Nove

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Não podia fingir que estava passando mal de novo, então apenas retornei para a sala de aula e prossegui com as aulas, apresentando um foco impecável na maioria das matérias. Timothy não me assustava mais, o Círculo sim. Mas como Drik dizia, enquanto Renan, o líder, não aparecesse, estávamos relativamente seguros. Só não podiam saber da minha Ascensão adiantada.

No intervalo, mastiguei minha barrinha de cerais caseira que Tate tinha feito, pensando no que fazer. Eu não tinha muitos amigos, só alguns colegas, então ficava na arquibancada da quadra com um livro da biblioteca (ou algum escrito por Louis em seus dias mais felizes) prestando pouca ou nenhuma atenção aos meninos que jogavam futebol em metade de quadra enquanto algumas garotas jogavam vôlei do outro. Era confuso, barulhento e frio, mas quase confortável.

Timothy sentou ao meu lado, o cabelo suado do jogo. Apoiou os cotovelos nos joelhos, encarando a quadra com um sorrisinho. Arrastei meu corpo um pouco mais para o lado e ergui o livro.

— E aí?

— Só porque serei obrigada a estudar com você, não quer dizer que somos amigos.

— Só vim te dar um aviso — Timothy era rápido. Logo estava ao meu lado, a perna colada na minha, o braço ao redor dos meus ombros. Sua voz ficou mais suave ao meu ouvido, um sussurro estranho e leve — O resto do Círculo vai chegar na cidade em duas semanas.

— Uma antes...

— Do seu aniversário, sim. Caso queira fugir novamente, essa é a hora.

Eu não iria fugir. Não de novo, agora que tinha uma vida quase perfeita. Se a Noite sem Fim era algo que eu não poderia evitar, por que sair da casa dos Alles, onde tenho tudo e mais um pouco?

— Enfim, tome cuidado.

— Por que está tentando me ajudar agora?! — me desvencilhei de seu braço, levantando e agarrando o livro de Louis — Você é parte desse negócio, eles estão vindo por sua causa.

— Por incrível que pareça, não.

— Acha que acredito? Você estava lá quando invadiram minha casa, me obrigaram a largar minha vida para trás de novo.

— Você parece bem agora, então acho que deveria agradecer — Timothy ficou de pé, tentando me intimidar, mas não funcionaria. Estendi a mão para empurrar-lhe o peito, mas ele me agarrou com força — Não sabe meus motivos, Tormenta. Não se apresse ao me julgar.

Com esse aviso e um apelido idiota, Timothy soltou meu pulso e se afastou, voltando para o jogo. Agarrei o livro e me retirei da quadra, querendo gritar ou explodir. Estaria agonizando em dor se ainda sentisse meus Impulsos.

Eu tinha ganhado um celular novo alguns meses antes, mas quase não usava por falta de costume. O grupo que eu tinha com meus irmãos consistia em mensagens constantes de Drik perguntando se precisávamos de algo e Tate anotando quando trancava a porta de casa, já que sempre esquecia. Tinha outro com Ana e Nero adicionados, mas não tinha novas mensagens há meses. Entrei no grupo nomeado como "Kiran", o sobrenome que meu pai nos deu.

Auri: PROBLEMAS

Auri: Dessa vez é sério

Louis: Sempre que envolve você é sério

Louis: O que houve agora?

Auri: Aquele garoto Timothy disse que o Círculo chega em duas semanas

Auri: Aliás ele é meu tutor de biologia e vai aparecer em casa hoje à tarde

Drik: como é?

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