O sol das dez lançava seu clarão extremamente amarelo através da grande árvore no quintal, fazendo as folhas batendo ao vento ilustrarem o quarto de Nathan com as sombras. O domingo de verão lá fora estava muito vivo, ao contrário dele que esparramado na cama com cada membro lançado para um lado parecia mais um cadáver que caiu da mesa de autópsia. Seu rosto estava tão enterrado no travesseiro que a cabeceira da cama parecia uma lápide.
Tirando que só arrumava o quarto uma vez ao mês, Nathan não era preguiçoso. Acordava sem tantos problemas para ir à escola de manhã, mas quando chegava o fim de semana não queria nem saber. Sempre dizia ser um desperdício ter apenas dois dias entre sete para dormir até mais tarde e querer acordar no mesmo horário. Sendo assim ele dormia umas doze horas, que era para recompensar o que não havia dormido nos dias de semana.
A luz solar tentou abrir seus olhos, mas Nathan nem reagiu. Seu sono pesado o atrapalhava a acordar cedo e também a escapar de Lily e Emily. A porta abriu devagar junto dos sorrisos das duas. Foram andando sorrateiramente até perto da cama, desviando das caixas. Cautelosamente descobriram os pés de Nathan que estavam virados para cima. Lily olhou sorrindo para a irmã, um sorriso que significava uma frase por inteira. Emily retribuiu e tirou do bolso uma caixinha de bombinhas, entregando algumas para ela. Sem nenhuma ponta de distração ela foi colocando as bombinhas entre os dedos do garoto, já Emily mal conseguia se conter. Suas mãos tremiam e gargalhadas surgiam de repente. Lily pôs o indicador na boca, pedindo silêncio. Emily pôs as duas mãos no rosto e respirou fundo. Após alguns segundos de quase gargalhadas, o trabalho estava pronto. Quatro bombinhas em cada pé. Por fim, chegou a hora do show.
— Agora. — Lily sussurrou, acendendo um isqueiro.
Emily sorriu e fez o mesmo. As duas passaram o fogo rapidamente pelas oito bombinhas, acendendo-as quase de uma só vez. O barulho alto e contínuo dos pavios queimando se iniciou. As duas correram dali, deixando apenas um vão na porta para assistirem a cena. Foi em um segundo de silêncio que as duas perceberam que era a hora. Elas taparam os ouvidos e esperaram. Nathan acordou desesperado, chutando para todos os lados, quase nadando em cima da cama. Perdendo o controle do próprio corpo, ele caiu dela, acionando uma armadilha de corda que prendeu sua perna e o puxou para cima, deixando-o suspenso no ar. De cabeça para baixo, ele pôde ver as duas correndo corredor afora dando risadas. Furioso, ele berrou o nome delas com todas as forças, enquanto seus ombros colidiam contra as paredes.
As duas almoçavam na maior calma do universo com um sorrisinho no canto da boca. Só Nathan estava disperso, olhando furioso.
— A comida tava tão boa que o Nathan até já terminou! — Nathalie comentou alegremente.
— Eu nem peguei! — respondeu com uma revolta estampada na cara.
— Ué, então por que você tá sentado aqui na mesa? — David perguntou.
— Porque a gente tava falando sobre o que a Lily e a Emily fizeram hoje cedo, e vocês começaram a almoçar só pra fugir do assunto!
— Essa batata tá divina igual a você, minha paixão.
— Ai, obrigada, amor! — agradeceu, lisonjeada.
— Tá mesmo, mãe!
— Mãe! — Ele interceptou aquela cena falsa de comercial de margarina.
— Que foi, Nathan? — Ela virou sem entender. — Não gostou da batata?!
— Elas estouraram bombinhas nos meus pés!
— As batatas?!
— Não! A Lily e a Emily!
— Ufa, achei que meu filho tava ficando doido...
— Você precisa melhorar esse seu trauma com bombas, Nathan! — disse seu pai.
— Vocês não vão fazer nada?!
— Elas não fizeram por querer, filho.
— Tudo que essas duas fazem vocês dão um jeito de esquecer!
— Ah, Nathan, isso não é verdade! — Sua mãe foi dizendo. — E arruma seu material pra escola, amanhã tem aula!
— A minha escola não fica aqui nessa cidade idiota!
— Agora fica. — David disse empolgado, conseguindo fazer o filho lhe odiar mais. — E agora vai ter uma grande diferença!
— Que diferença? — Mesmo sem interesse nos assuntos escolares, a curiosidade foi maior.
— Bom, agora que eu recebi uma boa promoção, e a renda aumentou, resolvi que mereciam algo melhor, portanto, matriculei os três em uma escola particular!
— Eba!
— A gente vai poder se fazer de ricas! — Emily gritou toda animada, e a irmã lhe olhou confirmando.
— Escola particular?! Lá só tem fraldinhas e gente que se acha. Eu não vou!
— E vai continuar burro?!
— Vou, pai, vou continuar burro!
— Gente burra não ganha promoção do chefe.
— Eu não me importo! Não quero saber. Tudo por causa dessa promoção idiota! Tudo tá uma droga de ontem pra cá! Perdi os meus amigos, tô dormindo na dispensa, minha bunda e os meus dedos dos pés estão queimados e...
— Por que os seus dedos estão queimados? — David o interrompeu.
— Já chega! — Nathan perdeu a paciência e saiu da mesa, resmungando enquanto seus passos na escada eram audíveis. — Eu vou entrar no meu quarto e não vou sair mais!
— Só pra ir pra escola! — Nathalie o alertou, inocentemente lhe irritando.
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A Lista Maldita
AventuraCom um pai troll, irmãs endiabradas e uma mãe que nunca repreende, Nathan busca atenção na popularidade da nova escola, arriscando a vida para completar dez insanas provas de um livro antigo.