Capítulo 8

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"Os olhos enganam, tente enxergar com o coração." - Autora.

Aprecio por mais um bom tempo as rosas que ilustram a presença impactante daquele lugar. Aspiro mais fundo o aroma adocicado e margo ao mesmo tempo, que domina o ar de forma tão profunda. Facilmente ficaria viciada em tal perfume; uma combinação fascinante. Pela primeira vez senti que, mesmo nas profundezas do inferno, não estava cercada pelo pecado. Apenas a paz e a singela calmaria.

Sorri com tal pensamento.

Penso em ficar ali por mais um bom tempo, apreciando a vista e desfrutando de toda a energia pacifica que este lugar tem a me oferece. Permito-me fechar minhas pálpebras cansadas por alguns longos segundo e gravo a sensação incomum que se alastra pelo meu peito.

A bela paisagem do jardim me fez esquecer de onde estou, do mundo em que me encontro, do pecado que me rodeia, mas não posso esquecer. Meus olhos apenas estavam sendo enganados por uma agradável mentira contada pelas flores calmantes.

E os Deuses que perdoem, mas uma bela mentira pode ser muito mais atraente e hipnotizante que uma verdade indelicada e brusca. Talvez preferir encarar o irrel e perfeito aos nossos olhos seja uma escolha, de fato, boa quando se tem um coração carente e frágil. Mas a mentira bonita tem um ponto ruim, um ponto que nos torna patéticos por acreditar nela, porque no fim, mesmo boa ou ruim, sempre vai ser algo contrário da realidade, uma mentira.

E uma bela mentira funciona bem para alguém como eu. A filha mais nova de um rei cruel, ignorada por todos e quase nunca mostrada aos súditos. Desprovida de quaisquer habilidade de fazer amizade e totalmente tímida. Nunca fui um símbolo a ser lembrado por minha grandeza. Morri como a filha mais nova do rei. Minha existência se resumi a isso, nada mais nada menos.

Solto um suspiro entristecido abaixando a cabeça.

- Olá. - Uma voz doce murmura atrás de mim. Olho por cima do ombro e vejo uma garotinha de pele clara e olhos escuros. Linda. - Quem é você? - Pergunta se aproximando.

Analiso-a completamente com a testa franzida. Procuro a minha volta por onde ela possa ter vindo, já que a entrada fica a minha frente.

- Melina. E você? - Falo com a voz suave. Ela não parece ter mais de sete anos. Pergunto-me o que faz em um lugar assim.

"O inferno não é para todos." Amon disse isso no dia em que o conheci, justamente por isso a presença dessa garotinha é um grande questionamento na minha cabeça.

- Cora. - Ela sorri fazendo o meu coração se derreter.

- O que faz aqui, Cora? Este não parece ser um lugar para você.

Seus olhos brilham com algo que faz ter um calafrio, mas logo ficam suaves de novo. Ela caminha até estar frem a mim.

- Posso fazer a mesma pergunta para você? - Seu tom era sério. O mais sério que uma criança da sua aparente idade pode chegar. - Passeia comigo, por favor.

Nem sequer penso em recusar. Algo nela não me permitiu, obedeci ao seu pedido como um cãozinho treinado. Ela pega na minha mão e caminhamos até a saída do labirinto.

Observo-a mais atentamente.

- Estou aqui porque mereço, tenho pecados. Este é o lar dos pecadores. - A sinceridade em sua voz me assusta. - Aqui não é seu lar, Melina. Sinto isso em você.

Reprimo a vontade de correr dela para o mais longe que conseguir. O aperto em minha mão aumenta, como se ela lesse meus pensamentos.

- Não fuja de mim, por favor. - Seus olhos parecem marejar, assinto rapidamente. - Sou muito sozinha aqui. É difícil encontrar alguém que queira se aproximar de mim.

Inocente PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora