Epílogo

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— Pai, depressa! Vou perder o trem por sua causa! — uma menina gritou com o pai por ser tão lento, o que não era de surpreender para um homem do tamanho dele.

Draco gemeu quando sua filha Rose Malfoy agarrou seu braço e começou a arrastá-lo para frente com ainda mais ferocidade do que antes.

Era hora de atravessar a parede, que era a parte menos favorita de Draco - ele odiava o mal-estar que vinha depois disso desde que era criança. Essa vez, ele podia sentir, seria ainda mais repugnante porque ele não saía da Mansão adequadamente há quase doze anos - e, dessa vez, ele tinha permissão para sair apenas para ver sua filha em Hogwarts. Naturalmente, tudo isso era possível graças à sua brilhante esposa, que havia se esforçado - e muito - para conseguir uma bolsa especial do próprio Ministro da Magia.

Ainda assim, se tivesse sido sua escolha, ele não teria deixado a Mansão. Ele ignorou os olhares maldosos que lhe dirigiam as pessoas que definitivamente o reconheciam dos tempos de guerra, embora não pudesse deixar de lançar olhares mortais para aqueles que ousavam olhar de forma errada para sua esposa ou para qualquer um dos dois filhos. Draco se sentia como se estivesse sufocando lentamente - sua família parecia ser o centro das atenções na estação de Kings Cross.

— Foi exatamente por isso que viemos mais cedo — disse Hermione, parecendo não se importar com ninguém além deles. Ela segurava seu filho Scorpius, de cinco anos, junto ao peito - ele parecia estar tão interessado em tudo, olhando ao redor da estação de Kings Cross com os olhos arregalados, mas Draco tinha a sensação de que ele logo se cansaria e começaria a chorar. As pessoas irritavam o garoto tanto quanto irritavam seu pai. Mesmo assim, Draco continuou andando devagar, e Rose estava encarando isso como um ataque pessoal.

— Você está fazendo isso de propósito! — exclamou Rose. Ela parecia irritada, mas ambos os pais sabiam que ela nunca poderia estar realmente irritada com o pai, ela simplesmente o adorava. — Você não quer que eu vá para Hogwarts!

— E de onde está tirando essa ideia, querida? — perguntou Hermione, mal conseguindo conter o sorriso.

Isso era verdade - Draco não queria que Rose fosse embora. Ele queria que ela ficasse com ele para sempre, mesmo que isso fosse impossível.

— Eu sei, porque ele está sempre fazendo isso — Rose zombou.

O trem já estava lá, e a bagagem estava sendo trazida, mas Draco não soltou a mão de Rose. Ele sabia que, se o fizesse, tudo estaria acabado. Suas sobrancelhas estavam franzidas pela tensão que só foi liberada quando ele sentiu a mão de Hermione em seu ombro. Ele olhou para ela e sua expressão se suavizou imediatamente. Era sempre assim quando ele olhava para ela - como se a estivesse vendo pela primeira vez. E toda vez ele se apaixonava de novo.

Esse mesmo amor se estendia ao seu filho e à sua filha - a filha que ele agora estava lutando para deixar para trás.

Rose, com seu cabelo loiro platinado e encaracolado e seu nome Malfoy, não poderá evitar tudo o que veio com o fato de tê-lo como pai. Era disso que ele tinha medo - que os alunos e professores de Hogwarts soubessem quem Rose era e que ficassem ressentidos com ela por isso, pensando que ela era igual a Draco. Ela não era nada parecida com ele, é claro - inteligente e astuta, corajosa e gentil, ela era uma imagem atordoante de sua mãe, mas Draco temia que ela fosse julgada não por quem ela era, mas pela bagagem que trazia.

Draco era a bagagem. Ele estava arruinando a vida de sua filha antes mesmo de ela começar.

— Lembra-se do que falamos, Draco? — Hermione se dirigiu a ele com ternura. — Ela precisa entrar no mundo. Vai ser bom para ela.

Suas palavras ajudaram os pensamentos sombrios a se dissolverem um pouco. Ele olhou para Rose, que agora tinha uma expressão triste no rosto que só aparecia quando ela estava preocupada com o pai. Ele soltou a mão dela.

Rose sorriu de forma selvagem, sincera, do jeito que só uma criança pode sorrir.

