Capítulo 01 - Chamado

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O dia havia iniciado a rodopiar e fazer acrobacias pelo céu enquanto esbarra em algumas nuvens que passeavam pela imensidão. Alterna a dança entre as partes altas da amplidão para a parte mais superficial da terra. Vez ou outra carrega consigo um pouco de poeira, folhas ou pólen que se agitaram com a passagem.

Em algumas delas, fazia algumas estripulias para assustar quem estivesse em volta para observar o pequeno tornado que aparecia em um campo aberto descoberto, subindo para o páramo carregando um pouco de terra e se dissipando no ar.

Após tanto dançar e fazer traquinagens, uma cabana de madeira no meio de uma floresta é visitada. Ali estava uma garota sentada na varanda, lendo um livro com a capa velha e surrada, mas com seu interior bem conservado, com tanta concentração que pequenas rugas se formavam em sua testa.

Como bom amigo que era, trouxe a atenção da jovem para o mundo fora das folhas de papel. Soprou gentil e friamente os cabelos dela, mostrando que o sol deslizava preguiçoso para o outro lado do céu e que logo a lua apareceria.

— Você por aqui? - Questionou a garota deitando o livro em seu colo enquanto se espreguiçava com um sorriso suave nos lábios - Esteve ausente desde cedo. Tive que limpar tudo sozinha sem sua ajuda.

As folhas das árvores ao redor farfalharam como resposta.

— Ei, ei, ei! Pare com isso! Só vou limpar amanhã de manhã. Se continuar, terei muito mais trabalho.

Por um segundo, o som das plantas se intensificou derrubando algumas folhas, enquanto, no segundo seguinte, cessou.

— Tá! Já entendi! - Levantou-se da cadeira agitando as mãos no ar vendo a pequena bagunça - Já estou indo! Sabe, os peixes não fugir do rio, eu só não tenho muita sorte com o anzol. Você sabe, aquilo é meio assustador até para mim.

Recebeu um forte empurrão nas costas fazendo com que desse dois passos à frente e soltasse um suspiro cansado enquanto arqueava as costas.

— Eu seeei! Não tenho me alimentado direito por conta disso. Mas prometo que dessa vez será decente.

Sua tez foi acariciada gentilmente fazendo com que um pequeno sorriso desenhasse sua boca entendendo que um acordo havia se formado. Começou a dançar pelas madeiras que faziam sua melodia quando pisava em algumas mais antigas, enquanto fazia seu caminho para dentro da casa e logo saindo com seu material de pesca.

Saltou o degrau da entrada da casa marchando para a floresta. No caminho, encontrou um sapo e logo se pôs a imitar seu jeito de locomover ao colocar as mãos no chão e dar alguns pulos.

Enquanto ela ria seguindo o anfíbio, já próxima do rio, pode ouvir um murmúrio vindo de um arbusto, fazendo com que se endireitasse de imediato.

— Eu te disse que ela estava morando aqui. Também te disse que ela é esquisita.

A garota continuou seu caminho trêmula enquanto imaginava se havia estragado todo o plano e o propósito de estar naquele lugar sozinha.

— Ei, esquisitona! Onde pensa que vai?

Pode ouvir as folhas dos arbustos se mexerem e a voz que vinha deles, onde dois meninos apareciam, enquanto mantinha os olhos no rio. Os dois se aproximavam de suas costas e, ao longe, na beira do rio, a garota pode testemunhar dois tigres aparecerem.

— Abaixem-se! - Ela pediu quase em um sussurro.

— O quê? Por que te ouviríamos?

— É! Por que? Você é a esquisitona que saiu da escola e veio morar aqui.

— Tigres... dois... no rio... - a jovem sussurrou - ... quietos...

— Tigres? Está maluca? Não existem tigres nesse pa... - a fala do garoto foi cortada quando viu o animal se refrescando nas águas cristalinas.

Contos de Uma Peregrina - DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora