Capítulo 25

40 5 1
                                    

     "Você arruinou meu coração, escreveu nele seu nome com a mais pura tinta e o abandonou com suas palavras." - Autora.

 

  A sensação de perder alguém que você ama, mesmo que não admita, é a mais arrebatadora possível. É como ver seu mundo desmoronar embaixo dos seus pés, tirando o chão que você acredita existir, sua estrutura e seu ar. É sufocante, doloroso demais para alguns corações. E o meu, quando colocado nessa balança, parece que desapareceu do peito. Se apenas um buraco vazio agora existir no lugar do meu coração, esse buraco ainda clamará o nome dele.

   Existem muitas formas de morrer, das mais dolorosas às mais pacíficas; mas assistir seu amor perder a vida, com certeza, é a forma mais desastrosa de perder a sua.

   Não tinha como não sentir. Aquela dor estava ali, cutucando minha alma e me dilacerando aos poucos. Eu me sentia destruída, e talvez, só talvez, eu realmente estivesse. Afinal, quando é exatamente que perdemos nossa vida, quando morremos ou quando nossos amados morrem?

    Eu não sabia responder. Era impossível para mim. Eu nem sequer queria admitir o que sentia por Amon, e, agora, do que isso importa?

   O pesadelo realmente me destruiu.

   Passei os últimos dias pensando no que Agnes falou, se ele realmente mataria meu Amon. E nesse momento, afogada nas profundezas crueis desse maldito pesadelo, ele o fez. Matou-o. Mas eu também o matei.

   A dor disso não pode ser colocada em uma balança com mais nenhuma na minha vida. Ela é insuportável. Vê-los, todos eles: Lilian, Amon, meus irmãos e meu povo, mortos. É sufocante, dolorido.

   Meus gritos se tornam algo arranhado, quase inaudível até mesmo para os meus ouvidos. Acordo em um susto na cama de pedra. Lágrimas secas cobrem o meus rosto, mas logo dão espaço para uma nova onda de tristeza.

   Há flores pretas ao meu redor, muitas delas, centenas ou milhares. Todas caídas no chão como corpos sem vida. As flores que para Amon representam seu povo, aqueles que habitam em seu reino de pecados, agora estão ao meu redor. Elas preenchem a sala de uma energia sombria. Um cheiro podre e amargo borra o ar, como as almas mortas que estavam no meu pesadelo. Meu estômago embrulha, a vontade de vomitar tomando conta de mim.

   Desço da cama de pedra sem forças, incapaz de acalmar meu choro doente. Não tenho mais controle das minhas lágrimas, do meu corpo ou da minha mente assombrada.

    — Por que ela já acordou? — Ouço a voz afastada de Haideé, porém não a vejo. Não vejo nada a minha volta, apenas flores escuras e restos do pesadelo. Minha assassina. As malditas palavras predem meus pensamentos. — O que está acontecendo? — Ela exige uma resposta, mas não acho que esteja falando comigo. Sua pergunta não foi para mim; no entanto, não consigo me lembrar de quem mais está nessa sala.

   Tudo que lembro é do corpo dele, das suas frases gentis e toques carinhosos. Irreais. Tudo para ser tirado de mim com a mais pura crueldade.

   Ele está morto. Ele sangrou aos poucos e morreu nos meus braços.

   Manco pela sala, sem conseguir encontrar um rastro sequer de esperança. Meu peito ainda dói, mas não é a dor fictícia do início do pesadelo. É a dor da perda. Uma dor nua e crua.

   — Algo está acontecendo. — Uma voz masculina distante, esta que não consigo descobrir de quem é. É uma voz rouca, potente. Uma que me causa náuseas.

   Não consigo me manter de pé, minhas pernas falham me levando ao chão. Caio em cima das flores, desfalecida e fraca demais para tentar levantar-me. Quando sinto as flores tocarem meu rosto, tento afastá-las com tudo o que posso. Esperneio-me a fim de me livrar do contato delas contra minha pele fraca. Saliva sai da minha boca entre o choro perturbado, misturando-se com as lágrimas incessantes.

Inocente PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora