Conforme os dias iam passando, Engfa se via cada vez mais imersa em um redemoinho de sentimentos complexos. Parecia que cada instante ao lado de Charlotte desvendava novos níveis de proximidade e entendimento mútuo. O que começou como uma atração fulgurante estava se transformando em algo mais substancial, uma conexão que ia além das palavras.
Desde aquele jantar na casa de Charlotte, as duas tentavam decifrar o que estava acontecendo entre elas. Com agendas lotadas de compromissos profissionais, faltava tempo para sentarem e conversarem sobre o que havia ocorrido. A lembrança daquela noite, em que ambas haviam bebido, pairava como um assunto quase proibido. Engfa estava especialmente confusa com seus sentimentos, questionando-se sobre como deveria lidar com o que estava acontecendo. Ela se lembrava de cada detalhe, mas será que Charlotte também se recordava?
Focada em finalizar seu primeiro álbum, Engfa tentava canalizar suas energias para o trabalho. No entanto, era quase impossível não pensar em Charlotte, que, como sua produtora, estava presente em cada fase do projeto, sempre com aquele sorriso cativante e radiante. A tensão sexual entre elas era palpável, mas ambas evitavam mencionar o beijo. Os olhares trocados, porém, se tornavam cada vez mais intensos e carregados de significado.
Para Engfa, admitir que estava se apaixonando por sua chefe, e mais ainda, por outra mulher, era algo desconcertante. Tendo vivido toda a sua vida na Tailândia, em uma família humilde e tradicional, esses sentimentos a colocavam em um território totalmente novo e incerto. Durante as noites, enquanto seus pensamentos inevitavelmente a levavam até Charlotte, Engfa se preocupava com a reação de sua família conservadora. Ela também temia como essa relação poderia impactar suas respectivas carreiras.
Apesar de certas mudanças sociais, os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ainda eram pouco discutidos na Tailândia, quase como se não existissem. A mídia raramente destacava tais relações, e entre as gerações mais velhas, ainda era visto como algo inapropriado. Engfa sentia-se dividida entre seus sentimentos crescentes por Charlotte e o peso das expectativas culturais e familiares, tornando tudo excessivamente complicado aos seus olhos.
Engfa, sendo a caçula da família, sempre teve um lugar especial no coração de seus pais e irmãos. Seu irmão mais velho, Pravat, já estabelecido em sua própria família com Yut, seu filho de 10 anos, e Nya, sua esposa grávida de Dara, era um pilar de estabilidade e tradição. Plaifa, a irmã do meio, sempre foi a mediadora, equilibrando as dinâmicas familiares com sua natureza compreensiva e empática.
Os pais de Engfa, Waan e Prem, viviam numa pequena cidade do interior, onde tinham construído sua vida juntos. Waan, uma professora aposentada, era conhecida por sua sabedoria e gentileza, enquanto Prem, um pequeno agricultor, era admirado por sua ética de trabalho e dedicação à terra. Juntos, eles formavam o núcleo de uma família tradicional tailandesa, enraizada nos valores de comunidade, respeito e união.
Engfa cresceu nesse ambiente acolhedor, aprendendo com seus pais a importância da família, da educação e do trabalho árduo. Suas memórias de infância estavam repletas de momentos simples, mas preciosos: ajudar seu pai nos campos, ouvir as histórias contadas por sua mãe ao anoitecer, e brincar com seus irmãos sob o céu aberto.
No entanto, à medida que Engfa se envolvia mais com Charlotte e começava a reconhecer a natureza de seus sentimentos, ela não podia deixar de se preocupar com a reação de sua família. Em sua mente, ela questionava como sua mãe, com sua sensibilidade e compreensão, reagiria, e como seu pai, um homem de princípios tradicionais, lidaria com a notícia. A opinião de Pravat e Plaifa também pesava em seu coração.
Engfa sabia que, apesar do amor incondicional que sua família nutria por ela, revelar a verdade sobre seus sentimentos por Charlotte poderia abalar as fundações dessa relação. A ideia de decepcionar seus pais, ou causar uma divisão na família, a enchia de angústia. Ela se via em uma encruzilhada, tentando conciliar seu desejo de ser verdadeira consigo mesma e o medo de perturbar o equilíbrio da vida familiar que sempre conheceu.
O som estridente do celular cortou o silêncio do quarto, trazendo Engfa de volta à realidade. Ela pegou o aparelho, ainda um pouco atordoada pelos pensamentos que a ocupavam, e viu o nome de sua irmã, Plaifa, piscando na tela. Engfa sempre a chamava carinhosamente de Fah, um apelido íntimo que remetia às memórias de infância que compartilhavam.
