2 - Bicicleta

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Não está sendo uma manhã nada boa, algo me dizia que eu não deveria ter saído da minha cama hoje, talvez o pesadelo que tenho toda noite esteja piorando as coisas ainda mais, sinto a minha mente bastante pesada, e cá estou eu enfrentando outro problema antes de ir para faculdade.

- Não tem jeito criança, é até um perigo você está andando com essa bicicleta velha, não tem como eu trocar essa correia de forma alguma, infelizmente já era...

Sinto o suor escorrer na testa antecipando minha longa caminhada até a universidade que fica distante do quarto que consegui alugar assim que cheguei nessa cidade a umas semanas, estou querendo muito me mudar para um local mais próximo, mas não vejo como isso vai ser possível por enquanto. Eu ainda estou quieto olhando para a outra pessoa enquanto tento pensar.

- P'  não pode me vender outra?

- Já te vendi essa garoto e eu nem queria, está velha mas é o que você pode pagar, por que não tenta arrumar um meio período melhor?

Passo a mão no rosto enquanto concordo com a cabeça, o mecânico está certo, não tenho plano B, nem C, nem tinha um A na verdade, vim para essa cidade por que consegui uma bolsa para faculdade de cinema, então vim só com a cara e a coragem, mas definitivamente enfrentar isso era melhor que viver do modo como eu vinha vivendo, junto as mãos em respeito e me despeço do senhor que no fim tentou de tudo pra me ajudar, minhas costas doem, essa maldita cicatriz é ótima em prever o tempo, mas eu espero que não chova, meu caminho é um tanto quanto longe. Arrumo a mochila nas costas enquanto aceito meu destino, vou perder o treino do time de basquete que é antes da minha primeira aula de hoje, mas nessas circunstâncias é até melhor, vou ter o vestiário só pra mim, tenho que sempre esperar eles se trocarem para poder me trocar, e vou ficar suado dessa caminhada, sorte que tenho roupa extra no armário.

O pessoal lá do time é bem tranquilo, com tanto que eu fique no meu canto ninguém mexe comigo, sei que estão curiosos sobre mim, sinto os olhares, ouço os murmúrios nos corredores quando passo, mas é melhor não deixar ninguém se aproximar, nada de bom acontece com quem se aproxima de mim, e não quero prejudicar ninguém.

O dia está bonito, apesar de estar esfriando, já sinto a respiração ficar um pouco pesada, queima pra respirar, estou tentando andar rápido, tem uma parte de mim que está cansada das dificuldades, mas tem outra que só quer seguir em frente.
Pensando em como vou conseguir mais dinheiro me vem a mente que abriu uma confeitaria bem perto da universidade por esses dias, será que se eu for lá mais tarde posso ter sorte em conseguir um trabalho? Bom não custa tentar.

O vento bagunça meu cabelo enquanto ando e eu tento arrumar de todo modo mas em determinado momento não me preocupo mais com isso na realidade a minha preocupação crescente é  outra, eu rezo mentalmente pra que não chova, tudo já está tão ruim, se chover vai ficar bem pior.

*****

O celular voou longe.

"Ele só pode estar de brincadeira comigo, cadê meu noivo amoroso?Que droga!"

Siwat está irritado, mais que isso, se o celular não tivesse caído sobre o sofá da sua sala no trabalho, provavelmente já estaria despedaçado uma hora dessas. Respirando fundo levantou da sua mesa e foi juntar o celular caído entre algumas almofadas, aperta o aparelho com certa raiva quando alguém entra sem bater, se vira irritado para a porta, quem seria o bastardo que se atreve a ter tamanha falta de educação? Aaaah claro só podia ser essa pessoa.

- Vim trazer uns roteiros que a P'Jam me pediu, ela disse que esses são para semana que vem.

O memor coloca os papéis de qualquer jeito na mesa depois enche as mãos de chocolate direto de um pote que fica sobre a mesa do chefe.

- N'Kiak quando você vai aprender a bater na porta?

- Oooh eu esqueci que da última vez te peguei aos beijos com seu maravilhoso noivo...

Kiak faz uma careta enquanto se joga no sofá, come um chocolate sem muita cerimônia, não parece se importar com o aparente mal humor do homem mais velho.

- Seu pirralho, será que vou precisar ter uma conversa novamente com seu irmão? Ou talvez seu pai, que tal?

- Eu não sou criança, fazer o que se é você quem é muito ranzinza P'Siwat?

- Seu...

O mais velho já está estressado com o noivo, não tem realmente tempo para ser babá do estagiário, aliás o que esse garoto faz tão cedo na emissora? Não tem aula hoje? Está matando aula?

Está irritado em um nível que chega ao extremo de levantar o garoto do sofá pelo braço e vai expulsar ele da sala quando o menor tropeça nos próprios pés e o diretor é obrigado a amparalo para que não caia.
Por um instante os olhares se cruzam, por um instante nenhum dos dois consegue esboçar nenhuma reação, que tipo de situação é essa? Siwat está buscando as palavras quando uma voz desperta os dois.

- Desculpa interromper vocês...

Ayan está sorrindo, um prato nas mãos

- Sei que comecei a apenas alguns dias diretor, mas já bolei algumas ideias de pratos para o programa, desculpa entrar assim, mas a porta estava aberta, vim trazer para que prove esses...

- Deixa que eu provo chefe.

Ayan não consegue nem terminar a frase, o menor que está com um olhar iluminado, empurrou Siwat e já caminha na sua direção.
O diretor que ficou um tanto quanto chocado com o empurrão está agora indo na direção da porta também.

- Você não interrompeu absolutamente nada N'Ayan, e é sempre bem vindo na minha sala, diferente de outras pessoas...

Siwat da um olhar gelado na direção de Kiak que já está de boca cheia e um sorriso largo.

- huuum isso é delicioso Chef...

Balançando a cabeça irritado ainda o diretor se volta para Ayan, o rapaz tem um sorriso doce nos lábios enquanto segura o prato que está sendo devorado pelo estagiário, Siwat consegue sorrir pela primeira vez naquela manhã, algo naquela cena é estranhamente divertido e de certa forma reconfortante.

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