys nascerem. Eu poderia ter um novo irmão ou irmã, mas nenhum deles seria da mesma família que eu e os mais velhos. Tysde e Nipris tinham jurado que eu seria a última, justamente por saberem que a Noite sem Fim colidiria com minha Ascensão. Faltava menos de um mês.

As pedras de anotetista da minha pulseira funcionavam, mas eu tinha tantos Impulsos que doía como se o acessório nem existisse. Por muitos dias acordei com tanta dor que meu corpo se contorcia em febre, e eu não tinha a menor condição de sequer levantar da cama. Ana e Louis cuidavam de mim como podiam, até chegar no ponto de me doparem com analgésicos. Isso quando, novamente, a Ascensão nem tinha começado.

Perdi muitas aulas, minhas notas caíram. Não era problema para minha família, mas sim para o sistema do colégio.

— Prezamos muito pela educação dos alunos — disse o diretor quando retornei, meus braços agora marcados com cicatrizes de tantos Impulsos no mesmo lugar. Queimada de dentro para fora — Mas também pelo prestígio da escola. Todos os nossos alunos precisam de uma média seis, mas é esperado que tenham ao menos oito.

— Por que não colocar oito como média, então?

— É um incentivo.

Não fazia o menor sentido. Franzi a testa para suas costas enquanto o seguia pelos corredores até uma sala vazia. Meus instintos pareceram se eriçar. Impulsos deslizaram pela pontas dos meus dedos. Entrei logo após ele em silêncio. Senhor Marge era muito mais jovem do que Rig era, e isso me deixava um pouco desconfortável. Fiquei encostada na porta e discretamente testei a maçaneta. Marge trancou a porta. Engoli em seco, tentando não deixar meus Impulsos levarem a melhor.

— Temos algumas formas de você recuperar suas notas — Marge me encarou com um sorrisinho malicioso, as mãos se movendo sobre seu cinto, região esta que me recusei a encarar — Posso te apresentar a mais fácil.

— Eu preferiria não saber.

— Oh, está com medo? Garanto que se relaxar, não vai doer.

O diretor se aproximou, diminuindo meu espaço. Ele me tirou de perto da porta, mesmo estando trancada, e deslizou as mãos por meus braços. Um Impulso correu por meus dedos, e descarreguei no moço, que se afastou um pouco.

— Você tem um taser?!

A porta se abriu com um estrondo, o trinco quebrando e lançando lascas de madeira pelo ar. Arfei, aproveitando a distração para empurrar Marge para mais longe. Meymir, minha colega de turma, olhou para mim, para o diretor e para mim de novo.

— Não sabem da regra que diz que é proibido professores ficarem sozinhos com alunos na sala? E não é permitido trancar as portas?

— É, claro. Senhorita Alles, vou designar um aluno que tenha notas melhores para te ajudar com aulas particulares.

Não respondi, o coração ainda disparado. O diretor saiu, com um sorriso controlado para Meymir, que tinha os olhos fixos em mim.

— Obrigada — Murmurei — Não sei o que teria feito.

— Bom, eu sei o que ele teria feito. Você está bem?

— Vou ficar.

— Você é como eu, não é?

— O que quer dizer?

— Aquilo não era um taser.

O Impulso em minha testa me fez encolher. Como eu suspeitava, Meymir era igual a mim.

— Nixta — ela diz.

— Tysde.

Ela sorriu como se soubesse. Tossi para disfarçar o Impulso que correu por minha língua.

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