Capítulo 2

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A chuva já havia parado, e a loja familiar, tomada de mercadorias em prateleiras, sacas de grãos e bebidas espalhadas pelo balcão, se misturava no ar o cheiro de biscoitos de canela com os cigarros de Chris e dos amigos. Que estavam sentados na mesa próxima a porta aberta de visão a rua, porque estava abafado lá dentro, mesmo que tivesse frio lá fora. O clima no povoado era sempre assim; calor durante o dia, chuva pela noite (quando não se era uma noite abafada).

-Sua mãe não disse que estávamos proibidos de vir aqui?- Joaquin, um amigo de Chris resmungou soltando a fumaça do charuto inglês que roubou do pai. Ele sempre usava dele pouco, e o guardava para se exibir para os amigos.

-Ora, e quem disse que ela sabe que estão aqui?- Riu Chris, se erguendo da cadeira e apoiando na porta para ver uma jovem que passava com a mãe.- A velha não vem aqui, acha um insulto à ela. Tem delírio de grandeza.

-Como ela soube?- Resmungou David, um louro corpulento bebendo uma dose de bebida alcoólica qualquer, que Chris não havia vendido.

-Adivinho que meu irmão deve ter dito. Ele veio aqui pegar uma lista taquigrafada que fiz do que faltava no estoque.

- Ele é linguarudo.- Joaquin apagava seu charuto inglês que usara demais na noite.

-Claro, o cenoura morre de medo dele!- Ambos riram, e Chris virou o rosto vermelho de raiva.- Mas também, com aquele físico até eu teria medo.- David se compadeceu ao ver que o amigo que dava as bebidas não gostou.- De toda forma ele é linguarudo. Deve faltar serviço naquela toca onde vive infurnado.

- Não vou com a cara dele.- Declarou joaquim.- De toda forma, vocês repararam que a filha do padeiro anda de gracejos para o cenoura? Ela é bem difícil, o pai dela é uma fera, mas mesmo assim está caída aos pés do meu herói aqui!

- E quem não estaria! - Chris sugava fumaça do seu cigarro, convencido.- Pena que minha mãe enche meu saco quando me aproximo de alguma garota.-Revirou os olhos.- Ela sempre arruma uma desculpa. Esses dias ela reclamou que não gostava de jasmim, porque o pai dela tinha ficado com raiva desde que fizemos pão pra vender.

-Isso porque ela não sabe dos seus casinhos secretos com as senhoras casadas.- Riu David.- Você é um porco, deixou as mulheres apaixonadas. Já vieram três até mim perguntar por você, estão me enlouquecendo! Não quero ser Eu o alvo de fofocas, as velhas da vila logo começam a perguntar que tantos sapatos são esses que conserto pra Sra Juliana, Sra Martina e Sra Lúcia! O que quer que eu faça com elas cenoura?

- Eu lá sei!- Reclamou.- Se livre delas, diga que estou enamorado de alguma moça. Iventa algo!- Respirou o vento frio da rua.- Estou cansado dessas mulheres velhas! Desejo uma menina jovem, que tenha pele de pêssego, suave e seja inexperiente. Claro que as casadas não são de jogar fora, são mais fáceis. Precisam de alguém que dê conta do serviço.- riram, menos joaquim.- Mas quero ter a experiência de ser o primeiro de alguém, de ver a confusão no olhar, de ver as reações. As mulheres maduras são muito vorazes; nada puritanas. E eu quero a sensação de tocar em uma mulher pura como um lírio!

-Que frescura!- David disse.- Se é para a intimidade, não deve ter diferença alguma, agora se você deseja se apaixonar....

-Claro que não, credo!

-Então o que diabos você quer? Se envolver com alguma moça daqui, se aproveitar pra saciar sua curiosidade de uma virgem e depois sumir do nada e não assumir a responsabilidade?

-Exatamente, isso mesmo.

-Nunca vi alguém tão porco como você, que horror!- Joaquin fez uma cara enjoado levantando da mesa.- Saiba que isso eu já não aprovo, uma coisa é se envolver com uma mulher casada, que sabe que é um amante, que tem estrutura de se virar caso engravide de um romance as escondidas. Outra coisa é você se meter com uma moça virgem de família e largar no mundo desonhada, sem casamento!- saía pela porta pondo o chapéu. Estava começando a chover de novo.- Eu tenho uma irmã pequena, vai fazer onze anos, e saiba que se ela encontrasse um como você, eu castraria o desgraçado!- foi embora. No fim mesmo no seu mal caráter tinha um pouco de senso de justiça.

