Cap. 8 - O empurrão necessário

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A tiração de sarro com a sua cara continuava, mas naquele momento só estava servindo de gás para que ele tentasse enfrentar a Lista. O que pode ter de tão impossível nisso?, se perguntava. Concluiu sem muito embasar que esse devia ser o motivo pelo qual tantos faziam, curiosidade.

Comer era a segunda coisa que Nathan mais amava nessa vida, mas agia como se não houvesse um mar de batatas-fritas em sua frente, bambeando o garfo nos dedos e segurando a bochecha com a outra mão.

— Nem tocou na comida, filho. Alguma coisa errada? — perguntou sua mãe, fazendo todos na mesa olharem.

— Não... — respondeu, largando o talher em cima do prato. — É só que... Sabe quando surge um desafio, e você fica naquela de ir ou desistir?!

— Ah! — David entrou bruscamente na conversa. — Parece que alguém teve um desafio hoje na escola!

— É... Mais ou menos... — franziu os lábios para a esquerda.

— Qual o desafio? Algum valentão te enfrentou e vão brigar amanhã?!

—Nã...

— Pode brigar! Vai na fé! Mas se ele aparecer com um rojão, protege a bunda e mete o pé!

As gargalhadas deixaram Nathan zonzo de raiva. Por que diabos eu tô pedindo conselho pros meus pais?, sua voz interna estava extremamente irritada com ele.

— Até o vídeo dele já tá perdendo a graça, já essa história do rojão continua imbatível! — Nathalie mal conseguia falar.

Após ir para seu quarto e anotar na lista de Diabolices: ''Contar para os pais sobre o rojão'' e ''Mostrar o vídeo da dança'', Nathan se deitou mesmo sem cansaço, assistindo o vento bater nas folhas da árvore próxima a sua janela. O dia amanhã na escola pode ser ruim, mas nada pior do que qualquer dia nessa casa, pensou antes de cair no sono. Nathan precisava muito conversar com Laura, tanto que foi a primeira coisa que brilhou na sua mente quando abriu os olhos. Procurou pela garota no refeitório e a encontrou sem muita dificuldade, começando o dia já atazanando a cabeça da pobre coitada.

— Ainda não sabe coisa nenhuma, Nathan! Você sabe que quer fazer isso, só tá procurando apoio moral!

— Qual é... — Ele abaixou os ombros. — Não pode ser impossível...

— É impossível, Nathan! É muito perigoso!

— Então me diga um item!

— Não pode!

— Por que não?

— A gente já não passou por essa conversa?! Só quem fez sabe!

— Espera aí... — Ele fechou e abriu levemente os olhos, olhando diretamente para ela. — Se só quem fez tem acesso aos itens, e você sabe os itens, quer dizer que...

Laura ficou olhando sem dizer nada, apenas esperando ele terminar, mas Nathan também a encarava, esperando ela continuar a frase.

— Que? — Laura mexeu rapidamente os ombros e a cabeça.

— Completa a frase!

— Eu não, isso vai me prejudicar, não sou trouxa!

— Quer dizer que você já tentou!

Laura o encarou como se aquilo fosse ridículo, mas ele fechou a boca, fazendo um bico e cruzando os braços. Ela relaxou os ombros e revirou os olhos.

— Tá... Eu tentei... — Foi admitindo. — Por curiosidade, queria saber como era, mas nem fiz! Pulei fora no primeiro item!

— Viu só! Até você já fez!

— Por que até eu? Você acha que eu sou incapaz?

— Não... Não foi isso que eu quis dizer...

— Isso magoa, Nathan... — Ela tremulou a voz, quase chorando.

— Ah, Laura, me desc... Para com isso! Não desvia a conversa! Se você pode tentar por curiosidade, eu também posso!

— A diferença é que você quer fazer os dez! E só por popularidade!

— Me conta o primeiro item! — Se jogou abruptamente na questão, sendo tomado pela curiosidade.

— Que? Não! Não pode!

— Ninguém vai saber!

— Claro que vão... Eles observam a gente o tempo todo... — Laura foi diminuindo seu tom de voz, fazendo Nathan reparar em vários garotos escondidos com escutas e rádios, porém disfarçaram e se esconderam quando eles notaram. — Viu...?!

— Assustador... Mas conta no meu ouvido que eles não vão nem saber!

— Nathan, já chega! Se você quiser se matar só por fama e popularidade...

— E pela Ashley!

— E pela Ashley! Tudo bem, problema é seu, se mate lá! Mas se correr o risco de morrer atropelado pra ter atenção de gente que nem se importa contigo for divertido, eu não devo ser desse planeta!

— Atropelado? — estranhou. — Tem a ver com carros! — Ele gritou, fazendo os garotos de terno e óculos escuros os encararem.

— Cala a boca, Nathan... — Laura deu um grito que diminuiu bruscamente em cada palavra, forçando a mordida. Estava tão de saco cheio daquilo que só se levantou e saiu.

Após alguns segundos sozinho, raciocinando que talvez tivesse perdido sua única companhia para sempre, uma voz suave surgiu atrás dele. Mesmo nunca tendo conversado com Ashley, ele reconheceu e virou com nervosismo para ela, tendo seu rosto corado e suas mãos trêmulas em uma fração de segundo.

— Oi, Nathan!

— O-Oi, Ashley... — Se levantou todo desengonçado.

— Fiquei sabendo que você tá querendo fazer a Lista Maldita...

— É, tô pensando, mas é quase certeza, viu! — Foi se promovendo.

— Nossa, haja coragem... — Ela deu uma risadinha curta. — Você não tem nem ideia no que tá se metendo, né...

— Quero sim. — respondeu após se perder nos olhos da menina.

— Que?

— É... Eu vou fazer a Lista, tô preparado.

— Aposto que sim. — Ela riu novamente, estranhando. — Bom, boa sorte pra ti, tá?! A gente se vê no primeiro item. — Ela se despediu dando um beijo em seu rosto.

— Tchau, Ashley... — disse em voz baixa, todo amolecido. Sua timidez estava tão extrema que conseguiu fazer apenas um comentário na ausência da garota. — Nunca mais vou lavar essa bochecha...

Murillo ia passando por perto. Lambeu a mão e passou na bochecha dele.

— Agora vai! — E saiu rindo. 

A Lista MalditaOnde histórias criam vida. Descubra agora