Capítulo 12

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O relógio marcou meia noite e meia e ecoou três pequenos badalares, que pareciam cortar o clima mórbido que pairava no ar. A casa estava fria e os castiçais  em sua maioria apagados; já que Marlie não estava lá para acende-los. E claro que ninguém se daria o trabalho de fazer isso.

Chris estava sentado em uma poltrona na saleta, fumando um cigarro como de costume. No chão ao seu lado havia uma garrafa de conhaque qualquer que pegou no armário, estava cansado de tanta choradeira. Desde que chegaram do funeral a tarde Claire e Marcus não saíram do andar de cima, Marcus estava tão abalado que a irmã ficou o vigiando em seu quarto com chá calmante frio. E isso aliviava e muito Chris, já que ele tinha se cansado de toda aquela choradeira. Pelo menos havia livrado-se da presença dos dois por um tempo.

-Que se dane!- Reclamou o ruivo após a cinzas de seu cigarro sujarem a poltrona. Era a preferida de sua mãe, e havia sido presente de aniversário dado por seu pai há alguns anos, quando reformaram a casa.

Seu pai... sua mente vagou por todas as lembranças que tinha de Willian de repente; de como ele sempre reclamava de tudo que ele fazia. Ele sempre dizia que Chris era desistente e preguiçoso, e isso fez Christopher odia-lo.

Entretanto se por um lado William estava sempre reclamando com ele, não faltavam elogios para Madalena e Marcus. Perdeu as contas de todas as humilhações que sofria por não ser o que William desejava como filho.

E lembrou-se como ele sempre tratou-o como um simples pirralho que nada fazia direito; as responsabilidades nunca eram dadas à ele. Quando Marcus não estava grudado aos pés do pai como um cachorro, Madalena quem fazia o papel de preencher a lacuna de espaço que faltava entre os mais velhos. Ele era sempre o causador de problemas; o que não tinha fé em nada e o que era sátiro em tudo. Sempre teve que abaixar a cabeça quando não se esforçava para ajudar o pai como Marcus, ou quando Madalena fazia uma reclamação sobre como Chris havia a machucado em uma brincadeira.

E claro que a ignorância de William parecia ser toda guardada para ele; o pai sempre tentava fazer com que Chris fosse uma sombra de Marcus em suas boas negociações, ou até mesmo de Madalena, com todo seu dom em matemática. Claro que após o nascimento de Claire tudo parecia ter piorado, foi jogado de lado como um enjeitado, quase era tratado pelo pai como sua mãe tratava Madalena.

Ah Madalena, claro que era sua fuga na infância ver como a mãe que o protegia fazia a garota encontrar seu lugar. Reprimida e enterrada naquela casa como um objeto, sempre nas sombras longe de ser comparada aos filhos da casa. Logo ele começou a tentar machuca-la, apenas para ter o prazer de ve-la chorar e não ser ouvida por sua mãe. E também não foi difícil imaginar que Marcus passaria a vê-la como uma enjeitada, tendo em vista que ela era tola o suficiente para não tomar atitude de lutar por um espaço maior.  Era sua felicidade na infância ver que ela era pior do que ele.

Entretanto conforme crescia abandonava as rédeas do lar e a ideia de se provar alguém para seu pai, sua rebeldia foi tomando asas com penas cada vez maiores, logo gostava de beber até esquecer quem era, fumar e se envolver com mulheres que apareciam pela frente. Pouco lhe importava Madalena e o que o irmão fazia ou deixava de fazer. Não se importava com ninguém; e as vezes nem com ele mesmo.

Reconhecia que de fato era um homem preguiçoso, entretanto tomava como direito seu. De que servia o trabalho? Ganhar misérias para saciar a fome quando era obrigação de seus pais a lhe darem o seu sustento. Se seu pai podia sustentar Madalena porque não podia fazer isso com o próprio filho?

Chris estava tirando outro cigarro do bolso do casaco quando ouviu passos vindo da escadaria, não se deu o trabalho de virar a cabeça para ver a silhueta de Cecília ascender do escuro como um fantasma que vinha o assombrar.

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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