— Alô, Fah? — atendeu Engfa, tentando disfarçar a mistura de emoções que sentia.
— Mook! Como você está? — a voz de Plaifa soava alegre e cheia de energia, como sempre. Ela tinha a habilidade de iluminar qualquer conversa com sua presença vibrante.
— Estou bem, e você? Como estão as coisas por aí? — Engfa perguntou, tentando soar casual. Ela não queria que sua irmã percebesse a confusão que estava sentindo.
Plaifa começou a contar sobre o dia a dia na pequena cidade, as novidades da família, e como todos estavam ansiosos pela chegada da pequena Dara. Ela falava com entusiasmo, mas Engfa mal conseguia se concentrar nas palavras. Sua mente estava em outro lugar, dividida entre o carinho que sentia por sua família e os sentimentos crescentes por Charlotte.
— E você, Mook? Como está o trabalho? — Plaifa perguntou, mudando o foco da conversa para a vida de Engfa.
Engfa hesitou por um momento. Ela queria contar tudo sobre Charlotte, sobre como se sentia, mas o medo de como sua família reagiria a impedia. Ao invés disso, ela falou sobre o progresso de seu álbum, mencionando Charlotte apenas como sua produtora.
— Está indo tudo bem. Estamos quase finalizando o álbum. Charlotte tem sido incrível, ajudando em cada passo do processo.
— Ah, essa Charlotte soa como uma pessoa maravilhosa! — Plaifa comentou, inocentemente. — Você deve trazê-la para nos visitar algum dia.
Engfa sentiu seu coração acelerar com a sugestão de Plaifa. A ideia de trazer Charlotte para conhecer sua família parecia ao mesmo tempo maravilhosa e aterrorizante. Ela sorriu fracamente, sem saber o que responder.
— Talvez um dia, Fah. Vamos ver.
A conversa continuou por mais alguns minutos, com Plaifa compartilhando as pequenas alegrias e desafios do dia a dia. Engfa ouvia, participando quando necessário, mas sua mente continuava a divagar, pensando em Charlotte e no futuro incerto que as esperava.
Logo após a ligação com Plaifa, Engfa ainda estava absorta em seus pensamentos quando seu celular tocou novamente. Desta vez, o visor mostrava o nome de Charlotte. Seu coração deu um pulo, e ela sentiu uma onda de emoção misturada com nervosismo. Charlotte, a razão de suas recentes reflexões e devaneios, estava agora ao outro lado da linha.Engfa respirou fundo e atendeu o telefone, tentando manter a compostura.
— Oi, Charlotte — disse Engfa, esforçando-se para soar tranquila.
— Oi, Engfa! Espero que não esteja te ligando em um mau momento — Charlotte começou, sua voz calorosa e suave ao telefone.
— Não, está tudo bem. O que posso fazer por você?
Charlotte falou sobre alguns detalhes do álbum, discutindo os últimos ajustes e as próximas etapas. Engfa se concentrava nas palavras de Charlotte, mas não conseguia deixar de notar a familiaridade carinhosa em sua voz. Charlotte parecia casual, mas havia um subtexto de flerte em suas palavras, um jogo sutil que apenas Engfa parecia perceber.
— E, a propósito, estava pensando que talvez pudéssemos ir jantar fora um desses dias. Sabe, para comemorar o progresso do álbum — Charlotte sugeriu, seu tom casual, mas Engfa podia sentir a intenção por trás do convite.
Engfa sentiu uma onda de calor subir pelo seu corpo. Era uma oportunidade de passar um tempo a sós com Charlotte, longe das pressões do trabalho. No entanto, ela ainda estava incerta sobre como lidar com seus sentimentos e as implicações de se envolver mais profundamente com sua produtora.
— Isso parece ótimo, Charlotte. Seria bom comemorar — respondeu Engfa, tentando esconder o turbilhão de emoções que sentia.
— Ótimo! Vou organizar tudo e te aviso — disse Charlotte, animada. — Até mais, Engfa.
— Até, Charlotte.
Engfa desligou o telefone e se sentou por um momento, tentando processar a conversa. Ela estava emocionada com a perspectiva do jantar, mas também apreensiva. Seus sentimentos por Charlotte estavam se tornando cada vez mais difíceis de ignorar, e ela sabia que, cedo ou tarde, teria que enfrentar as consequências dessas emoções, não apenas em relação a Charlotte, mas também em relação à sua família e a si mesma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dinastia Waraha: A Ascensão de Englot
FanfictionCharlotte Sarocha, filha de um renomado produtor musical norte-americano e uma famosa atriz tailandesa, retorna à Tailândia após concluir seus estudos nos Estados Unidos. Com a intenção de se juntar à produtora musical da família e eventualmente ass...