Hermione se agachou para se despedir de sua filhinha, disfarçando que estava consertando o casaco.

— Você tem tudo o que precisa? — Rose assentiu com a cabeça. — Você está com medo?

Rose revirou os olhos. — Não, não estou. Por que eu estaria com medo? Você disse que Hogwarts é incrível.

Hermione sorriu. — Sim, é mesmo. Você vai se divertir muito lá.

Ela abraçou Rose. A filha deles correu para o trem, acenando para eles durante todo o caminho. Ela já estava no primeiro degrau, tentando alcançar a porta, quando olhou para o pai.

No momento seguinte, ela estava correndo de volta para ele, correndo para lhe dar um abraço que quase o derrubou. Quando ela olhou para cima, Draco viu lágrimas em seus olhos. Ele as enxugou com os polegares e a abraçou de volta, bagunçando seus cabelos cacheados.

— Vou sentir muita falta de todos vocês — disse Rose.

— Sua mãe e eu estaremos esperando sua carta. Conte-nos tudo — disse-lhe Draco.

Era exatamente o que ela precisava ouvir. Com outro abraço apertado no meio do pai, Rose entrou no trem. As janelas estavam todas abertas porque o dia estava muito quente. Eles podiam ouvir a conversa das crianças lá dentro.

— Por que Rose estava chorando? — perguntou Scorpius.

— Porque ela não consegue se imaginar vivendo sem você — Hermione explicou a ele.

Scorpius franziu a testa. — Então, ela vai ter que esperar alguns anos por mim — acrescentou ele, sério.

— Ela vai esperar — Draco garantiu ao filho.

Eles observaram a cabeça loira de Rose se mover pelos corredores do trem. Ela entrou em um compartimento com duas outras crianças - um menino e uma menina. Eles sorriram para ela e a convidaram para se sentar com eles. Ele a ouviu dizer: "Meu nome é Rose Malfoy", e ouviu quando as outras duas crianças imediatamente começaram a conversar sobre outros assuntos - sobre seu feitiço favorito, sobre seu animal de estimação, sobre sua varinha - porque qualquer coisa era mais interessante para elas do que sua herança.

Draco sentiu seu corpo relaxar imediatamente.

— Está vendo? Ela vai se sair muito bem — ele ouviu Hermione lhe dizer.

Ele não tinha dúvidas quanto a isso.

.

Draco acordou na manhã seguinte com alguém gritando: — Papai! Papai! — e então sentiu um peso no peito. Quando abriu os olhos, viu Scorpius sentado bem em cima dele com uma carta na mão. Ao lado dele, Hermione também estava acordando lentamente.

— Que horas são? — perguntou sua esposa, gemendo por ter sido acordada tão cedo mais uma vez.

— Não faço ideia — murmurou Draco. Nesse quarto, o tempo não existia para eles.

— Mamãe! Papai! Chegou uma carta de Hogwawts! — exclamou Scorpius, chamando a atenção de seus pais.

Draco imediatamente se sentou na cama e pegou a carta. Era de Rose. Ele a abriu e começou a ler em voz alta enquanto Scorpius subia em seu colo para acompanhar as palavras escritas. Desde que Draco começou a ensiná-lo a ler, há alguns meses, não havia mais cartas particulares ou livros só para adultos que pudessem ser escondidos dos olhos de Scorpius naquela casa. Agora não era exceção.

Scorpius se remexeu nos braços do pai até encontrar uma posição confortável - com sua pequena mão apoiada no antebraço esquerdo do pai. Esse era um dos poucos momentos em que Draco não sentia a necessidade de cobrir sua Marca Negra. Essa foi uma das coisas magníficas de se tornar pai - ele descobriu que seus filhos não se importavam com sua tatuagem ou com a origem dela. Eles não tinham ideia dos horrores que ela implicava. Para eles, era apenas uma caveira de aparência boba, sem nenhuma história importante por trás.

A carta que Rose enviou falava de sua primeira noite em Hogwarts, cada linha transbordando de entusiasmo. Draco parou de ler quando se deparou com a casa em que ela foi colocada.

— Corvinal — ele disse, depois olhou para Hermione, que já estava sorrindo para ele.

— Isso é incrível — disse ela suavemente.

— Sim — respondeu ele. — É mesmo.

Agora ele sabia - todos eles ficariam bem.

Dragon's Heartstrings | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora