Poderia me mostrar?

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Aemond saiu do quarto em silêncio deixando seu sobrinho com os próprios pensamentos. Ele tinha salvado a vida daquele que lhe arrancou um olho. O menino tinha perdido um braço para sobreviver, uma escolha feita por Visenya. Uma escolha que o salvou de uma dor excruciante e uma morte lenta, mas ainda sim, Lucerys mantinha um olhar perdido ao ver o tio se afastar e fechar a porta atrás de si.

As lembranças eram vagas demais. Sentiu como se tivesse dormido por semanas e ainda sim se sentia tão cansado. Seu corpo estava pesado e dolorido. Sentia o cheiro de suor em suas vestes e nos lençóis que cobriam parte de seu tronco, porém o mais estranho era sentir tanta dor em uma parte do corpo que nem estava mais ali.

Luke ergueu o braço amputado assim que acordou e seus olhos ainda custavam a acreditar no que enxergavam. Abaixo do cotovelo não havia nada. Panos já sujos de sangue foram amarrados no membro cortado não permitindo que ele visse as marcas deixadas em seu braço.

Ele soltou um suspiro aliviado ao perceber que pelo menos seu braço direito ainda estava intacto. Colocou a mão sobre o próprio rosto a fim de confirmar que não estava sonhando, mas era apenas um pretexto para esconder as lágrimas grossas que começaram a escorrer pelas bochechas macias.

Arrax se fora. Ele perdeu seu companheiro de toda a vida e agora era um homem pela metade. Se pelo menos a frota tivesse conseguido segurar o bloqueio contra as Três Filhas, pelo menos isso seria de algum valor. Bom, e com certeza o tio estaria feliz pelo fim do sobrinho.

Mas Luke estava muito enganado se pensava que seu infortúnio dava alegria a Aemond. O Targaryen quis se vingar por muitos anos. Tirar o olho de Lucerys e dá-lo a mãe como presente, Alicent o tinha defendido naquela noite, tinha levantando uma lâmina contra a herdeira do Trono e a feriu em busca do olho do bastardo que machucou seu filho.

Primeiro foi por Visenya, e depois por Rhaenyra que Aemond desistiu de sua vingança. A família que o acolheu com tanto carinho mesmo ele proclamando seu ódio tantas vezes. A família que confiou nele mesmo sendo filho de Alicent, mesmo sendo o irmão do usurpador.

Aemond mesmo se pegou pensando que o sobrinho teve o que mereceu por ser imprudente, teve o que mereceu porque os deuses cobraram sua dívida por ele, mas ele ainda era só um garoto assustado fazendo de tudo para se provar.

O príncipe viu o medo estampado no rosto do sobrinho no dia em que voltaram para Porto Real por conta da reivindicação de Vaemond. Como um pequeno filhote de dragão indefeso protegido por sua família.

E agora aquele pequeno dragão quis voar para provar seu valor. Era como um déjà-vu. Exatamente como ele se esforçou tanto para ter um elogio vindo do pai, para que sua mãe prestasse atenção nele ao invés de Aegon que apenas ficava bêbado jogado pelos corredores.

Aemond não estava feliz com o trágico destino do sobrinho... ele estava com pena do que o garoto perdeu para que sua mãe continuasse em vantagem naquela guerra. Lucerys ainda podia não estar ciente, mas ele salvou aquele bloqueio. O Serpente Marinha estava prestes a ser derrubado pelos navios de guerra da Tríade se ele não tivesse chego, e Aemond e Vhagar garantiram a vitória terminando de render o povo das Cidades Livres para que a rainha preta não perdesse seu poder.

Ele sabia que a ira do sobrinho cairia sobre ele ao perceber o que tinha acontecido depois de tê-lo resgatado. Uma desculpa para feri-lo ainda mais e ter sua vingança, mas tudo aquilo foram ordens da irmã que ele tanto amava e admirava, mas ele jamais escutaria essas palavras saírem da boca de Aemond.

O príncipe caolho andou pelos corredores do castelo de Pedra do Dragão tendo em seu caminho servos que faziam uma rápida reverência antes de partirem apressados para suas tarefas. O local estava muito mais silencioso que o de costume, intercorrências demais haviam acontecido e mesmo com todas as vantagem os filhos da rainha já tinham se machucado muito. Aemond chegou nos aposentos que dividia com a esposa e lá, em frente a porta montando guarda ele viu Thomas. A memória de ver aquele homem com sua esposa em seus braços ainda fazia suas veias pulsarem e seus punhos se fecharem.

O príncipe dos verdes e a princesa dos pretos (Aemond Targaryen)Onde histórias criam vida. Descubra agora