Cap. 12 - O índice

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No final de semana Nathan e as irmãs passaram sebo no corrimão, deslizando com calças de moletom. O garoto foi tão rápido em um momento que colidiu com a parede e derrubou três quadros no chão. Não tinha medo de tomar bronca simplesmente porque quase nunca acontecia. Naquele instante só esperou seus pais surgirem rindo da sua cara. Após isso colocou um colchão na parede para que as duas descessem, pois se elas se machucassem, aí sim o xingo viria. Nathan também resolveu fazer uma entrada para sua passagem secreta para que pudesse visitar o local sem que ninguém na casa descobrisse. Ele serrou um pedaço da parede e das costas do guarda-roupa, parafusando dobradiças nas duas partes, deixando as duas aberturas rentes uma com a outra. Assim, era só abrir a portinhola do guarda-roupa, abrir a portinhola da parede, e pronto, estava dentro. Os dias livres em casa sempre são incríveis, mas a segunda-feira chega para todos, e até a professora morria de tédio, falando com uma voz morta e sem pressa, com todos ali caídos dormindo feitos o Matt.

— Alguma pergunta?

Brandon levantou a mão e respondeu.

— Não, nenhuma!

Fazendo a professora revirar os olhos.

— Dona! — Murillo chamou a atenção. — Algum dia a senhora dormiu ouvindo sua própria voz? Se não, todos nós aqui nesta majestosa sala de aula gostaríamos de saber a marca e quantidade massiva de café que você toma.

— Você faltou com desrespeito a professora? — perguntou o diretor em sua sala.

— Eu não. — manteu o cinismo em dia.

— Bom... — O diretor terminou de ler sua ficha e jogou sobre a mesa. — Ouço falar muito de você, não para fora da diretoria...

— Me sinto em casa!

— Mas eu dei uma olhada aqui e não consta nada! Nenhuma advertência, nem sequer uma notificação de mau comportamento... Como novo diretor dessa escola, eu gostaria muito de entender o porquê.

— Bom, vamo lá... — Murillo respirou fundo e cruzou as pernas, entrelaçando os dedos em cima do joelho. — Vamo fazer o seguinte, você esquece essa advertência, elogia meu cabelo porque hoje eu passei creme, e libera toda a minha classe, que tal?

— Hm, bem interessante. — disse jogando o lábio inferior para frente. — Mas, eu tenho só uma dúvida... — Ele se aproximou de Murillo. — Por que chineladas d'água eu faria isso?

Murillo começou a usar um bloco de notas de cem reais como leque, se abanando e deixando algumas caírem de propósito.

— Ah... Já entendi a sua! — O diretor se encostou na cadeira. — Acha que vai conseguir me subornar?

— Acho! — respondeu no ato, jogando todas para cima.

Enquanto os dois se encaravam, as notas iam caindo sobre a cabeça do diretor. Não aguentando, ele se pronunciou.

— Você tá certo! — E pulou nelas.

— Cara, num acredito nisso! — Brandon quase pulava de alegria ao lado de fora da escola. — Você livrou a gente daquela aula insuportável!

— Oi, garotos, será que vocês podiam me ajudar? — Uma moradora de rua se aproximou deles.

— Opa! Fala aí! — Murillo rapidamente tomou a frente.

— Tenho dois filhos pra sustentar, e como a gente paga aluguel não sobra muito pras compras. Vocês podem me ajudar com qualquer valor?

— Claro, toma, pode pegar! — Ele entregou duas mãos cheias de notas.

— Meu Deus! Obrigada, menino, obrigada mesmo!

Todos começaram a olhar com estranheza, Laura e Clara principalmente.

— Sempre que precisar de um favor, qualquer um, é só avisar, viu, fique com Deus. — disse ela.

— Qualquer um? — Murillo perguntou animado.

— Sim!

— Ah, que bom, eu tava precisando de um dinheiro emprestado, e vi que você tem bastante. — Ele pegou todas as notas de volta. — Como você é generosa, obrigado, sempre soube que podia contar com você!

