Capítulo 19

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"Eu fui tão sagrada para você como você foi para mim? Nós sangramos da mesma maneira?" - Autora.


    As prateleiras de livros do castelo celestial parecem infinitas. Minhas costa doem de tanto carregar livros, mesmo assim, continuo encantada com a beleza da biblioteca mais longa que já vi. Sua prateleira são verdadeiramente longas e douradas, repleta de títulos nos mais diversos idiomas.

     Carmelita achou melhor que eu começasse meu trabalho de serva aqui, segundo ela, eu não tinha aparência de alguem que trabalha na cozinha. Ela não poderia estar mais certa. Contudo, também não sou muito boa no trabalho de cuidadora de obras raras. Não estou acostumada a carregar pesos e, pelos Deuses, esse livros são muito pesados.

     Deixo meu corpo cair no sofá de um braço só de coloração escura e descanso a cabeça em sua curvatura. Fecho meus olhos por alguns instantes.

     Eu corpo estava cansado, mas minha mente, muito pelo contrário, está no limite da perturbação. Os dias em que passei aqui foram, no máximo, bons. Então, apesar de tudo, não consigo entender como não estou tão confortável como esperava.

     Deram-me um quarto pequeno para que eu possa chamar de meu, não era como aquele que Agnes me colocou, muito menos parece com o que eu usava no submundo; ele é mais simples e pequeno. Não algo que estou realmente acostumada, mas não é como se eu fosse reclamar. No mundo humano, meu mundo, eu era uma princesa, aqui eu sou apenas mais uma serva dos Deuses. E é uma honra, sei disso.

     No inferno, por outro lado, nem sei o que eu era. Se o brinquedo de Amon ou algo a mais.

    No tempo em que estive aqui, não muitos dias, ouvi apenas murmúrios sobre minha chegada e algumas coisa realmente cruéis em relação a Amon. Se em algum momento ele já foi adorado pelo povo de Selentys, esso já não é um fato dos dias atuais.

      — Jovem Melina. — Carmelita me chama com sua voz doce. Abro meus olhos e  a vejo caminhando em minha direção com um pequeno sorriso.

      — Carmelita, deseja algo? — Levanto-me para cumprimentá-la.

      Ela balança a cabeça para os dois lados. Seu olhar desce pelo vestido de ceda branco no meu corpo e aponta.

     — Combinou com você. As costureiras de Selentys são muito boas, poderíamos pedir que façam mais iguais para você.

     — Podemos fazer isso? — Pergunto surpresa. Como apenas servas, não imaginava que teria este tipo de privilégio.

    — Normalmente, não, mas o senhor Agnes disse para providenciar o que a senhorita quisesse. — Ela junta as mãos na frente do corpo. — Ele está sendo tão prestativo. Creio que se deva... Ah... Você sabe.

      Ruborizo.

    — Não precisa poupar-se de palavras sobre minha estadia no inferno. — Na verdade, preferia que ela nem tocasse no assunto, mas não adianta fingir que isso me causa algum sentimento ruim.

   Viro-me para as grandes prateleiras e sorrio.

   — São tantas histórias fascinantes, não acha? — Falo, distraindo-nos do assunto. Sei que meus olhos devem estar brilhando. — Adoraria conseguir ler todos.

    — Não sou muito boa nessa coisa de ler, Minha jovem. — Ela diz banalmente. — Mas se é o que deseja, creio que possa lê-los. Seu trabalho é aqui.

   — Isso é incrível, Carmelita. — Abraço-a. Ela é um pouco mais baixa que eu e seu corpo avantajado a faz parecer a mulher mais fofa que já vi.

    — Certo certo. — Ela se afasta sorrindo e paga minhas mãos. — Vou levá-la para conhecer algumas partes do palácio que você ainda não foi apresentada.

    Ela começa a me puxar pelos vastos corredores bem decorados; vasos, quadros e desenhos preenchem o lugar de forma perfeita.

    — Por aqui fica os templos particulares dos Deuses. Não temos permissão para entrar neles sem um convite. Aquele ali. — Ela aponta para uma porta vermelha com estampas dourada. — É o templo da Vossa Majestade Celestial Aisha. Ela é muito reservada, então divido que a veja, a menos que ela queria que você o faça. Mas nunca, sob nenhuma circunstância, procure-a. — Avisa atentamente. — A porta amarela é o da Haydée, ela dificilmente pode ser gentil, e passa muito do seu tempo na biblioteca, mas recomendo que não a perturbe também quando ela estiver lá.

     — Tudo bem. — Aponto para outra porta; ela é verde, mas seus detalhes são em dourado . — E aquele?

      — Akio. — Balança a cabeça para os dois lados. — Ele adora dar festas e promover batalhas amigáveis em sua Arena. — Estremeço. Isso me faz lembrar da luta na Arena da Ira. A monstruosidade... — O que ouve, querida? — Pergunta como se tivesse percebido minha inquietação.

     — Não foi nada; pode continuar.

     — A porta branca é o templo da bondade. Amabel é um ser de luz incrível. Já entrei várias vezes aí. Ela adora nos convidar para tomar chá e contar histórias.

     — Até mesmo as servas?

     — Principalmente as servas. — Ela pisca para mim.

     Caminhamos um pouco mais pelo corredor.

     — A violeta. — Aponta. — É de Agnes. Também não recomendo que se aproxime sem que ele permita.

     — Sem querer ser desrespeitosa, mas como ele me tirou de lá?

    — Não era para saber. — Olhou para os lados. — Mas eu ouvi alguns murmurinhos dos anjos.

     — Anjos?
 
     — São guerreiros celestiais. — Balancei a cabeça em concordância. — Eles comentaram algo sobre as "barreiras do inferno" terem enfraquecido, então Agnes, com toda sua bravura, aproveitou a oportunidade para tirá-la de lá.

      — Barreiras? — Estreito os olhos para uma porta azul, logo deduzo a quem pertencia. — Os Deuses não podem entrar no inferno?

    Balança a cabeça para os dois lados.

     — Amon governa aquele lugar como um tirano a milênios; os Deuses não podem intervir, porque ele o reivindicou como dele.

   Reivindicou como dele. Talvez tenha o feito com coisas a mais.

    Resolvo não responder a isso.

    — Aquele é o templo dele? — Pergunto olhando fixamente para a porta.

   — É, mas ninguém entra aí a séculos.

   — É proíbido?

   — Todos temem o que aconteceria caso pisassem no lugar sagrado do rei do submundo.

    Deus da Proteção - eu quis dizer. As palavras ficaram entaladas na minha boca com o gosto amargo da ingenuidade. Seria hipocrisia minha caso falasse isso; eu, melhor do que qualquer um deles, sabia que o primeiro instinto de Amon não era mais proteger.

   Arruinar. Isso é o que ele gosta de fazer agora.

    Arruinou minha mente. Arruinou meu corpo. E meu coração...

     Amon talvez também tivesse arruinado meu coração.

    


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Capítulo não revisado. Perdoe os erros.




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