O príncipe dos verdes e a princesa dos pretos (Aemond Targaryen)

Não falou, mas observou

Lady Rhaena e a princesa Helaena ocupavam um pequeno sofá no quarto de Visenya, desfrutando de uma conversa amigável enquanto se dedicavam aos seus bordados. A Velaryon de alguma forma sempre soube que as duas se dariam bem caso um dia pudessem compartilhar de algum tempo juntas. A atmosfera naquele cômodo era serena, iluminada pela luz matinal que entrava pelas janelas.

Rhaena, habilidosa com trabalhos manuais, estava concentrada em bordar um pequeno símbolo da Casa Velaryon no canto de um lenço, destinado a ser um presente para Lucerys. Enquanto isso, Helaena seguia sua escolha exótica de bordado. Sua agulha criava uma grande aranha com tons alaranjados, uma escolha de certa forma comum para ela que refletia bem sua personalidade única. Seu bordado era igualmente impressionante, revelando sua habilidade e criatividade no manuseio da agulha e linha.

Por outro lado, a princesa Visenya não compartilhava da mesma habilidade com trabalhos manuais. Ela evitou a maioria das aulas da septã e, nas raras ocasiões em que participou com supervisão de sua mãe, os resultados não foram muito satisfatórios. Enquanto observava sua prima e tia, Visenya segurava uma agulha na mão, permitindo que um pedaço de tecido de algodão descansasse em seu colo. Ela admirava o céu azul da manhã, apreciando a tranquilidade tendo sua agulha quieta.

Visenya ensaiava mentalmente mil tipos de discursos e maneiras de pedir desculpas ao marido por ter quebrado sua confiança. No entanto, nada do que ela pensasse parecia ser suficientemente bom para expressar o quão arrependida estava por todas as ações precipitadas que a haviam levado a estar confinada àquela cama pelos próximos dias. Ela sabia que tinha preocupado profundamente toda a sua família, e agora o mínimo que podia fazer era seguir as orientações do meistre para se recuperar o mais rapidamente possível.

Visenya sentia falta de Aemond, embora internamente também estivesse agradecida por ele não a ver. Ela tinha medo de encará-lo e receava que ele não confiasse nela novamente, medos que eram justificados.

–Visenya? –a voz de sua prima pareceu ecoar.

–Desculpe, o que disse? –ela respondeu, voltando sua atenção para Rhaena.

–Estava dizendo a Helaena como tem sido minha experiência ao voar com Asaprata. –explicou Rhaena.

–Ah, claro, pode ser um pouco complicado lidar com um dragão que não esteve conosco desde o berço. –Visenya respondeu, tentando acompanhar a conversa.

–Está tudo bem? –perguntou Rhaena.

–Acho que sim, dentro do possível. –respondeu Visenya.

–Aemond ainda não voltou a falar com você? –Rhaena voltou a perguntar.

–Não falou, mas observou. –Helaena respondeu.

Uma expressão confusa se formou no rosto da Targaryen mais jovem ao encarar as duas princesas. Visenya sorriu levemente, apreciando a fala da tia. Era estranho para ela entender como ela sabia de tantos detalhes, mas não questionaria Helaena, deixando que ela falasse se um dia tivesse vontade. Ela sabia da pequena vida que se formava no ventre de sua sobrinha. Helaena já havia deixado claro antes de partir que havia dois corações negros naquele castelo.

–Ele tem vindo durante a noite enquanto durmo. Acordei com sede em uma madrugada e o peguei cochilando neste mesmo sofá.

–Bom, Luke disse que ele tem passado o dia com sir Erryk e os dois só retornam para o castelo ao anoitecer. Pessoalmente não os tenho visto. –disse Rhaena.

A conversa das jovens foi interrompida quando a rainha Rhaenyra e o rei consorte Daemon bateram na porta antes de entrar. Ambos estavam vestidos com roupas de montaria, usando couro negro sob pesadas capas de pele. Os cabelos de Rhaenyra estavam elegantemente trançados, destacando seu rosto, e, desta vez, ela não usava sua coroa. Daemon mantinha a mão enluvada apoiada no cabo da Irmã Sombria encarando os tecidos que as três mantinham consigo. Um pequeno sorriso irônico surgiu no rosto do rei ao ver que não era nenhuma surpresa que Visenya sequer havia encostado a agulha no pano.