A moradora ficou sem reação, olhando para a cara dele sem entender.

— Quando é que a gente vai descer o cacete nele? — Clara perguntou para Laura.

Na casa de Mason, desciam todos ao porão. A luz foi acesa, mas não adiantou muito, pois a iluminação era horrível, deixando tudo com um tom amarelado de dar sono na vista. Owen achou a fotografia incrível e desceu sorridente com uma handcam.

— Pra vocês isso não é novidade — Mason tomou a frente. —, mas pro Nathan vai ser fóda. — Ele pegou um banquinho e subiu, alcançando uma caixa grande em cima de um armário, a levando até o centro de uma mesa. Todos acompanharam, ficando ao seu redor.

— Abre, Mason! — Ashley parecia mais ansiosa que Nathan, olhando para a tampa da caixa que tinha ilustrada as bordas da Barra.

Calmamente o anfitrião retirou a tampa, e mesmo que já conhecessem a Lista, seus olhares de surpresa eram idênticos ao de Nathan. Com a caixa aberta foi revelado um livro espesso, de páginas amareladas e capa marrom, meio suja e trincada por causa do tempo, feita de uma espécie de pano aveludado. O título estava em dourado, totalmente renovado, como se sua juventude fosse infinita. A fraca luz amarelada do porão refletiu sobre a escrita, brilhando cada letra intensamente em suas retinas. Junto de um coração acelerado e mãos trêmulas, um sorriso involuntário invadiu seu rosto.

— Taí, Nathan. — A voz de Mason surgiu como narração da sua mente. — Bem na sua frente, a prova de que realmente existem coisas incríveis. Assim como todos que tentaram, você faz as honras! — Ele deu um pequeno passo para trás, junto de todos os outros.

Como pode algo ser tão nostálgico sem nem antes ter acontecido, Nathan se perguntava inconformado enquanto se aproximava. Virou a capa, morto de curiosidade, mas aquela excitação toda foi sumindo ao folhear as páginas.

— Mas... tá tudo em branco...

— É aí que tá, Nathan. — Mason foi dizendo. — A Lista Maldita não passa da criatividade de cada jogador! E essa é a missão que você vai ter em seguida, denominar os itens, escolher o que fazer primeiro, concluir o que criou e...

— Ai, que mentira! — Daniel interrompeu. — É só apagar a luz que a Lista aparece!

O silencioso porão se transformou em uma gritalheira. Loucos de raiva, eles xingavam Daniel, pois ele quase sempre estragava tal pegadinha com os jogadores novos. Desanimado com a burrice do amigo, Mason foi até o começo da escada e apagou a luz. As palavras antes invisíveis surgiram brilhantes, iluminando os rostos de todos ao seu redor. As páginas amareladas ficaram douradas, e se fechassem o livro era como fechar a porta de um quarto com a luz acesa. Um feixe fugiria pela fresta.

— Aqui ficam todos os itens, suas regras e requerimentos. Isso aqui é só uma relíquia agora, não usamos mais ela, os Moderadores sabem os itens de cor.

— Por isso é bom respeitar os Moderadores e não ficar chamando eles de pobres! — Trevor lançou a indireta, mas Murillo como sempre fingiu que não era com ele.

— A gente usa esse livro apenas como símbolo agora, pois foi daqui que tudo começou... — Mason olhou com um sorriso sutil, mas seus olhos não escondiam o orgulho.

— Isso é demais, Mason...

— Tem mais uma coisa, você vai querer ver isso. — disse fechando o livro. — Você ainda não pode ter acesso aos itens, nem as regras, graças às outras regras da Lista, mas você pode ver o título de todas elas que ficam na página que eu considero a mais bonita do livro... — Ele parou em uma das folhas e passou sua mão sobre ela, de cima a baixo. — O índice!

Observando, Nathan tentou imaginar que coisas impossíveis de serem feitas estariam por trás daquelas palavras. Tantos pensamentos formularam apenas uma pergunta.

— Quando começamos?

E Mason sanou a dúvida.

— Agora!  

A Lista MalditaOnde histórias criam vida. Descubra agora