Capítulo 26

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  "A ilusão, mesmo que não pareça, é algo lindo; experimente-a algum dia." - Autora.

   A princípio, sempre pensei muito em como pagaríamos por nosso pecados; o quão dolorosa seria a luta para nos redimir por nossas más ações. Mas, tenho que confessar, nunca pensei que o castigo fosse ter nossos pecados virados contra nós mesmos. E não estou falando de como funciona no inferno; porque isso é mais triunfante, se pararmos para pensar.

   A dívida é paga com o próprio pecado. Simples. Você o terá de volta, não importa o que seja, cada pedaço de ruína que causou será seu mais uma vez. Mas, nesse caso, ele te arruinará.
  
   O caminho até o meu pequeno aposento parece mais longo que o habitual, onde posso jurar que as longas paredes estão maiores, tornando-me um ser menor, mais insignificante. O chão de rachaduras dourados brilham sobre os meus pés, e meus olhos doem com o excesso de claridade.

   Não sei exatamente como cheguei ao quarto, não me lembro totalmente do caminho, mas meus pés conseguiram me trazer sem que minha mente faça muito esforço para distinguir o caminho certo.

   Abro a porta com calma, apertando o punhal nos meus dedos, então eu entro. As paredes pequenas de alguma forma me trazem um pouco de conforto. Giro em meus calcanhares e encosto a cabeça na porta ao fechá-la. Fecho os olhos e respiro vagarosamente.

   Fico por alguns segundos ali, apenas parada, tetando tomar o resto de sanidade que tem em mim e me segurar nela com força o suficiente para não perdê-lq agora.

   Pouco depois, o ar no quarto parece mudar. Quando espero estar mais consciente, tenho certeza que não estou sozinha. Agarrando a arma em minhas mãos mais forte, solto um longo ruído de garganta, que dói, devido os meus gritos anteriores.

   — Sinto pela minha invasão ao seu aposento.

   Eu realmente não esperava ouvir essa voz. A força e poder que ela carrega é demais para lidar no momento. Mas eu sabia, assim que saí do templo de Amon, que nada seria fácil por agora. 

   Talvez eu podesse refletir melhor sobre o momento, estaria amedrontada por carregar o punhal em minhas mãos. Em vez disso, aperto-o em minha mão direita como se isso fosse minha única salvação. E poderia ser, mas, não tenho certeza se eu seria capaz de me salvar.

   De todos eles, salvar-me dela seria uma tarefa impossível. Então escondo a arma em frente ao meu corpo, e apenas levanto meu rosto.

   — Em que posso lhe ser útil, Minha senhora? — Murmuro, deixando o cansaço transparecer em minha voz, consciente de que talvez não seja algo bom.

  — Vire-se para mim. — Haideé ordena. Sua voz chega até mim como um longo eco poderosos. — Deixe-me ver seus olhos, quero saber como está a sua alma.

   Minha alma não a agradará, muito menos meus pensamentos constantes. Saber que o pesadelo não funcionou despertará sua fúria. Ou ela já está a par disso, e apenas quer confirmar até onde isso me danificou realmente.

   Viro-me para ela, apertando meus olhos por um momento e escondendo o objeto em minhas mãos atrás de mim.

   — Você tem muita dor nestes belos olhos,  Melina. — Ela está a alguns passos de distância, parada ao lado da minha pequena cama, usando vestes diferentes do que quando estávamos na sala dos pesadelos. Agora, um vestido cinza cobre seu corpo, com um longo véu a partir dos seus ombros que desce até o chão. A cor obscurece ainda mais sua presença. — Dores do coração. O pesadelo foi um fracasso, sinto muito. Tenho conhecimento de que tudo o que viu provavelmente ficará alojado em sua mente, torturando-a, e preciso garanti-la de que essa não era nossa intenção.

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