89 - Doces

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Irritação pode ser causa de infarto e até mesmo diversos outros problemas para a saúde corporal e mental, então Ji-hoon não quer se irritar, ele balança a cabeça de um lado para o outro como se estivesse estralando o pescoço, e repete mentalmente que "matar não é uma opção"

Tinha acabado de sair de sua sala, literalmente estava indo almoçar, mesmo sendo ainda 10 da manhã. Antes não tivesse saído e aquele louco não teria como entrar em seu escritório, agora estavam ali cara a cara.

- Eu tenho certeza que vai gostar, e não vai fazer mal se aceitar isso, estão deliciosos, acrescentei até um ingrediente secreto...

O homem a sua frente com a cara de bobo, piscou um olho enquanto os lábios permaneciam arqueados para cima, será que ele tinha alguma deficiência? Ji-hoon se questionava mentalmente, por que não tinha outra explicação, uma vez que já falou tão claramente que não tinha nenhum pingo de interesse. Mas o bastardo simplesmente não escutava ou entendia ou aceitava.

- Seu maldito maluco eu...

Tudo aconteceu tão rápido, mas aos olhos de Ji-hoon parecia tudo em câmera lenta aquela cena grotesca, ele agarrou a caixa branca envolta numa fita que no topo terminava em um delicado laço cor de rosa, e ia arremessar a mesma na cabeça do desequilibrado sorridente a sua frente, quando sua secretária que tinha se levantado a alguns minutos, provavelmente prevendo a desgraça, pulou entre os dois homens agarrando a caixa com uma rapidez que até o surpreendeu.

- Senhor por favor se acalme...

A mulher abraçava a pequena caixa com os doces, o cheiro de açúcar de confeitar, chocolate e morangos agora permeava o ar, o peito do advogado subia e descia de forma rápida e ele podia sentir no ouvido o batimento descompassado e irritado do próprio coração.

- Nossa é tão mal assim eu querer te dar alguns doces? Não sabe o tempo que levei preparando com carinho eles só pra você.

A voz de Boss era chorosa, seu semblante caído com as sobrancelhas levemente unidas em uma cara de tristeza que comoveu profundamente a secretária, e até convenceria um pouco Ji-hoon e faria ele ao menos recuar um pouco e baixar o tom, não fosse o brilho nos olhos daquele Tailandês descarado, Ji-hoon era treinado o suficiente na arte de ler a expressão dos seus clientes.

"Pena? Você quer minha pena? Duvido seu bastardo insistente, você quer é outra coisa..."

- Olha aqui seu sem noção eu vou falar pela última vez...- Ji-hoon puxou o outro pelo colarinho, ação que a secretária reagiu com um pequeno grito já que ela não podia separar dois homens tão grandes.
Nem meio palmo separava o rosto de ambos agora, os olhos fixos um no outro, o canto dos lábios de Boss subiu em um meio sorriso.

-"Porra"

Boss se xingou mentalmente por deixar o sorriso escapar, mas era inevitável. O coreano alto estava especialmente deslumbrante hoje em um terno preto e camisa cor de vinho, o cabelo bem penteado para trás com apenas dois ou três fios caindo de uma forma bonita sobre a testa e a tempora, os olhos dele eram de um brilho intenso, o advogado parecia um bicho enjaulado, um bicho alto musculoso e sexy enjaulado, Boss estava repreendendo aqueles pensamentos desde a hora em que o avistou, mas agora, bom agora tudo desmoronou, por que o cheiro que inundou suas vias aéreas era algo enibriamte, remetia a uma lembrança, era como ser transportado para outro lugar, em outro tempo na infância, uma memória boa desbloqueada, de estar aprendendo a fazer bolos com as avós de um tempo em que se apaixonou pelos doces... será que Ji-hoon sabia que mesmo em meio a tanta irritação e carrancas seu odor era fresco e famíliar com um fundo cítrico como limão?

"Aaaaah vou enloquecer..." Boss mordeu os lábios pra parar de sorrir, a ação não foi bem vista ou interpretada pelo advogado que voltou seu olhar para os lábios do confeiteiro e pareceu perder o raciocínio por um breve momento...

- O que vai me dizer?

- Eu...-Ji-hoon o soltou e passou a mão sobre a cabeça bagunçado de leve os cabelos, já estava no limite da irritação - Eu só quero que você entenda que eu não tenho interesse!

Respirou fundo pela terceira vez e olhou a secretária que tinha um olhar suplicante, é um advogado, acima de tudo tem que manter a calma, não é como quando perdia a cabeça com Copter, não pode agir assim novamalmente, só que aquele cara lhe tira realmente do sério.

- Estou tentando não ser mais grosso do que já fui, mas há de concordar que está testando meus limites, peço que não venha mais ao escritório senhor, por favor.

Dito isso apenas saiu com passos largos e apressado.

- Ei...- Boss pegou a caixa nos braços da secretária e sorriu pra ela- Esses são para seu chefe, mas trago outros pra você outra hora ok? Só preciso da sua ajuda no futuro...

Em seguida saiu atrás de Ji-hoon, o coreano provaria aqueles doces ou isso ou ele não se chamava Boss Tanatorn.
A secretária de braços vazios agora, não restou outra coisa a não ser rir.

***

Eu já tinha lido o e-mail, e claro que entendia bem pouco de termos médicos, mas o resultado era claro e inquestionável, depois que P'Boss deixou eu e Suar no escritório de advocacia, o advogado da família Nawinwit me explicou mais detalhes sobre como tudo isso ia proceder legalmente e as opções que eu tinha, como era meu direito aceitar ou recusar o encontro, entre outras coisas, mas eu já tinha ido até ali, então não seria minha escolha voltar atrás, sendo assim em menos de meia hora já estávamos a caminho da casa onde a família residia e onde seria nosso encontro.
Suar apertava minhas mãos o tempo todo, o que era bom já que ela estava realmente fria e a de Suar quentinha.
Ao chegar no local foi que meu entendimento e compreensão daquela história toda, realmente se deu. Eu mal lembrava dos meus pais, eles faleceram quando eu era muito pequeno, então não existia realmente um apego muito profundo entre mim e eles, mas ainda assim, cresci vendo as fotos e crendo que aquela era a minha família, então é chocante e assustador ter pais vivos a minha espera.
Com passos vacilantes eu segui Suar, que seguia o advogado que nos guiava propriedade a dentro. A casa era ampla e bonita e ficava em uma boa região da cidade, no Jardim todo, vestígios de crianças, brinquedos como pequenos caminhões e um grande cercado com uma caixa de areia e vários brinquedos espalhados me trazia ao menos o alívio de que mesmo com um filho perdido, aquelas pessoas tiveram a alegria de criar filhos.

Quando a porta se abriu a minha frente, Suar se posicionou atrás de mim, como que pra me encorajar a entrar, foi realmente doloroso e difícil dar aquele passo, mas com o braço de Suar em minha cintura eu pude caminhar pra dentro de um lugar desconhecido, em direção a pessoas que me esperam a 21 anos...

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