Capítulo 28

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  Eu poderia ter escolhido melhor minhas ações nesse momento, seria o mais sábio a se fazer. Mas quando o vi parado ali, esqueci de cada um ao nosso redor.

   Os olhos de todos se voltaram para mim, como um intrusa que ousa interromper um momento importante. Meus olhos não ousam deixar os dele, talvez com medo de que isso ainda faça parte de outro pesadelo. Não tenho tempo de raciocinar minhas ações no momento, mas meus pés começam a possuir vida própria e caminhar na direção de Amon.

   Corro em passos rápidos e desesperados, esbarrando nos poucos que ainda estão entre nós, então cesso meus passos na sua frente.

   Ele me encara de volta. Não há tempo que ninguém diga uma única palavra antes que eu pule em seus braços. Ele envolve minha cintura com uma mão e me aperta contra seu corpo forte.

    Tudo está parado de repente. Só eu e o meu Amon somos sentidos, como um sentimento verdadeiramente genuíno.

    Ele pode não sentir o mesmo por mim, mas eu o amo, e não consigo, nem quero, lutar mais contra isso.

    Aconchego minha cabeça na curva do seu pescoço e continuo agarrada nele como se minha vida dependesse disso. Minhas mãos ao redor do seu pescoço; trêmula e fraca, eu me uno a ele sem querer soltar. Esqueço até mesmo da plateia que nos assiste e das consequências que podem vir dela.

   Não me importo com isso agora. Só com ele. Meu Amon. Que devolve meu abraço como se sua existência também dependesse do nosso toque físico depois de tanto tempo.

    — Melina. — Ele murmura no meu ouvido. Meu coração palpita. — Alteza, tenho tendência a gostar de plateias, mas essa não é a mais adequada.

   — Você veio me buscar? — Sussurro como uma criança, com a voz abafada pelo seu corpo.

   Um barulho alto ecoa pelo salão, os murmúrios começam. Levanto minha cabeça.

   — É um reencontro realmente emocionante. — Akio interfere. Ele nos olha com repulsa. — No entanto, sinto em ter que interrompê-los. Amon, afaste-se da nossa serva.

   Amon fica rígido.

   — Me obrigue. — Ele branda. Solto-me do nosso agarre, mas sua mão não me larga em nenhum momento.

  — O que for necessário.

   Arregalo um pouco os olhos e tento me afastar dele, apenas para evitar mais conflitos em um momento de tanta tensão. Ele reluta em me soltar, seus olhos me contemplam com dúvida.

    — Por favor. — Falo para que apenas ele escute.

   Ele me solta. Seus olhos encontram os meus, e eu abro um pequeno sorriso para ele. Mesmo que tudo não fique bem, espero que ele saiba o que esse abraço significou.

   Os quatro estão sentados em seus tronos, exercendo sua superioridade, como se tivessem que provar isso agora que Amon está aqui, e a nossa volta está repleta de demônios. Todos sem rostos, claro, e com roupas de batalha escuras.

    A falta de Agnes é mais do que perceptível, mas os olhos afiados de Haideé em mim afirmam que ela sabe o que aconteceu. Assim como minha roupa manchada com o sangue de um Deus acusa-me dos meus pecados.

    — Melina, o que aconteceu com você? — Aisha pergunta, sua feição mostra seu interesse em meu bem-estar.

    Eu não respondo. Prendo o ar nos meus pulmões e dou um passo para trás, como se isso fosse me salvar de alguma penitência.

Inocente PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora