Eras atrás, nos primórdios da humanidade, bestas e humanos conviviam entre si em desarmonia, invadindo o território uns dos outros. Os humanos tolos desejavam poder, enquanto as bestas arrogantes, desejavam vingança. Os diversos combates entre os dois grupos, fizeram com que mudanças ocorressem em seus corpos naturais. Os humanos haviam adquirido força e habilidades sem igual, enquanto as bestas ganharam vulnerabilidade.
Cansados do egocentrismo de ambas as partes, dois irmãos, magos, frutos das consequências dos diversos duelos, decidiram criar um ser capaz de trazer paz entre o mundo humano e bestial. Eles vagaram pelo lugar em que viviam para recolher elementos para a criação.
Durante a viagem, coletaram lágrimas de viúvas, fios de cabelos de órfãos, o fio da espada do guerreiro mais destemido, brasas da grande floresta incendiada pelas batalhas, lascas das garras da besta mais feroz e penas da besta menos agressiva. Com esses elementos em mãos, partiram para o lugar mais distante dos duelos constantes. Vagaram até chegarem ao topo de uma planície rochosa sem vida e acinzentada avistando uma grande fonte peculiar à beira do penhasco no litoral. Era rodeada de pedras que formavam um semicírculo, permitindo que a água do mar e a de um rio, que nascia longe do local, entrasse em cada extremidade aberta do círculo.
Além do curioso fato de o oceano subir o penhasco em um braço d'água, havia o detalhe de que os líquidos não se tocavam em ponto algum, vindo de duas direções opostas, formando uma fenda no centro. Tal imagem fez com que os irmãos se maravilhassem ao perceber que haviam lugares em que os duelos não tiveram tempo de perturbar.
Então, ao som do mar selvagem e à força do vento litorâneo, os irmãos colocaram os elementos no meio da fenda. A medida que cada item era depositado no local, um pequeno veio de água de cada lado se unia ao outro. O fato os levou a imaginar a possibilidade daquele lugar esperar por alguém, a julgar pela aparência do lugar rochoso em que pisavam, por longos anos.
Cada elemento foi depositado, deixando por último as lágrimas das viúvas que, além de chorar pelas mortes dos cônjuges, choravam as mortes dos filhos. Assim que os últimos elementos foram depostos e os últimos veios se encontraram, não foi preciso que os magos utilizassem magia alguma. Um trovão rugiu sobre a terra e logo um raio caiu sobre a fonte unida.
Eles assistiram enquanto as águas misturadas mudavam de cor para variados tons e borbulhavam, até que dois pares de olhos cintilaram. Um possuía o azul tão claro quanto o céu de um dia sem nuvens, enquanto o outro era tão laranja quanto as chamas de um incêndio selvagem que consome tudo o que toca.
No instante seguinte, duas criaturas esguias como serpentes, colossais ergueram-se do espelho d'água. Uma delas serpenteou pelo céu enquanto a outra tombou sobre o veio do oceano, rastejando para a beira do penhasco, mergulhando para as profundezas e desaparecer na imensidão azul. Os irmãos testemunharam a imagem amedrontadora que havia surgido sem consentimento. A pele tão brilhante quanto o fio da espada formava uma couraça de coloração ocre que tingia a metade superior do ser, desde focinho, pontudo quanto uma flecha, até a ponta da cauda achatada como um leme. Seu ventre era vermelho como o fogo e resistente como o aço. Possuía espinhos nas barbatanas sobre a cabeça e na extensão do corpo, além de possuir dois pares de nadadeiras laterais, para fazerem a criatura se mover no meio fluido.
Do outro lado, em terra, o corpo esguio deu origem a um dragão tão peculiar quanto o primeiro. Seu corpo era alvo como a neve e, o brilho das escamas era notável, tal qual o aço da espada. Sua face era semelhante à de um lobo, mas com compridos bigodes de bagre e chifres de antílope sobre a cabeça, junto de pelos que passavam a ideia de uma crina muito bem aparada, que saia do meio dos chifres e ia para a ponta da cauda em um tom verde azulado. Suas quatro patas, eram garras tão poderosas quanto de uma harpia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos de Uma Peregrina - Deserto
Random- Ora, mas o q... - ele logo foi interrompido pela pressão aplicada pelo Marechal. - Não ouse. - Eu poderia jurar que a qualquer momento ouviria os dentes dele trincarem. - Uhm? Isso torna as coisas mais fáceis, não!? - O sorriso do homem se tornou...