Epílogo

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    Somos capazes de passar a vida toda procurando por felicidade e nunca a encontrar. Morrer esperando por algo que acredita existir, e ignorando cada coisa diferente dela que aparece por nosso caminho. Fomos feitos assim. Com esse extinto de sempre estar buscando.

  Mas isso é apenas mais uma tolice que cometemos como humanos.

   Podemos buscar por décadas, mas se não aceitarmos a felicidade ela nunca chegará realmente ao nosso coração. E é lá que ela estará viva, dentro do peito, batendo a todo momento um pouco mais, aguardando um último sopro de vida.

    Eu queria encontrar essa felicidade, passei toda minha vida no mundo humano desejando-a, sem nunca tê-la para mim. Antes da juventude, antes da doença e antes da morte, eu sempre a quis, para guardá-la como uma menininha egoísta.

    Quando estou de volta ao mundo infernal, de pé na sala do trono e sozinha com Amon, sinto que encontrei tal felicidade.

   Minha felicidade é alguém, não um momento ou lugar.

   — Pensei que a tinha perdido você. — Ele começa. Estou de frente para um grande trono que é coberto por flores escuras. — Eu sabia que a tiraria de lá, mas não achava que tinha algo em seu coração disposto a me escutar.

    — Agora acha que tem?

    Consigo sentir seu sorriso em minhas costas.

    — A garota que pulou nos meus braços como se fosse sua própria vida quer me ouvir e perdoar. — Mordo o lábio inferior. — Sei que não a tratei da melhor maneira desde o início e estou disposto a me redimir por isso. Eu deveria tê-la colocado em um pedestal assim que coloquei meus olhos em você, acho que isso teria irritado mais meus irmãos.

    Aperto as mãos.

    — Mas não é sobre eles agora. Não é a muito tempo. — Escuto seus pequenos e fortes passos. — Como poderia ser sobre eles se tudo o que penso é em você? Em como você é o ser mais admirável que já vi ou em sua aparência perfeita. Nesses cabelos longos e macios. — Toca minha nuca.

   — Amon... — Murmuro engolindo o ar.

   — Penso nesses olhos com frequência e nesse corpo quente como o fogo. — Uma de suas mãos desliza sobre minha coxa direita. — Lembro-me de quando chegou aqui, eu fui enfeitiçado assim que meus olhos caíram sobre você.

    — Você matou pessoas por minha causa.

    Ele gruda seu corpo ao meu, fazendo meus olhos se fecharem. Meu corpo queima por ele.

   — Eu dizimaria os três mundos e viveria em suas ruínas por você. Mataria cada alma viva se isso significasse viver minha vida egoísta ao seu lado, Alteza. — Amon me vira para olhar em seus olhos. As belas íris azuis escuras que me arruinaram desde o primeiro momento. — Quero que seja a  Deusa dos pecadores, minha rainha, a mulher por quem eu daria tudo.

    Abaixo meus olhos envergonhada e pensativa. Como isso é possível? Haideé falou de Amon como se o achasse tão capaz quanto o próprio Atrous, mas é difícil de acreditar em algo assim.

   No entanto, apesar de tudo, cada grama do meu ser clama por ele. Não seria capaz de negar tal pedido, porque isso é uma honra para mim, e uma realização sob os olhos de Amon.

    — Eu aceito.

    — Aceita a responsabilidade que terá que carregar sobre eles? — Aponta para as flores do trono. As almas condenadas, sem esperança.

    — Aceito tudo por você. — Levo minha mão ao seu rosto para ter certeza que não estou a alucinar o momento. Porque se já sucumbi a loucura, me deixe me afogar  nela. — Eu amo você.

    — E eu não sou digno disso. — Ele beija minha mão e eu beijo a sua. — Mas agora vivo por você. Se me quiser para sempre, então para sempre estarei ao seu lado. E se algum dia deixar de me amar, este será o dia que a existência de um Deus foi negada.

    Ele me beija. Sinto algo diferente pelo meu corpo, meus pelos arrepiando e uma vida ascendendo em mim. Nosso contato gera uma luz brilhante ao nosso redor.

    Quando nos separamos, estou com uma rosa branca na minha mão.

    — O que foi isso? — Pergunto.

    — Seu poder é uma extensão do meu, assim como sou do de Atrous.

    — Como fez isso?

    — Não posso revelar todos os meus segredos, Deusa dos pecadores.

    Sorrio e o agarro para calar sua boca audaciosa com um beijo ardente.

[...]

   Lilian me puxa pela mãos até o meio do salão. Seu sorriso é encantador e seduzente, assim como toda ela.

   Passamos um bom tempo juntas depois que voltei, sempre com a desculpa de que quer compensar o tempo que estive fora. Mas desconfio que ela gosta de ser a amiga mais próxima de uma Deusa.

    E, inferno, não sei do que gosto mais sobre esse maldito poder. Se é a popularidade boa que ele me trás aqui no inferno ou a esperança para aqueles que sempre foram subjugados.

   Eu entendi depois de um tempo por que Amon me queria assim. Ele me trouxe para cuidar dos seus da mesma forma que ele cuida. Para honrá-los quando ninguém mais quis fazer isso.

    Os pecadores são meus para cuidar e jamais julgar. Porque esse, afinal, é o trabalho dos Deuses de Selentys.

   — Vamos romenin, majestade? — Lili pergunta com uma expressão maliciosa.

   Amon sorri para mim ao nosso lado.

    — Eu nunca ousaria recusar, não é mesmo, querido?

    — Claro.  — Ele me agarra pela cintura. — Dance, Alteza.

  Fim.










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Mas esse não é o fim dos Deuses Virtuosos. Aguardem o livro 2. A Deusa virtuosa em justiça, Aisha, terá sua história de amor contada em breve (ou tão breve quanto posso terminar de escrever).

Bjsss.

Inocente PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora