37 - Conflitos internos

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"Ele foi embora... mas o que eu fiz... o que fizemos?"

A mente de Pee está perdida em pensamentos, permanece em pé no meio da sala por mais alguns instantes, seus olhos estão perdidos, o gosto cítrico ainda está dentro de sua boca, quer levar a mão aos lábios, mas não consegue movimenta-las, não sabe o que sentir, como agir, não sabe como chegou ao banheiro, ou até como encheu a banheira, mas lá estava dele, deitado, lembrando dele... não era Title... era ele... um dos motivos de seu ódio...

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- Pee porque você está chorando tanto, o que aconteceu?

- Tea... ela foi embora... mamãe foi embora...

O amigo está com a mão no ombro do jovem que está inconsolado

- Calma... calma... sua mãe e seu pai se separaram, amigo isso é mais normal do que você imagina, e já está bem grandinho pra entender esse tipo de coisa!

Pee levanta os olhos e encontra o amigo com um sorriso acolhedor nos lábios, ele sente o coração pesar e as lágrimas voltam a rolar

- Ela foi embora com uma mulher... ela abandonou a família por uma mulher Tea... você entende isso!

Pee precisa controlar a respiração, sente que pode ter uma crise

- Calma Pee, calma...

Tea abraça o amigo que apoia a cabeça em seu ombro, ele olha ao redor, não tem ninguém por perto, ele passa as mãos nos cabelos castanhos de Pee, eles se conhecem desde o fundamental, estão terminando o ensino médio, e ainda permanecem unidos, já escutaram várias piadas sobre isso, mas Pee sempre as ignorava, e Tea fazia de conta que não ouvia, a amizade entre eles era mais valiosa que tudo

- Fica calmo, está bem! Isso não é o ideal, mas as vezes os casamentos não são eternos...

- Uma mulher... ela nos abandonou por uma mulher...

Pee está inconsolável

Tea abraça o amigo um pouco mais forte, Pee suspira forte, sente que pode confiar em Tea, sempre foram bons amigos

- Tea... eu...

Pee afasta um pouco o abraço, os olhos se encontram, um sentimento estranho invade o coração de Pee, ele poderia fazer isso? Afinal, eles eram somente amigos, mas... a cabeça de Pee se move lentamente, Tea não tem tempo de reação, os lábios se tocam no mesmo instante que uma voz alta grita

- O que você acha que está fazendo?

Pee sente o seu corpo ser puxado do banco é empurrado ao chão, um garoto um pouco mas velho está parado ao lado de Tea

- Querido, se acalme...

" Querido "

Pee está com os olhos arregalados

- Tea?!

- Pee, acho melhor você ir pra casa...

Tea não olha nos olhos de Pee, o homem ainda está parado na frente dele

Pee sente a sua cabeça girar, o que está acontecendo? Querido? Quem era aquele? Por que seu amigo não o defendeu? Porque ele estava lá parado, algumas pessoas passaram por ele rindo, ele sente o rosto ruborizar, precisa se levantar e sair correndo, mas não consegue, o homem pega a mão de Tea e os dois saem dali, o deixando lá, Tea o deixa lá, sozinho, no mesmo dia que sua mãe foi embora, ele estava lá mais uma vez, sozinho.

                       ✨____________✨

Pee sente as lágrimas começarem a escorrer de seus olhos, aquela dor toda voltou, a dor de ficar sozinho, se lembra do dia, dos dias subsequentes onde continuou sozinho, o pai já não ficava em casa, começou a namorar no primeiro ano da faculdade, se casou com menos de dois meses de namoro, não queria mais viver sozinho, não adiantou, a solidão era sua amiga íntima, eles andavam de mãos dadas.

Aquelas pessoas anormais estragam tudo, tiraram sua mãe, seu melhor amigo, possivelmente sentia mais que amizade, nunca parou para ponderar exatamente o que sentia por Tea, mas aquele homem que o deixou no chão, não deixou mais o amigo manter contato com ele, e a sua atitude impensada em relação a Title trouxe tudo isso de volta, a dor, sentir os lábios de outro homem próximo ao seu, o abraço, o toque, tudo isso foi demais pra ele, não gostava desse tipo de pessoas, mas algo naquele homem, algo em Tanatorn o deixou sem defesas, ele se viu dentro de um conflito interno quando o viu lá deitado no sofá, chorando por alguém que o abandonou, alguém que o deixou sozinho, alguém que tomou a sua melhor amiga para si.

O banho demorou mais que o previsto, a água da banheira já estava gelada, seu corpo estava tão quente, não sabia se pelo toque de Title, o sabor ainda estava em seus lábios, dessa vez leva a mão ao ponto principal de seu calor interno, passando o indicador nos lábios consegue se lembrar do toque do outro, os lábios eram macios, as mãos eram macias, o perfume cítrico em conjunto com o sabor de gin e tônica, os olhos vazios, ele estava bem? Tanatorn estava bem?

Se levanta da banheira, coloca somente um roupão e vai até o quarto, faz tempo que não se envolvia com ninguém, aquele beijo pode ter sido por carência? Definitivamente não! Ele nunca foi alguém de se afogar em braços aleatórios por carência, mas ele não gostava de homens, ele jamais gostaria de homens em toda sua vida, mas algo naqueles olhos castanhos, sim... ele havia se perdido naqueles olhos castanhos repleto de solidão, queria os olhos obstinado que conheceu naquele primeiro dia, aqueles olhos que o desafiaram e não demonstraram fraqueza.

Resolve olhar pela janela, as luzes dos outros apartamentos ao redor estão apagadas, apaga as luzes e fica ali observando tudo lá fora, pega o celular e envia uma mensagem para sua secretária, precisa resolver aquela situação, mas não seria hoje, precisa dormir, descansar, colocar os pensamentos em ordem, está tudo muito confuso, ele não passava por isso a quase dez anos, e tudo voltou, de uma forma bruta e que ele não tinha controle, um par de olhos castanhos e um gosto de gin foram o motivo para lembranças do passado arrancarem lágrimas de alguém que não chorava a tanto tempo.

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