- Parece que ele ficou com raiva.- Riu David, mas ficou sem graça. Chris deu ombros e não se importou. No fim ele sempre aparecia depois para beber e fumar junto deles. Tinham poucos homens jovens ali e ele não tinha boa relação com a maioria.- já é tarde.- Se ergueu.- De toda forma, acho que ele está certo, se não vai casar melhor não se meter com as moças daqui. Você se meteria em problemas; escute cá, a maioria tem mães furiosas e pais carrascos que comeriam o fígado do infeliz que as desonrasse fora do casamento. Sem contar as que têm irmãos.- Faz uma careta de imaginar.- bom, vou indo e... ah, aquela na rua não é sua prima?

Ambos olharam para o final da rua a esquerda. Chris estranhou, eram quase dez horas, e ela essa hora já estava indo dormir, normalmente sempre chegava as nove... ou será que eram as oito? Não fazia ideia, já que quase não a via depois do almoço.

- É sim, estranho.-Passaram alguns segundos e David riu.- O que foi?

-Nada, pensei em uma piada estranha. Acho que foi engraçado só pra mim.

-Ora essa, diga homem!

- É que por um momento pensei, como havia dito que todas as moças aqui tem mães para as resguardarem de ataques de predadores como você, e a igreja não aceita órfãos depois de você sabe, aquela história...- Se benzeu, era um costume para quem falasse desse assuntunto durante a noite. Mesmo quem não acreditasse.- Mas tem uma que não tem mãe nem pai pra isso.- Riu de novo.

-Quem?

-Como quem, sua prima! Ora, ela parece ingênua, claro que é sua prima, mas tem muitos que casam com primas e tudo mais.- Deu ombros ainda rindo.- Ela não é feia assim, só é magra. Acho que ninguém dos homens solteiros falam nela.- Riu de novo,mas ficou sem graça recebendo em troca um olhar estranho do ruivo.- Não fique assim, é só uma piada. Sabia que não ia gostar, enfim, vá ajudá-la. Parece que está mancando.- Colocou também seu chapéu e casaco indo pela rua da frente.

Chris tragou novamente seu cigarro olhando em direção a prima manca e molhada no final da rua. Bizarramente havia levado a piada a sério, e estava pensando nos prós e contras de realmente tentar algo com ela. Sua tia ficaria zangada, mas não o forçaria a casar com ela. Seu pai já estava praticamente moribundo, o irmão talvez o obrigaria mas era um cachorro da mãe deles. Ela falava e ele fazia mesmo não concordando. Claire em nada importava, talvez até a mandasse para longe pra não ter uma vergonha na roda de amigos e na comunidade.

Aqueles pensamentos estavam indo longe, e uma excitação maligna crescia na mente do ruivo. Enquanto a olhava.

Madalena estava mancando muito, sua botina havia rasgado quando tropeçou no buraco, o tornozelo devia ter dado contusão. Pelo menos não parecia quebrado. Nunca mais ela iria demorar tanto esperando alguém. Nem tinha atenção em que nível da rua de casa estava, apenas prestava atenção no seu frio e no seu pé machucado.

-Onde você estava?- Levou um susto erguendo a cabeça para ver o primo Chris a sua frente (já que ele era muito alto). Com olhos sérios para ela.

-Machuquei o pé enquanto vinha pra casa.- Resmungou ainda tentando andar.

- Fique parada.- Disse Chris, lhe dando um susto quando a pegou no colo. Mesmo que estivesse toda molhada.

-O que está fazendo?!

-Te ajudando ora.

-Me pegando no colo? A-assim do nada?- Ficou nervosa pela proximidade aleatória enquanto seguiam na rua.

-Você só podia agradecer, só quero que chegue em casa logo. Meu pai quer te ver.- Reclamou ele sério e Madalena se manteve em silêncio aceitando a ajuda. Estava sentindo dor e frio.

Entretanto, conforme ela se preocupava com o tornozelo e com as encomendas do resto da semana, secretamente Chris observava seu rosto fino e magro, sua boca carnuda e seus seios muito pequenos. Com muita malícia e planos obscuros.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora