Capítulo 11 - Floresta

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Sobre o sacolejar suave das garupas dos cavalos, passamos seis dias viajando desde a partida do oásis, parando durante as noites para um merecido descanso de nossa montaria. Mesmo que resistentes ao ambiente, eram animais e não eram feitos de ferro.

Desde que Artifae soube da minha capacidade de compreender os animais, pedia-me constantemente para averiguar como os animais estavam durante as viagens do circo. Desde os cavalos aos elefantes e leões.

Durante esses dias, meu mentor se manteve ainda mais atento, tanto que um suricato poderia correr o risco de perder para ele em uma competição de sentinela mais perspicaz. Mesmo enquanto me explicava sobre os elementos da alquimia e diversas outras coisas que eu já deveria saber para minha idade, ele se mantinha em alerta sobre a ameaça daqueles projetos de lagartixas humanas aparecessem.

Os dias escaldantes eram preenchidos pela voz de Artifae mais do que a minha. Ele havia me ensinado que nosso corpo é repleto de água em sua composição. Que nosso sangue carrega oxigênio que trabalha em nosso corpo e ajuda na formação de calor para que uma determinada ação aconteça, como piscar. Por fim, a eletricidade que está concentrada em nosso cérebro, mas se espalha pelo corpo todo enviando comandos para que ações aconteçam. Também explicou que a alquimia de eletricidade era a mais difícil de se controlar, uma vez que você se descuida, seu cérebro cozinha e nunca mais volta ao normal. Segundo ele, existiram poucos alquimistas da eletricidade como ele. Havia outros seis além do meu mentor.

Já as noites, eram compostas pela sua quietude costumeira que era interrompida pela melodia do ferro sendo batido pelo ferreiro em sua pequena fornalha improvisada de sempre.

- Então, como sabe que eles não estão por perto? Os humanoides. - Questionei rompendo seu breve silêncio daquele dia.

- Eu sinto. - Artifae continuou inexpressivo olhando o horizonte.

Aguardei alguns segundos para confirmar se ele iria continuar sua resposta. Ele não continuou.

- Minha nossa! Jura? Isso resolveu tudo. Agora entendo perfeitamente! Muito obrigada, Ó sábio mestre. - Sorri sarcástica.

Ele revirou os olhos e bufou como resposta.

- Eles vem por baixo da terra - Artifae rompeu seu próprio silêncio - e seus movimentos geram uma agitação singular e expressiva. Ele agita o solo por onde passa e o solo se agita formando ondas sutis de eletricidade. E aí que eu os sinto e sei sua posição. Ó paciente praga.

- Uau. - Pisquei algumas vezes boquiaberta - Como consegue sentir algo que mais ninguém sente?

- É difícil quando uma pequena curiosa não para de falar e pede explicações até do pós morte. - Artifae piscou e sorriu gentilmente para mim.

Retribui o sorriso logo sendo tomada por preocupação ao vê-lo virar o rosto para o horizonte e ordenar para que o cavalo corresse. Sem questionar, segui-o.

O dia estava infernalmente quente, horrível para fazer qualquer tipo de esforço além de manter a mente focada em respirar. Assim, orei em segredo para que o destino estivesse próximo pelo bem dos cavalos.

Minha prece não foi ouvida.

- AGUENTEM! SÓ MAIS UM POUCO! - Artifae finalmente se pronunciou após ouvir os cavalos começaram a roncar de exaustão. Corremos por quase quatro quilômetros sem diminuir o ritmo até avistarmos uma floresta.

Não era incomum em dias quentes como aquele as pessoas começarem a enxergar miragens por conta das ondas de calor, mas naquele dia, naquele lugar, não era uma miragem. Era um aglomerado verde, uma floresta densa no meio do deserto de areia fofa sem sinal algum de fertilidade ao redor.

Contos de Uma Peregrina - DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora