Cap. 5 - A guia turística

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Mesmo sem a animação de sempre para pintura, Nathan caprichou. Foi mais fácil que as últimas vezes já que agora as paredes eram bem mais curtas. Tinha prática para pintura na mesma proporção que suas irmãs para aprontar. David e Nathalie tinham filhos focados. Eram muito orgulhosos da autonomia dos três, principalmente das meninas que já sabiam arrombar portas com grampos aos dois anos. Depois do trabalho pronto, ele foi fazer a coisa que mais amava nessa vida, dormir. Deitou e enrolou o final da coberta nos pés para não ser pego de surpresa novamente. O ventinho que entrava pela janela entreaberta o fazia encolher-se de forma aconchegante debaixo das cobertas, encostando os ombros perto das orelhas.

Mas até por uma noite de sono Nathan teve que batalhar. Após sua mãe sair do quarto, ele ficou quase dois minutos pensando no que fazer com aquela parede caindo sobre sua cabeça. Levemente a abaixou até encostar uma das pontas em cima do guarda-roupas, deixando a outra suspensa no ar. A tortura foi já conseguir ver o outro lado, mas não poder andar até lá. Se não tivesse subido com os móveis, talvez pudesse explorar sua descoberta.

Saiu do quarto rumo a garagem, onde ficavam os materiais de David. O problema é que seu quarto não tinha fechadura, assim como todos os outros cômodos da casa, portanto, teria que ir rapidamente até lá embaixo, pegar o que precisava e voltar sem que ninguém notasse, pois se Lily e Emily só por uma fração de segundos desconfiassem, estaria arruinado seu espaço secreto.

Passou pelo quarto das duas e as viu andando de bicicleta lá dentro. O espaço era tão grande que após horas pedalando, elas cansariam antes de chegar do outro lado. Ao chegar na garagem não demorou para achar um martelo. Optou pelo de borracha, pois discrição era prioridade. Seu maior erro foi pensar que os pregos seriam a facilidade do dia. Revirou tudo e não encontrava um sequer. Em um momento de desistência, o velho cesto de roupas jogado ao canto parecia brilhar como item disponível de jogo. Tirou a tampa e viu seu antigo par de tênis jogado, com quatro pregos cravados em cada um. Abriu um sorriso de orelha a orelha e sumiu dali. Essa foi certamente uma reação bem oposta à de quando viu aquele par de tênis pregado pela primeira vez.

Subiu correndo e deu uma espiada nas duas que continuavam pedalando lá dentro. Concluiu que todo esse tempo que demorou para voltar ainda não seria suficiente para que dessem uma volta completa ao redor do cômodo. Voltou rapidamente, mas nas pontas dos pés e ligou uma música alta, pregando rapidamente quatro de cada lado, voltando a parede como estava. Sentou no chão e voltou a pintar, dessa vez com muito mais felicidade e entusiasmo. Esqueceu por aquele pequeno período do estresse que estava sendo aquele fim de semana.

Teve o típico sonho de estar caindo e acordar no susto justo no momento da colisão.

— Nathan! Hora da escola! — Nathalie gritou.

Desejou naquele instante que seu sonho fosse realidade.

— Já disse que não vou! — resmungou, forçando as sobrancelhas com os olhos fechados.

— Tarde demais, já chegamos!

Aquelas palavras fizeram com que se levantasse rapidamente e percebesse que estava no banco de trás do carro, com Lily e Emily acenando para ele, já arrumadas. Quando se deu por si, estava em pé no gramado da frente da escola, só de cueca e camiseta.

— Boa aula, Nathan! — David gritou enquanto saía cantando pneu.

Aquilo atraiu a atenção da multidão que entrava no prédio. Todos começaram a gargalhar e apontar para Nathan, que todo corado pôs a bolsa na frente do corpo. Dizem que se você apontar para uma estrela, nasce uma verruga na ponta do seu dedo. Se naquele momento Nathan fosse uma estrela, os dedos de todos na escola estariam averrugados.

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