Dezesseis - Final

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Seis meses depois

Eu e Timothy voltamos a nos encontrar talvez dois meses depois das férias de julho. Dois meses e meio depois da Noite sem Fim. Minhas notas estavam estáveis o bastante para eu não precisar mais de suas aulas particulares. No fim, acho que nós dois sentíamos uma certa conexão por causa do Círculo. Duas vidas manipuladas por pessoas mesquinhas demais.

Drik ficou meio receoso com a volta às aulas. Ficamos três semanas sem aulas para reformarem o máximo possível do ginásio. Nenhum dos meus irmãos estava feliz em me deixar sair de casa, mas não tinha outra opção.

Como numa das primeiras vezes que nos falamos, ele sentou ao meu lado, dessa vez na biblioteca da escola. Mas ao invés de me arrastar para longe, cheguei mais perto.

— Não vai jogar hoje?

— Não tô afim. O ginásio ainda está parcialmente quebrado. Não consigo ficar lá. E você, como está? Perdeu a melhor amiga, o namorado...

— Não era meu namorado. No fim, ele me enganou. Não vou mentir, sinto falta deles. Ainda é muito recente.

Silêncio. Timothy separou as pernas para que o joelho tocasse o meu.

Com o tempo, retomamos a rotina. Ele continuava aparecendo na minha casa, mesmo que não estudássemos nada, e por vezes ficávamos sentados no chão do meu quarto, as costas na parede, minha cabeça em seu ombro, ouvindo nada além da brisa lá fora. Outros dias, saíamos logo depois da aula e ele me mostrava restaurantes com comida gostosa e barata, ou então íamos para casa fazer doces e bolos. Ana gostava dos dotes culinários de Tim, e já o considerava da família. Sem ninguém além dos pais adotivos e dos colegas da escola, eu era o mais próximo de uma melhor amiga que ele tinha - embora ele me roubasse mais beijos do que parecia certo para "amigos".

Ele se formou no fim do ano. Ninguém na cidade tinha uma explicação para a destruição do ginásio, ou para a Noite. Nós tínhamos, mas nem uma única pessoa na cidade acreditaria em nós.

No natal, fomos ao túmulo de Thales e Meymir. Ficamos em silêncio pelo que pareceram horas. Os túmulos deles estavam lado a lado, com placas dizendo que eram bons amigos, bons filhos, bons irmãos.

Timothy passou o braço por meus ombros, inquieto. Ele não gostava de estar ali. Essas pessoas o tinham manipulado, agredido, chantageado. Mas eu precisava desse desfecho, dessa conclusão, e como tinha algo entre nós, ele aceitou ir comigo.

Deixei um pequeno buquê de rosas brancas para Thales, e de damas-da-noite cor-de-rosa para Meymir. Combinavam com ela.

Dois anos depois

Era dia da formatura, mas eu não sabia se queria ir.

Meus dois melhores amigos tinham morrido dois anos antes, durante um evento chamado Noite sem Fim, quando o sol foi mantido sob uma névoa por três dias. Ninguém, até hoje, sabia explicar o que aconteceu.

Os Setedys fizeram um acordo: durante vinte anos, não desceriam à Terra, e não teriam novos Filhos, como forma de luto pelos que morreram naquela noite. Foram cerca de sete mortes. Nenhum outro Filho queria se envolver.

Nipris e Tysde apareceram em nossa casa um dia antes da formatura. Mamãe elogiou meu cabelo, mesmo eu sabendo que estava um desastre. Eu não me reconhecia no espelho, estava tão cansada dos pesadelos envolvendo a Noite há anos que cortei tudo com uma tesoura escolar sem ponta. Ficou torto, cheio de pontas, mas por algum motivo me fez sentir melhor. Cogitei pintar, mas Ana confiscou meu cartão de crédito.

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2023 ⏰

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