Capítulo 3

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O quarto pequeno era localizado na parte afastada dos quartos principais; era no corredor que conectava a venda para a casa. Entretanto eles tinham que usar outra entrada; a do quintal do lado esquerdo que tinha visão para um caminho que não usavam no vilarejo para a igreja (era de Mato alto que ninguém se atrevia a limpar). Porque em algumas partes do corredor tinha infestações de ratos por buracos nos assoalhos, que Marcus tinha mandado fechar aquela parte com madeira na esperança de não se espalhar para a loja. Claro que nenhum cliente sabia disso, mas em nada causava incômodo a família. Isso é, eles tinham que sair e dar a volta para irem em outra entrada das três que a casa tinha (porque Cecília não gostava que usassem a principal pelo jardim depois de saírem da venda) e era isso que Chris estava fazendo. Para levar Madalena para o quarto.

-Aqui está bom, posso ir sozinha.- Disse ela quando chegaram porta do quarto, no corredor iluminado de velas.

-Deixe de ser mal agradecida, ora essa! - Chris se irritou.- Estou só lhe ajudando, se está machucada meu pai vai encher o saco. Quer que ele piore? Então, aceite a ajuda.

Madalena se calou e abriu a porta para que adrentassem, se sentiu desconfortável com alguém entrando lá assim do nada. Tinha tempo que não recebia ninguém ali, há uns anos o tio sempre vinha para lhe dar boa noite ou levar alguma sobremesa, já agora de tempos em tempos quem vinha era a empregada para fazer uma limpeza. Isso era tudo.

Chris a pôs sentada na cama de solteiro, e deu uma olhada ao redor. O quarto era bizarramente pequeno comparado ao dele e dos irmãos, tinha uma pequena janela de vista a rua tapada por uma cortina um pouco fina, pelúcias e bonecas de porcelana em todos os cantos, prateleiras tomadas de livros eram misturadas com imagens de Santos e havia três crucifixos na cabeceira da cama. Tinha uma penteadeira no mínimo três vezes menor que a de Claire, e era marrom de modelo antigo (a da irmã dele era branca com dourado). Acima tinha uma bíblia e algumas besteiras femininas que não se deu ao trabalho de prestar atenção.
Do lado da cama tinha uma mesinha com uma imagem de Nossa Senhora virada para o lado esquerdo, uma caixa de música e uma flauta ( ela tentava tocar para fazer parte do grupo musical da igreja) Mas o que lhe chamou atenção foi o livro aberto acima dele, conhecia aquela capa: sempre ria com os amigos tentando imaginar as coisas melosas  que eram escritas naqueles diários, que estavam sendo vendidos popularmente no povoado entre as moças recentemente. Teve um pensamento de estranheza, sobre a prima escrever algo assim. Tinha em mente que era algo de moças bonitas que escreviam seus caprichos e sonhos com homens que amavam; o que alguem como ela escreveria em um diário?

Na mesma hora se contrapensou, porque ela não o faria? Ainda era uma mulher como qualquer outra. E esse pensamento o deixou com uma sensação estranha.  Moravam na mesma casa mas nunca tinha pensado nela assim, eles quase não se viam e ela era como um objeto do lugar. Na infância eles brincavam algumas vezes, mas nunca foram próximos, e a presença dela se perdia na casa grande, na separação dos gêneros, no estilo de vida diferente. Por um momento repensou o que planejava, sentindo desgosto.

Vendo Chris encarar tanto o diário (que estava aberto de capa para cima), Madalena ficou encabulada.

-Ora, o que está olhando! Já pode sair! -Reclamou. Sentia a face pinicar, ainda mais quando ele tinha reparado nas suas coisas pessoais. Madalena era muito vergonhosa, não necessariamente pela companhia masculina, mas sim por sentir vergonha de si mesma. Tinha pensamentos estranhos sobre não ter "direito" de fazer algo porque não combinava com seu perfil.

- Não precisa ter vergonha. -Riu olhando ainda os detalhes do quarto.- Eu Também estou tentando um diário

-Mas não me importa, por favor só saia daqui. Quero que me trocar!

Chris deu meia volta para sair para a porta, sentiu mal humor por ter feito tanto em troca de nada. Madalena era uma maldita arisca! Antes de sair hesitou por uns instantes. Se perguntou se devia oferecer ajuda para buscar uma bebida quente. Entetanto balançou a cabeça indo embora. Isso já era demais para alguém como ela. Não valia tanto esforço.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora