Capítulo 6

52 4 4
                                    

Novamente o vento chegava do sul, trazendo uma brisa fria que marcava o tênue da manhã quente para a tempestade que se formava. Estava chegando o inverno; Mas sempre havia o calor rotineiro de teimar em dar espaço para as nuvens grossas e escuras. O clima era muito ruim para as pessoas que tinham rinite; e por isso Madalena estava coçando intensamente o nariz. Enquanto o clima não se decidia ela se manteria assim.

Espirrava muito, porque o clima estava seco pelo sol e a umidade se formava aos poucos para chover durante a noite. Isso deixava seu quarto abafado, a água gelada do céu batia no telhado (a venda e Seu quarto não tinha laje como o resto da casa) e jogava o vapor quente do teto para baixo do quarto. Por isso ela deixava a janela aberta durante o dia, e durante a noite usava uma cortina fina apenas para tapar a visão do matagal (que ela tinha medo). Entretanto era impossível deixar as janelas trancadas. Ela desejava pôr grades, mas Marcus ou Chris nunca lembravam dos seus pedidos.

Ao passar no local que ela havia tropessado antes, tomou cuidado para não cair da mesma forma. Já estava observando a cerca do cemitério, e de longe a casa da senhora no qual ela tinha que lembrar de cobrar o que não foi pago no dia anterior. Deixaria isso para segunda.

Parou na entrada do cemitério. Era um local tomado de árvores, havia uma pequena cerca quase podre ao redor e não tinha nenhum tipo de porta para bloquear a passagem; o caminho para as lápides ficavam mais adentro e, se seguir até o final das lápides, ficava a entrada para o bosque de mata fechada. Segundo as lendas era lá nessa mata que o fantasma daquela mulher habitava, mas saía durante a noite para mais a frente. Madalena respirou fundo tentando ignorar contos, estava ali para rezar aos seus pais. Ironicamente podia contar nos dedos as vezes que já tinha ido lá; o tio a levava de vez em quando. Ao adoecer ela nunca voltou sozinha, William tentava fazer com que a sobrinha tivesse um sentimento pelos pais. Mas ela não entendia bem o que sentir, com a presença do tio não sentia tanta falta de pais. Porque o amava muito; Mas agora sentia uma intensa agonia. Fazia de tudo por ele, era a pessoa que ela mais se importava. E agora estava morrendo aos poucos, mas ela não aceitava isso por achar de alguma forma que era a protagonista da vida, a escolhida do mundo. Sentia que nada de tão horrível fosse acontecer a ela (isso não tinha haver com a religião). Era como se o mundo tivesse ao seu favor, Mesmo que ela não conhecesse nada de bom dele.

Madalena sempre foi paranóica; cismada. Andava pelos lugares olhando ao redor como um rato medroso. Sempre tinha de firmar que estava tudo absolutamente bem. Isso era causado pela ansiedade de estar sempre prestando atenção ao redor para que não zombassem dela (mesmo que ocorresse). Entretanto naquele dia específico, onde seu nervosismo estava pior, onde sua perna balançava incessantemente pela ansiedade que não a deixava e os espirros da rinite, não se deu o trabalho de fazer seus rituais paranoides; esqueceu de checar ao redor e de simplesmente olhar para trás.

Sorrateiro como uma raposa vermelha (e de fato parecia uma), Chris chegava perto da prima. Estava pensante desde a piada sem graça do amigo no dia anterior, e que parecia ter sido dita há meses depois de uma noite tão agitada. Do nada sua vida havia mudado; antes era o herdeiro do pai. Claro que o velho após adoecer havia perdido parte do que iria deixar. Marcus não era um bom administrador como o pai era, abriu demais os bolsos para os pedidos da mãe e da irmã. Gastaram tanto em bobagens que logo faltou dinheiro para pagar os funcionários, então em quatro anos a demissão em massa chegou como um chute na cara. E agora todas as jóias e vestidos que a mãe havia comprado, se amontoaram no baú de roupas. Mofando, pois não tinham onde serem usados, porque não havia verba para ser gasta em passeios como Willian fazia.

Agora tudo que restava era juntar os cacos do desfalque de um comércio que se formava desde o trabalho de seus avós. Só restava a loja e a casa, e ainda haviam partes para serem reformadas. Sem dinheiro para isso. E agora além de trabalhar, teria de viver sabendo que não tinha mais nada para o proteger. Não era mais "um dos donos". Era apenas um parente preguiçoso que Marcus já planejava substituir por alguém que realmente trabalhasse.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora