Capítulo 8

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O mal sempre projeta a sua sombra e com ela arrasta suas vítimas para o escuro, seja com suas ações ou com suas palavras. Entretanto em raras vezes mesmo pessoas ruins, tão frias e sem sentimentos de comprometimento alheio ainda conseguem semear o bem pelo mundo de alguma forma. E era isso que Cecília fez ao ser mãe de Marcus e Claire.
O motivo de sua sua personalidade ácida era uma um mistério total, teve pais amorosos e sempre foi muito bem educada. Era a filha única, era tão apreciada pelo pai que ele nunca negou em lhe dar tudo que era necessário para mantê-la feliz (mesmo que ele vivesse mergulhado em dívidas para satisfazer suas vontades).

Sua mãe era uma ótima costureira, vivia trancada em seu minúsculo e frio ateliê na casa pequena onde viviam, para ajudar o marido a pagar as contas do mês. Por muitas vezes mesmo cansada e sem muito tecido para o trabalho ainda passsava as altas horas da madrugada criando vestidos para sua filha amada. E se animava quando a via vestida como uma boneca de porcelana. Seus pais eram um casal pobre que nunca deixaram de trabalhar para que Cecília tivesse total conforto, e nunca se negaram de lhe dar atenção. Mesmo muito fadigados e estressados eles sempre se esforçavam por ela.

Entretanto contrariando toda a personalidade doce de seus genitores Cecília era uma menina muito ácida, muito cruel. Era de costume reclamar das costuras erradas que a mãe fazia em suas roupas, ignorando todo seu esforço e que ela tinha costurado tremendo de frio na casa sem isolamento térmico. O mesmo fazia com o pai, que trazia caixas de músicas e sombrinhas usadas em quase perfeito estado do centro (que Cecília sempre odiava). Mandava e desmandava em seus pais como se ela fosse a adulta do lar.

Com o tempo muito cansados da rebeldia da filha ambos tentaram castiga-la, tirando-lhe mimos. Entretanto tudo que conseguiram foi piorar sua péssima personalidade, ela gritava e quebrava tudo que vinha a frente. E mesmo com castigos e alguns tapas (dados com muito pesar) conforme crescia se tornava cada vez mais arrogante.

Certa vez quando tinha dez anos de idade enquanto fazia compras muito bem vestida, com um de seus vestidos armados e sua melhor sombrinha seus olhos pararam em uma senhora muito solitária. Que se encantou instantaneamente por ela porque se parecia exatamente como sua irmã, que morreu na idade próxima a de Cecília.
Desde então a mulher que possuía um comércio vivia na casa humilde dos pais de Cecília, estes que se negavam em deixá-la perto de sua filha. Porém com o tempo passando e adquirindo confiança de ambos pouco a pouco o vazio do luto que carregava desde que a irmã morreu, há quase quarenta anos era preenchido pela presença angelical de Cecília. Que a chamava muito intimamente de tia. Quando corria para seus braços demonstrando tanto amor, sem se importar que sua mãe e seu pai estavam perto vendo-a fazer com uma desconhecida algo que nunca fez com eles.

Claro que todo o amor que ela mostrava (mesmo que fosse muito jovem) era apenas interesse pelos presentes que a velha senhora lhe trazia. Finalmente usava vestidos de costuras limpas e lisas, de tecidos únicos e sem variações de cores ( que ela odiava, pois a mãe usava os tecidos de retalhos que tinha disponível ou que sobravam). Enquanto seus pais sofriam sem entender como ter o amor de sua única filha, Cecília encarava todos ao seu redor como degraus para melhorar sua imagem e status.

Um dia quando Cecília tinha quatorze anos, sua mãe farta das palavras cruéis de sua filha a esbofeteou em frente à porta de casa, quando ela tentava sair para um baile do outro lado da cidade. Mesmo que instantaneamente tivesse se desculpado e sentido remorso, a filha correu imediatamente. Sem dar espaço para a mãe persegui-la (devido a dor crônica que tinha nas costas).

Correu para a casa da sua tia, onde chorou em seu colo com uma expressão de sofrimento no rosto bonito. Contando os horrores de como sua mãe era uma mulher horrível e bestial, como Alberto (seu pai) era um homem bruto e sem escrúpulos. De como ambos a batiam e a proibiam de viver. E tamanho fora o horror que ela contava, que a mulher não hesitou de fugir com Cecília naquele mesmo dia. Abandonou seu comércio e casa, levando apenas mercadorias e pertences pessoais.

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