Já são 18:15 quando eu vou até a mesa de Antonio que ainda está concentrado no computador, diferente de sua colega que foi embora assim que seu horário chegou ao fim. Ele está checando alguns arquivos que minha mãe colocou como primeira tarefa para ele e sua colega Letícia.
- Você já está liberado Antonio. - Digo estalando os dedos para chamar sua atenção. - Você foi ótimo hoje.
Ele levanta o olhar mas não diz uma única palavra e só fica me olhando por uns segundos com cara de bobão. Sua expressão se parece um pouco com a que Nicolas faz quando está pedido em seus pensamentos.
- Você me ouviu? - Digo tocando seu ombro e sinto ele dar um pequeno espasmo como se tivesse se assustado.
- Eu... Eu... O que você disse?
- Disse que você está liberado, Antonio. Casa. Liberdade. Fim de expediente.
- Ah sim. Desculpe, eu estava um pouco distraído com o trabalho.
Olho a tela do computador e vejo a aba do twitter aberta.
- Trabalho, né? - Ele se encolhe como se estivesse levando uma bronca. - Seus arquivos foram enviados às 17:30 então não tem nada de errado em dar uma olhadinha nas redes sociais, eu mesmo fiz isso hoje.
- Mas você é filho da chefe, então fica mais fácil pra você. - Ele diz com a voz baixa.
- Você tem um ponto. Mas não se preocupe, qualquer coisa eu te protejo.
- Você é até gentil. Imaginava que por ser filho da chefe você seria um mimado resmungão.
- Sou resmungão e mimado, mas isso não me torna uma pessoa insuportável, na maior parte do tempo.
Ele ri enquanto reúne suas coisas na mochila que deixou jogada embaixo da mesa.
- Vou me lembrar disso. - Ele toca meu ombro. - Agora vou caminhar para minha liberdade enquanto ligo para meu pai me buscar. Até amanhã.
- Até amanhã. - Digo e ele vai em direção às escadas.
Provavelmente ele não reparou que o prédio tem elevador porque eu trouxe ele e Letícia pelas escadas para ver quem reclamaria primeiro, spoiler: foi a Letícia.
Agora é hora de alcançar a minha própria liberdade indo até a sala da minha mãe e avisando que estou indo para casa e de quebra tentar descobrir algo sobre a conversa de hoje mais cedo com o Camilo.
- Toc toc. - Digo ao abrir a porta de sua sala. - Deu meu horário, chefia.
- Oi, meu amor. Como foi o primeiro dia de trabalho? - Ela diz sem tirar os olhos dos papéis que tem em mãos.
- Foi legal, eu acho. A Natália me ensinou a fazer meu trabalho e só me xingou duas vezes por isso.
- Então ela estava de bom humor hoje. E os novatos? Faça uma rápida descrição e um relatório para amanhã.
- Bom... Antonio é rápido e comprometido até onde consegui notar. Letícia é uma cretina reclamona que não parou de falar a tarde toda.
- Olha a boca, amor. Não procure um processo pra empresa.
— Tá bom então.
Estou prestes a ir embora quando lembro do meu objetivo principal ao vir aqui. A conversa sobre meu pai. Demoro uns dois segundos para pensar em uma desculpa para chegar ao assunto.
— Você poderia me dar 20 reais para eu comprar algo para o jantar? O papai não aparece em casa já faz uns dias e a geladeira tá vazia.
— Que tal eu, você, Camillo e o Adrian sairmos para jantar no lugar disso? É seu primeiro dia de trabalho e queremos te recompensar. — Ela conseguiu fugir.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Adimiravel
Randomnarra a história de Theodoro Martinelli em uma nova escola com novos e antigos amigos. Ele se vê em um ambiente novo rodeado por pessoas das quais não fazia ideia da importância que viriam a ter. Ele encontra o amor e insegurança enquanto tenta venc...