Capítulo 11

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A brisa fria da noite estava formando uma névoa levemente densa, que passava entre as calçadas e os vãos dos becos das casas dos moradores. Era comum nas noites antes do inverno, onde o clima permitia tal fenômeno. Normalmente essa hora Madalena já estaria em casa, entretanto foram tantas as coisas que havia passado nos últimos dias, ainda não lhe caía totalmente a realidade da partida de seu tio, a tia estava louca e descontrolada devido os documentos da casa. Quando Madalena chegou nos braços de Christopher no dia que William morreu, ouviu-a dizer como as coisas mudariam a partir daquele dia. Era praticamente um milagre que não tenha a expulsado naquela noite mesmo. Talvez tenha ficado ocupada demais consolando Marcus e Claire para pensar nela.
E também tinha Chris; Madalena estava horrorizada só de pensar nele. Não sabia como ainda foi capaz de trocar palavras no enterro do tio, ainda não compreendia o que havia acontecido com ele. Não queria entender, apenas não queria que a tocasse de novo. Nunca havia se sentido tão enojada, surgia em si um absurdo mal estar no estômago quando o via.

Entretanto apesar de tudo quando devia estar isolada, pensando em como resolver os problemas de sua simples existência na casa da tia (que na verdade agora era dela). Madalena estava fora de casa tão tarde, muito assustada. Ao ajudar uma estranha se deparou com uma sombra de forma esquisita e alta encostada na árvore.
Madalena piscou duas vezes muito impressionada ao ver aquilo, recuando-se para trás com a muleta.

-Irmão! Está pior?- Disse Ozella, correndo para a figura alta encostada na árvore. Iluminando o local com sua lamparina prateada a gás. Fazendo Madalena coçar os olhos muito confusa.

Acontece que a sombra que Madalena havia visto era um enorme casaco escuro, escorado em um galho da árvore. A visão da garota estava muito ruim devido ao choro dos últimos dias, jurou que havia visto uma espécie de assombração novamente. Entretanto era apenas um casaco, que a fez sentir muita raiva instantaneamente devido ao susto que havia levado.

- Não tem ninguém!- Madalena disse muito aborrecida. Estava se preparando para ir embora, enquanto a mulher chegava mais perto do casaco, e olhando atrás da árvore.

-Está aqui!- Ozella disse com preocupação ao olhar atrás da enorme árvore de carvalho.-Donatello, o que faz aí?- disse sem obter respostas e Madalena observou-a erguer um homem, pondo o braço dele ao redor de seu pescoço (Devido a isso Madalena não conseguiu enxergar nada além do cabelo castanho dele). Estranhamente ela não parecia ter dificuldade em carrega-lo, mesmo que ele parecesse muito maior e forte que ela (Madalena estranhou já que a mulher disse que teve dificuldade em trazê-lo).

- Traga-o mais para cá.- Madalena disse ainda recuada. Olhou para o jardim da sua casa de relance (já que era possível ver uma pequena parte) para observar se alguém saía, entretanto não viu ninguém.

- Ele está mal!- Reclamou mulher, muito indignada pela frieza de Madalena.

Antes que alguém pudesse dizer algo a mais figura do homem se mostrou, ergueu a cabeça em um momento que a lua clareou mais a noite (algo quase sobrenatural, já que a noite estava nublada até então), para mostrar os traços atraentes, porém estranhos que Madalena jamais viu em um homem. Tinha o maxilar em formato mais redondo e o nariz idêntico ao de Ozella (o que o deixava com um aspecto levemente feminino). Os cabelos castanhos levemente ondulados estavam soltos, caindo na parte da frente dos olhos até a altura da bochecha (parecia que eram constantemente amarrados, entretanto naquele momento não era dado atenção suficiente a isso). Tinha olhos claros, porém não tanto quanto Ozella. Pareciam um azul mais profundo, mas ainda eram estranhamente brilhantes. Em seu rosto não havia sinais de barba ou pelos (pelo que Madalena pode enxergar). O que mais causou estranheza era as sobrancelhas claras, que não eram escuras como o cabelo. Ele tinha uma calça escura cheia de padrões (que ela só pode enxergar devido ao brilho reagindo com a luz da lamparina) em azul marinho, e algum tipo de lenço na blusa branca que era coberta de botões até o colarinho. Não fazia sentido ele estar sem o casaco, a blusa era fina comparada ao frio da madrugada. Não parecia que o protegia do frio.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora