Capítulo 4

66 4 6
                                    

Madalena seguia andando pelo corredor, era estranho como do nada a decoração mudava naquele caminho: as paredes antes escuras com quadros melancólicos de paisagens de casas isoladas, em riachos e corregos em dias parados e sem nenhuma presença humana, agora eram tons de creme em um papel de parede bonito em detalhes dourados. Haviam quadros de retratos de pessoas da família de Cecília que Madalena nunca conheceu, e pinturas que retratavam dias cheios de bailes em lugares bonitos, com muitas pessoinhas expressivas e dançantes. Era nítido que a mudança de decoração na cara dura era para isolar ainda mais a parte onde ficava o quarto de Madalena, quando mudaram a decoração o tio já estava doente, e por ser um local estreito para a cadeira de rodas robusta, ele não pode ver como ficou a separação. Isso não incomodava tanto Madalena, entretanto não gostava de como era escuro próximo ao seu quarto ( ela temia levemente o escuro, sempre pedia a empregada manter lamparinas acesas).

Estava arrastando o pé dentro de meias e em uma bota menos apertada, entretanto ainda velha. Ela seguia a regra de vestimentas ao pé da letra, mesmo que os vestidos mostrassem bem os braços jamais usava decote, os pés sempre bem tapados (tinha uma vergonha absurda dos pés pela forma religiosa que tinha de ver o corpo). Mesmo que desejasse tanto um corpo belo, jamais seria tão exibicionista.

Logo chegou na saleta em tons de creme da frente da casa,era um cômodo que encontrava quem chegava do Jardim e do corredor do seu quarto. Viu a empregada chamando a prima para jantar, estranhou a hora; normalmente jantavam mais cedo, tinha ido na intenção de ver o tio (já que Chris disse que ele queria vê-la) entretanto não esperava que ainda teria jantar.

Esperou Claire e a empregada (Chris havia ido para a sala de jantar assim que a irmã o empurrou para dentro da casa, antes de Madalena chegar perto) sairem para poder se esguiar até a sala de jantar que ficava logo após a sala maior com escadaria, que tinha um conceito aberto (Onde viu a prima descer das escadas para ir jantar). Ao chegar a porta, sentiu o coração acelerar ao ver a família reunida.

-Boa noite a todos.- Cumprimentou nervosa, recebendo um boa noite de volta de todos que só era dado na presença do tio.

A sala de jantar era exageradamente grande, a mesa era tomada de objetos que nunca eram usados, tinha cortinas grossas e vermelhas tapando janelas grandes que o design não permitia abrir o vidro (o que as tornava inútil em um lugar que fazia tanto calor). Tinha um lustre empoeirado sem a devida atenção pela falta de empregadas para dar conta de todas as limpezas, e as fruteiras agora, antes cheias de frutas trazidas da região onde cresceu Cecília, viviam tomadas de maçãs e bananas, que eram o mais barato no povoado (quando não estavam vazias).

Na ponteira da mesa do lado direito estava a tia, o penteado exagerado denunciava duas horas de arrumação sem necessidade para o dia a dia, no rosto sempre o pó de arroz mas faltava o batom e decote (já que estava com o marido). Nos dois assentos do lado da mesa estava Chris e Marcus, o ruivo com um olhar pensante incomum e Marcus parecia cansado como sempre. Na outra ponteira da mesa estava o tio William, em sua cadeira de rodas com roupas leves e moles (Era um pijama confortável). Estava nele agarrada a filha Claire, que beijava-lhe a testa antes de se sentar ao acento de sua ocupação diária próxima ao pai.

Madalena seguiu manca até o tio, dando-lhe também um beijo na testa.

-Ah filha, não te vejo faz dois dias; o que aconteceu? Parece estar andando estranho.-Disse baixo com a voz embargada.

-Tropecei na chuva tio, não foi nada demais, por favor não se preocupe.- Madalena seguia ao seu lugar, enquanto a pobre empregada colocava nos pratos as refeições.- Apenas estou mancando porque a bota rasgou, acabou piorando a dor por isso.

-Ora, está usando aquela bota velha de novo?- O tio se forçou para ver, entretanto não conseguiu.- Pegue uma da Claire depois, ela ganhou muitas de presente não vai usar todas.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora