78 - Último recurso

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Agora os dois estão em silêncio, e o silêncio é até palpável de tão denso, e tenso que o clima ficou.
As bombas foram lançadas e explodiram no meio da sala de estar.
Pee saindo com um rapaz?
Ampere fazendo qualquer jogo para se reaproximar?
Tanatoch sente a cabeça girar, quer beber alguma coisa e apenas esquecer, mas talvez já tenha passado tempo de mais embriagado e por isso Pee se sentiu confuso e acabou achando esse rapaz, com certeza ele busca isso, essa figura paterna e está confundindo isso com gostar de alguém do mesmo sexo, Tanatoch não vê outra explicação se não essa.

- Foram anos difíceis, Pee e eu acabamos vivenciando aquela perca cada um da sua própria maneira e sinto que ambas foram prejudiciais, você está aqui tentando me enganar por que me culpa não é mesmo? Acha o que que eu que te afastei dele? Por que não queria mais fingir amar um homem, quem nos abandonou foi você.

- Eu sei, não precisa ficar me lembrando, sim? - A mulher torce uma mão na outra de forma nervosa- Eu estava confusa, sufocada, e levou algum tempo para poder colocar a cabeça no lugar, eramos jovens eu não previ consequências, só quis me libertar, de mim mesma, das minhas próprias amarás. Você e o Pee não eram um peso, minha alto aceitação era um peso, querer viver aquele tipo de amor sem julgamentos era um peso, fazer vocês entenderem meu coração era um peso.

- Você nunca nem tentou Ampere!

- Errada ou certa não tem como eu voltar no tempo, mas agora eu...

- Ele não vai aceitar, você vai desestabilizar o nosso filho, ele já não é alguém comum, já teve um casamento conturbado, já tem os próprios conflitos internos, imagino que mesmo se você estivesse gravemente doente, ele ainda iria relutar e ir contra a aproximação.

- Está dizendo que não tem jeito? Que eu devia desistir?

Agora ela está chorando, mas não é um choro comum, já perdeu boa parte da adolescência e juventude do filho, já perdeu seu primeiro casamento, formatura, primeiro emprego, datas importantes, quis estar lá em todos esses momentos, algumas vezes chegou a ir nos locais apenas pra vê-lo de longe, mas perdeu todas as chances de se revelar, de voltar, de se desculpar.

Tinha medo, não quer traumatizar seu único filho, mas também não queria desistir sem tentar. Queria contar seus motivos, as razões por trás das ações. Mas agora sentada naquela sala tão familiar sente que chegou realmente tarde de mais.

- Talvez se eu escrever pra ele...

- Devia ter feito antes quando ele estava desesperado e precisava de você.

- Minha família me obrigou a me casar com você, você tem noção disso não tem? O que eu passei, a dor que eu vivi, você sabe que eu sofri não sabe?

- Sinto muito Ampere. Hoje em dia eu sinto de verdade, mas a única coisa que posso te dar é o meu perdão. Hoje nosso amor que só eu senti, não significa mais nada, mas sua decisão me afetou, afetou seu filho. Seus pais te obrigaram a casar, ter relação com um homem, um filho dele, mas que culpa tem o Pee? Entendo que teve medo de procurá-lo antes. Mas aconselho a continuar com esse medo e viver longe até o fim.

- Eu não mereço perdão?

- Não é questão de merecer, ele simplesmente não vai aceitar. Eu sinto muito Ampere... eu realmente sinto muito por você.

Os olhos ardem, mas as lágrimas estão sendo contidas, Tanatoch não quer deixar sair novamente, pensou anos a fio em como seria um reencontro com essa mulher e não é nada do que achou que seria, os sentimentos realmente mudaram, a dor já não era tão intensa olhando assim olhos nos olhos. Ampere era apenas uma criatura lamentável agora, rastejando por uma redenção que nunca viria.

Depois de mais um longo período de silêncio ela finalmente reúne as últimas forças, olha com um olhar vazio para o ex marido, tantas escolhas erradas, tantos momentos perdidos, tanto sofrimento causado. Quis tanto ser livre, mas hoje em dia se questiona se não teria sido melhor viver naquela prisão interna e criado bem a pobre criança que gerou mesmo que de uma úniao indesejada.
Entre eles dois, marido e mulher, depois de tantos anos as coisas finalmente estão realmente encerradas, o perdão que não pediu veio, mas o perdão que sonhava receber nunca virá.

- Acho melhor você ir agora, está tarde e Pee pode aparecer aqui de surpresa pra me visitar, não quero que isso termine mal.

- Esta certo...

Ela levanta cabisbaixa, não sabe nem como se despedir, pega a bolsa, está desnorteada, Tanatoch foi seu último recurso e esperança, cambaleia até a porta, e antes de sair dá mais uma boa olhada na sala, não mudou quase nada tantos anos depois, ainda se vê limpando a casa, ainda vê Tanatoch cuidando do jardim, ainda vê Pee estudando na mesa da cozinha enquanto espera o jantar.
Ser quem era é algo tão errado? Escolheu viver um amor proibido, fechou as portas do coração para o marido e o próprio filho, Se tivesse feito de outro jeito ... se tivesse visitado ele mesmo que as escondidas ... se tivesse explicado melhor na época... Se...
Agora o filho realmente está tendo sentimentos por outro homem? Agora finalmente ele pode entender os sentimentos dela naquela época? Independente de qualquer coisa, mesmo que ele possa entender sua opção sexual, ele jamais vai assimilar o abandono.

Ampere sai novamente pela mesma porta que saiu a tantos anos atrás, sem redenção, sem escolhas, sem opções, exatamente igual naquela época. Ao entrar no carro estacionado não muito longe dali ela desaba em um choro alto e desesperado, o peito sacode, os soluços são vem.

Uma mão carinhosa toca de leve nas costas dela, e suas palavras saem entre os soluços como uma lamuria alta.

- Eu não consegui, ninguém vai me ajudar...eu nunca mais vou tê-lo de volta. Você me disse... tantas...tantas vezes que eu deveria procurá-lo... mas eu estava com tanto medo...eu o perdi... pra sempre... pra sempre...

A mulher sentada no banco do motorista apenas a puxa para um abraço sem dizer nada, não existe uma única palavra que vá servir de consolo, não existe consolo, vai ser uma tortura até o último dia de vida ver a pessoa que ama assim, mas se nega a sentir culpa, se recusa a sentir culpa, é a única maneira de ser forte para a pessoa em seus braços, a mais fraca do mundo nesse exato momento...

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